Após "referendo", leste da Ucrânia busca anexação à Rússia

16:23 | Mai. 12, 2014

Depois de resultado de controversa votação mostrar que maioria da população quer se separar da Ucrânia, líderes de Donetsk e Lugansk dão passos para buscar a integração ao território russo. Moscou, porém, se distancia. Um dia após grupos separatistas anunciarem que a grande maioria da população do leste da Ucrânia quer se separar do resto do país, resultado de um controverso referendo não reconhecido pelos países ocidentais, as regiões de Donetsk e Lugansk anunciaram nesta segunda-feira (12/05) sua independência. Em seguida, líderes insurgentes agora pedem que Moscou anexe as regiões ao território russo. "A população de Donetsk sempre fez parte do mundo russo. Para nós, a história da Rússia é nossa história", afirmou Denis Pushilin, líder da autodeclarada República Popular de Donetsk, em uma entrevista coletiva. Os separatistas dizem que, na região, 89% da população votaram a favor da independência. "Com base no desejo da população e na restauração de uma justiça histórica, pedimos à Federação Russa que considere a absorção da República Popular de Donetsk". Segundo a agência de notícias russa RIA, um líder da também autoproclamada República de Lugansk deve realizar uma segunda votação, desta vez para consultar a população sobre a junção com a Rússia. Na região, de acordo com a agência, 96,2% da população concordaram com a separação. Considerada ilegal pelo governo ucraniano, pelos Estados Unidos e pela União Europeia, a consulta popular realizada no domingo não questionou sobre uma anexação da região à Rússia a exemplo da península da Crimeia, que há dois meses passou a responder ao Kremlin após a realização de um referendo semelhante. Rússia nega interesse A Rússia, porém, nega qualquer interesse em anexar o leste da Ucrânia ao seu território. No entanto, nas últimas semanas Moscou enviou tropas militares para a região da fronteira e Kiev teme que, com apoio da população de maioria pró-russa, os soldados ocupem áreas ucranianas. "Moscou respeita a expressão do desejo das populações de Donetsk e de Lugansk. O resultado da consulta agora precisa ser implantado de maneira civilizada e sem mais violência, por meio de diálogo entre o governo de transição em Kiev e os separatistas pró-Rússia", afirmou o Kremlin. Os países ocidentais acusam os russos de estimular os movimentos separatistas na região e financiar o referendo a fim de desestabilizar a Ucrânia, cujo governo interino vem se aproximando da UE. O presidente ucraniano, Olexandr Turtchinov, disse que o Kremlin tem como intuito impedir a realização das eleições presidenciais marcadas para o dia 25 próximo. Ele chamou a consulta popular de "farsa sem respaldo legal". Mais sanções A Rússia criticou nesta segunda-feira a decisão da União Europeia de ampliar as sanções contra Moscou por conta do impasse na Ucrânia. O Kremlin ainda pediu aos europeus que respeitem o resultado do referendo no leste da Ucrânia e que promovam o diálogo entre Kiev e os separatistas. Após encontro dos ministros europeus do Exterior em Bruxelas, a UE resolveu ampliar as sanções contra envolvidos no conflito na Ucrânia. Além de incluir 13 pessoas em sua lista de vistos negados e bens congelados (as identidades não foram reveladas), o bloco impôs, pela primeira vez, restrições a duas empresas na Crimeia recentemente nacionalizadas pela Rússia. O bloco afirmou ainda que sanções mais duras podem ser impostas caso "ações e provocações" dificultem a campanha para as eleições presidenciais ucranianas. Os europeus prometeram acompanhar "com atenção" as atitudes e o comportamento de todas as partes envolvidas na crise para a realização de eleições "livres e justas" na Ucrânia. As medidas adotadas pela UE, porém, ainda não menos impactantes do que as adotadas pelos EUA, que anunciaram restrições a pelo menos 17 empresas. A reticência do bloco em aplicar sanções contra a Rússia se deve em parte à forte dependência de energia vinda do país para alguns Estados-membros. Outros temem que as medidas prejudiquem suas economias em recuperação. Na tentativa de uma solução diplomática para a crise, os europeus se propuseram a intermediar o diálogo entre Kiev e rebeldes na região. A Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) está organizando uma série de encontros e discussões entre as diferentes forças políticas na Ucrânia, que devem começar ainda nesta semana.