Canindé: sem chuvas, moradores reclamam da suspensão do serviço de carros-pipa
Moradores de Canindé reclamam da suspensão dos serviços da Operação Carro-Pipa. O Município está há semanas sem chuvas
Moradores de Canindé, município localizado a 118 km de Fortaleza, solicitam a retomada da suspensão dos serviços da Operação Carro-Pipa (OCP). O programa do Governo Federal, garante o abastecimento emergencial de água potável em áreas atingidas pela seca, foi suspenso em março.
Com a interrupção do serviço, famílias estão ficando sem reservas de água suficientes para trabalhar, higiene pessoal, afazeres domésticos e até para o consumo diário.
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Uma das impactadas é a agricultora e dona de casa Sandra Regina Alves, 59, moradora do Assentamento 27 de Dezembro, na localidade rural conhecida como Jacurutu. Ela explica que as chuvas no Município têm ocorrido de forma espaçada.
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“Aqui o inverno ainda não chegou de verdade. Essa noite, [madrugada de segunda-feira, 7] por exemplo, choveu bem pouquinho. Uma neblina que nem chegou a molhar o chão. Às vezes passa de dez, 12 dias sem cair uma gota. A terra está seca”, relata.
Ela conta que não tem água encanada em casa, precisando recorrer a cisternas para armazenar a água da chuva. “Aqui [terreno] são duas casas. Numa moram meu sogro e minha sogra. E na minha casa moro eu, meu marido e meu filho. Todos nós dependemos da operação Carro-Pipa. A cisterna está com bem pouquinha água”, diz.

Segundo a moradora, diversas pessoas da comunidade precisam da agricultura como modo de subsistência. “Tem muita gente passando por isso, as cisternas estão quase todas vazias”, conclui.
Já Francisco Alexandre Marreiro Brasilino é um apontador [função de liderança] do Assentamento Alegre, localizado na região de Targino. Ele conta que há mais de três semanas não caem chuvas significativas na região.
“Nem a água da chuva eu posso contar, porque não dá pra passar o verão todo com ela. Sou pai de uma criança que tem microcefalia. Foi preciso comprar uma ‘carrada’ d’agua”, conta. “A cisterna quase seca, esperando a água do Exército. A gente não pode ficar de braços cruzados, a gente precisa de providências”.
Conforme dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), as chuvas em Canindé têm mostrado variações expressivas. Em março, o posto da localidade de São Bernardo registrou 199,4 mm, seguido por Baixa Fria com 197 mm, a sede de Canindé com 132,4 mm e Esperança com 127,4 mm.
Já em abril, até esta segunda-feira, 7, as médias de precipitações têm sido bem menores, com o posto São Bernardo registrando 27,4 mm, a sede de Canindé 13 mm, e ambos os postos Esperança e Baixa Fria apresentando 0 mm.
A análise da Funceme é baseada na média de precipitação acumulada durante todo o mês, dividida pelo número de dias do período. Assim, dependendo do volume de chuva nos dias restantes, essa média pode diminuir ou aumentar.
Por que Canindé está sem o serviço da Operação Carro-Pipa?
A execução da OCP é conduzida pelo Exército Brasileiro, com acompanhamento e coordenação da Defesa Civil municipal, responsável também pelo cadastro de novas famílias que necessitam dos serviços.
Conforme Eufrázio Batista, coordenador da Defesa Civil de Canindé, a suspensão da OCP no Município ocorreu oficialmente no último dia 4 de março. “O Exército esteve em Canindé com sua equipe de fiscalização e visitou algumas localidades. Nessa época, havia ocorrido chuvas intensas em muitas dessas áreas, e os reservatórios atendidos pelo carro-pipa estavam com bastante água armazenada”, explica.
Diante disso, o Exército orientou a Defesa Civil a solicitar a suspensão temporária da operação por 60 dias, com o objetivo de avaliar se as chuvas continuariam. “O problema é que, logo depois disso, o tempo mudou novamente, e parou de chover. As comunidades começaram a solicitar o retorno da operação, porque estão precisando do abastecimento”, relata.
Segundo o coordenador, no dia 26 de março foi formalizado o pedido para retomar a Operação Carro-Pipa em Canindé para atender 19 localidades que encontram-se em situação de estiagem:
Jacurutu III, Jacurutu Asfalto, Ipu Monte Alegre, Jacurutu/Estreito, Assentamento 27 de Setembro, Jacurutu - Alto do Bonito/Can Rural I (São Luís), Alto do Bonito/Can Rural II (São Luís), Caiçara I (São Luís), Fazenda Fundões Esperança, Aldeia do Feijão, Assentamento Todos os Santos II/Trindade II, Vila Medeiros, Iguaçu Sede, Carnaúba dos Arrudas, São Joaquim III, São Joaquim, Assentamento São Francisco, Suíça II (Assentamento Renascente de Canudos) e Campos.
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Agora, o município aguarda uma nova visita do Exército para realizar uma nova inspeção nas localidades e, a partir dessa avaliação, decidir sobre o retorno do abastecimento. “A decisão final cabe ao Exército”, destacou Eufrázio Batista.
De acordo com ele, ao todo, cerca de 127 localidades eram atendidas pela Operação Carro Pipa, beneficiando por volta de 4.800 pessoas.
Quando o serviço será retomado?
O POVO entrou em contato com o Comando da 10ª Região Militar do Exército, sediado em Fortaleza. Por telefone, a assessoria de comunicação do órgão declarou que recebeu o ofício enviado pela Defesa Civil e que, na próxima quarta-feira, 9, enviará uma equipe para Canindé para avaliar a situação.
A decisão dependerá da avaliação dessa equipe. Se a situação emergencial for confirmada, a suspensão temporária da OPC será revogada.
A Prefeitura de Canindé também informa que, em conjunto com secretarias como a de Infraestrutura e o SAAE, "estuda soluções estruturantes para o problema do desabastecimento hídrico, com foco em alternativas de longo prazo. Ressaltamos que a Operação Carro-Pipa é uma medida emergencial e paliativa, que não substitui investimentos permanentes em abastecimento e infraestrutura hídrica", disse em nota.