Usuários questionam tempo mínimo de semáforos para pedestres em Fortaleza

Usuários questionam tempo mínimo de semáforos para pedestres em Fortaleza

Equipamentos consideram que transeuntes mantém velocidade de pelo menos 1 metro por segundos durante travessias; usuários com mobilidade reduzida afirmam que tempo não é suficiente

Com um veículo para cada 1,98 habitante, a disputa por espaço no trânsito com os automóveis se torna um tanto quanto desleal para quem anda a pé em Fortaleza. Para ajudar nessa “briga”, os semáforos para pedestres estão dispostos pela Capital como forma de garantir aos transeuntes uma passagem segura entre uma multidão de carros, motos, caminhonetes e outros.

Entretanto, essa travessia nem sempre é tranquila, já que em diversos pontos da cidade, o tempo garantido pelos semáforos para a travessia é demasiadamente curto.

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O POVO visitou trechos em Fortaleza que possuem a ferramenta, e cronometrou locais como o cruzamento entre as avenidas da Universidade e 13 de Maio, onde o tempo para a passagem de pedestres é de 30 segundos, em uma faixa de 30 metros (m).

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Em teoria, esses 30 segundos são suficientes para chegar de uma esquina a outra, principalmente em cruzamentos com faixas em X, já que de acordo com o Manual Brasileiro de Sinalização Semafórica, a velocidade de passo dos pedestres usada para o cálculo do tempo dos semáforos é de 1,2 metros por segundo (m/s).

Entretanto, para pessoas com mobilidade reduzida, esse tempo se torna insuficiente, e a travessia, perigosa. Nesses casos, transeuntes como Luís Carlos de Lima, 57, que têm problemas para locomoção causados por um Acidente Vascular Cerebral (AVC), precisam improvisar para garantir a própria segurança durante o tráfego.

“Às vezes, tenho tempo para ultrapassar, às vezes não. Em X não dá, não tem como. É só pela faixa de pedestres [paralela] mesmo. Eu faço o L para acompanhar a faixa de pedestres”, comenta o usuário, que prefere esperar mais e usar as faixas nas extremidades do que arriscar atravessar nas faixas transversais.

Quem também sobre com essa celeridade das passagens são as Pessoas Com Deficiência (PCDs). Com necessidade de mais tempo para driblar desníveis entre a pista e a calçada, buracos, poças de lama, além da própria dificuldade de locomoção, essas pessoas enfrentam riscos a cada travessia.

Esse cenário só piora em uma metrópole com quase 1,3 milhão de veículos, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran). Quem vem de fora, como Eugênia Arruda, 28, se impressiona negativamente com o ritmo acelerado na Capital.

“É bem complicado. Assustador! É tudo muito rápido. Tem sempre que ir com muita agilidade e aí se torna meio arriscado”, conta a estudante natural de Pentecoste, município a 91 quilômetros (km) da Capital.

Até mesmo quem é jovem e está em perfeitas condições de locomoção, sente que o tempo nos semáforos para pedestres poderia ser maior. Entre estes está Sheldon Campos, que diariamente passa pelo cruzamento entre as avenidas Santos Dumont e Desembargador Moreira, no bairro Aldeota.

O trecho possui uma faixa em X com 14 m de comprimento, a qual precisa ser atravessada em, no máximo, 25 segundos.

“Se você já estiver esperando, sim [dá tempo de atravessar]. Geralmente quando ele abre ou fecha você ainda está fazendo a travessia na calçada, então acaba se tornando insuficiente. Acho que poderia ser um tempo maior, porque as ruas acabam sendo projetadas para os carros e não para os pedestres”, pontua o assistente administrativo.

Para determinar o tempo em verde de um semáforo, a autoridade municipal deve seguir as recomendações de órgãos como o Conselho Nacional de Trânsito. Entretanto, devido às diferentes realidades encontradas nas metrópoles, as autarquias e pastas de trânsito têm liberdade para adaptar essas orientações ao cenário com que lidam.

