Ucrânia: população vota em referendo no leste
A votação, que a Ucrânia e o Ocidente rejeitam como ilegal, busca a aprovação da população para a declaração de autoproclamadas repúblicas populares soberanas nas regiões de Donetsk e Luhansk, onde os rebeldes tomaram prédios do governo e entraram em confronto com a polícia e as tropas ucranianas ao longo do último mês.
O presidente interino da Ucrânia, Oleksandr Turchynov, disse que a independência de áreas no leste ucraniano destruirá a economia do país. "Este é um passo para o abismo para as regiões", salientou Turchynov, em comentários postados no site da Presidência no sábado.
Os locais de votação abriram abriram às 8 horas (2h de Brasília) e fechariam às 10 horas (16h de Brasília). Organizadores do referendo disseram esperar um alto comparecimento às urnas. Houve relatos de confrontos esporádicos, mas a calma predominou na maioria das áreas das duas cidades, que, somadas, têm uma população de 6,5 milhões de pessoas, enquanto a votação era realizada.
Enquanto isso, insurgentes na cidade de Sloviansk, que tem visto alguns dos confrontos mais violentos entre militantes pró-Rússia e forças do governo nas últimas semanas, trocaram tiros com as forças ucranianas no entorno da cidade durante a noite. O Ministério da Defesa da Ucrânia informou que um soldado do Exército foi ferido em um ataque com morteiros perto da torre de TV de Sloviansk. A situação na cidade e porto de Mariupol, no Mar de Azov, continuou tensa após os confrontos de sexta-feira, nos quais pelo menos sete pessoas morreram.
Autoridades eleitorais disseram que mais de 30% dos eleitores votaram nas três primeiras horas de votação. Com nenhuma missão de supervisão internacional como observadora, confirmar tais afirmações pode ser impossível. Em um posto de votação em uma escola em Donetsk, havia pouco movimento na primeira hora do referendo. Todos os votos que podiam ser vistos nas urnas claras mostravam que a opção pela autonomia tinha sido selecionada. Embora as autoridades eleitorais em Donetsk disseram estar convictas de que o comparecimento será alto, parece provável que a maioria dos que se opõem à autonomia irá se recusar a participar.
Muitos dos que votaram afirmaram esperar que a votação ajude a estabilizar a situação. "Eu não tenho palavras para expressar o que está acontecendo em nosso país", disse Liliya Bragina, de 65 anos. "Eu vim para que haja estabilidade, para que então possa haver paz." O chefe do posto de votação, Andrei Mamontov, disse estar convicto de que a votação seria justa e não seria maculada por falsificações. "Neste posto de votação, tudo ficará bem, mas não posso falar por outros", afirmou. "Preparamos tudo, assinamos tudo, fizemos todas as checagens - tudo deve ser legítimo e limpo."
Mas em Spartak, uma arborizada aldeia localizada na margem norte de Donetsk, os moradores não puderam votar por cerca de três horas depois de aberta a votação porque os funcionários eleitorais não conseguiam trazer a urna. Depois de algumas discussões entre a população local e o chefe do conselho da aldeia, um organizador do referendo chegou com uma urna de votação grosseiramente formada a partir de caixas de papelão e selada com fita. A maioria dos presentes disse que votaria a favor da autonomia e contra o governo interino. Uma delas relatou que não participaria das eleições presidenciais nacionais marcadas para 25 de maio. "Eu não concordo com o que está acontecendo no país. E quero ver algumas mudanças para melhor. O que ocorrerá em 25 de maio não é honesto, verdadeiro ou em nosso melhor interesse. E é por isso que estou votando hoje", disse Irina Zelyonova, de 30 anos.
As cédulas organizadas às pressas são semelhantes às do referendo de março na Crimeia, que aprovou secessão da Ucrânia. A Crimeia foi formalmente anexada pela Rússia dias depois. Mas organizadores da votação deste domingo afirmam que apenas após o resultado da votação uma decisão será tomada se a região usará a sua soberania nominal para buscar total independência, ser anexada pela Rússia ou continuar parte da Ucrânia, mas com maior autonomia. Fonte: Associated Press.
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