Malineses saúdam militares franceses, mas temem agravamento do conflito
13:29 | Jan. 23, 2013
No sul do Mali, a aprovação à ação militar da França continua inabalada. Mas para muitos está claro que a missão militar não resolve todos os problemas. E ninguém quer uma guerra longa.
Há quase duas semanas, a bandeira azul, branca e vermelha é um sucesso de vendas na capital do Mali, Bamaco. "Estas são as bandeiras da intervenção da França", diz o jovem Mama Lah, agitando o símbolo francês para lá e para cá. Como outros rapazes, Lah saúda a intervenção da ex-potência colonial. "Nós celebramos a presença dos franceses porque eles lutam contra os rebeldes no norte do país."
Além disso, para o jovem, a ofensiva militar é um bom negócio: ele vende bandeiras nas ruas de Bamaco. "Eu vendo em média entre 20 e 30 bandeiras por dia." Francesas, é claro. O lucro com bandeiras malinesas não é tão bom, apesar de o Mali ter recentemente ganhado o primeiro jogo da Copa das Nações Africanas.
"Vive la France!"
Passadas quase duas semanas do início da ofensiva militar francesa no norte do Mali, a aprovação à presença dos militares estrangeiros continua inabalada em Bamaco. Os estrangeiros são recebidos com as palavras Vive la France sejam eles franceses, alemães ou norte-americanos. Pois é grande a esperança de que a intervenção possa dar um fim às atrocidades no norte do país.
Isso é o que também espera a malinesa Oumou Traoré, de 34 anos. Ela vem de Gao, no nordeste do Mali, e se refugiou há algumas semanas em Bamaco. Ela não gosta de recordar os últimos meses em sua terra natal. "Eu vi muitas coisas no norte. Bandidos armados que violentaram mulheres e que roubaram tudo o que elas tinham", conta.
Traoré hesita ao responder a pergunta se ela própria foi estuprada. Então, balançando a cabeça, a mãe de duas crianças diz, quase sussurrando, que teve sorte. "Mas os islamitas voltaram repetidamente. E também os membros do Movimento Nacional de Libertação do Azawad. Eles estavam mascarados." Para ela, o pior foi o fato de nenhuma mulher poder dar queixa na polícia. Porque "eles estão por toda parte, não existe mais governo."
O Exército malinês tem de lutar contra tudo isso, junto com as tropas francesas e os 3,3 mil soldados da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Cedeao). Também o Chade, que não faz parte da Cedeao, pretende enviar 2 mil soldados.
Diversos países europeus, inclusive a Alemanha, prestam apoio logístico. E as primeiras vitórias já estão sendo anunciadas pelo lado francês. Mas não se pode avaliar a partir de Bamaco, no sul do país, se realmente as forças invasoras foram expulsas de cidades ferozmente disputadas, como Konna e Diabaly.
Medo de uma guerra longa
Por esse motivo, observadores já alertam sobre a possibilidade de uma longa guerra. "É justamente isso que os malineses não querem. Hoje é certo que eles aplaudem o Exército francês. Mas eles são contra longas batalhas", diz Alassane Dicko, da Associação dos Refugiados do Mali, que cuida dos refugiados do norte do país.
Para Dicko, além da intervenção militar, deve haver um diálogo obrigatório. Pois mesmo se os islamitas e terroristas forem expulsos do norte, nem todos os problemas estarão automaticamente resolvidos. No norte do Mali, por exemplo, nos últimos 22 anos, sempre houve rebeliões da população tuaregue, que se sente desfavorecida há décadas. "Esse problema tem de ser enfrentado", considera Dicko.
Para chamar a atenção para essa questão, a Associação dos Refugiados do Mali planeja uma caravana em favor da paz no país. A passeata deve também prestar homenagem a todos aqueles que já morreram na guerra e sentiram na própria pele a violência seja ela qual for. Ainda não se sabe quando essa manifestação deverá acontecer, pois, no momento, seria muito perigoso.
Linhas de telefone mudas, estradas bloqueadas
Traoré tem outras preocupações. Seu irmão mais velho ainda vive com a família em Gao. Mas ela não sabe como ele está. Há dias ela não tem notícia dele e não tem como falar com ele por telefone. "Há quatro ou cinco dias isso não é mais possível, os bandidos cortaram todas as linhas."
A malinesa tenta sorrir, mas não consegue esconder sua preocupação. "Eu temo muito pela minha família que ainda está lá. Eu disse a eles que deveriam vir, mas não é possível. As estradas estão bloqueadas", lamenta. Traoré espera agora que sua família possa chegar a Bamaco passando pelos países vizinhos Níger e Burkina Faso.
Autora: Katrin Gänsler (ca)
Revisão: Luisa Frey