Para o doutor em Engenharia de Transportes Flávio Cunto, essas condições de travessia podem ser alteradas mediante o número de idosos ou pessoas com mobilidade reduzida que frequentam aquela via. Essa constatação dá a autonomia para o órgão municipal adequar a sinalização da via para essa passagem e o tempo mínimo de cada semáforo.

“Vamos imaginar que a gente tem uma determinada região da cidade onde eu veja claramente uma predominância de pessoas idosas. A gente tem autonomia tanto para mexer naquela velocidade [de travessia], quanto para mexer nesse tempo mínimo de verde”, explica o docente da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Segurança no trânsito deve acompanhar o envelhecimento da população

Com o passar dos anos, a população de Fortaleza tem envelhecido. Isso fica evidente se compararmos o número de pessoas acima dos 60 anos nos dois últimos Censos Demográficos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizados nos anos de 2010 e 2022.

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Há 15 anos atrás, o número de idosos em Fortaleza era de 237.775 pessoas, enquanto nos dados mais recentes indicam 365.976 pessoas acima dos 60 anos. Com esse aumento, o número de idosos em atividade nas vias públicas também é impulsionado, e estando nas ruas, eles também se tornam usuários dos semáforos para pedestres.

Esse uso contínuo obriga a cidade a pensar em formas de garantir a segurança desse público cada vez mais participante na cidade. Para isso, é preciso considerar as particularidades dessa faixa etária, como a perda de agilidade e profundidade na visão com o passar dos anos.

“A questão do idoso não é só a mobilidade, mas também a acuidade visual, que diminui e a auditiva também. Existem estudos para que a gente reveja o tamanho dos ícones, da luz dos semáforos, a questão podotátil ao redor da interseção, para que os idosos, deficientes visuais e auditivos possam sentir melhor o ambiente”, comenta Cunto.

Crescimento da população idosa em Fortaleza 

Em Fortaleza, essa acessibilidade é implementada através da iluminação e da sinalização sonora nos semáforos. De acordo com a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), cerca de 80% dos equipamentos que existem na cidade são dotados de sons que indicam para deficientes visuais e pessoas com baixa visão os pontos onde atravessar e quanto tempo falta para o sinal fechar.

Além dela, um tempo de travessia menor é implementado no cálculo para definir o tempo que o semáforo ficará aberto. Enquanto a recomendação nacional é de 1,2 m/s, a adotada na Capital é de pelo menos 1 m/s, como pode ser observado no cruzamento entre 13 de maio e avenida da Universidade, onde os pedestres têm 30 segundos para atravessar 30 metros.

O que diz a prefeitura

Questionada sobre as demandas dos pedestres, de curto tempo para realizar o trajeto completo, a AMC afirmou que atua dentro das normas nacionais de trânsito, mas que está sempre aberta para o diálogo com a população.

Eventuais solicitações para instalação de semáforos para pedestres, bem como questionamentos sobre o tempo em que estes ficam abertos podem ser enviadas à Gestão Municipal através dos canais de comunicação da AMC, da via oficial de contato da Prefeitura, o Fala Fortaleza, bem como as regionais.

“A gente realmente recebe demandas da população. Às vezes a população sente essa dificuldade e a gente até pede que a população possa fazer essa solicitação. E nós fazemos vistorias. Temos uma rotina de vistorias nos lugares semaforizados para avaliar essas demandas”, explica o coordenador da Central da Mobilidade para Preservação de Vidas no Trânsito da AMC, Lélio do Vale.

A pasta também afirmou que utiliza critérios como o tráfego de veículos e o número de acidentes com pedestres em uma via para definir a instalação e o tempo mínimo dos semáforos. Além desses, o tempo que uma pessoa espera para conseguir atravessar uma rua ou avenida a pé também pode justificar a instalação de um equipamento.

A AMC ainda esclarece que a diferenciação dos tempos mínimos dos semáforos ocorre principalmente pela distância a ser percorrida em uma travessia e pela intensidade de carros e pedestres diários no trecho. Além disso, há casos como o do cruzamento das avenidas Domingos Olímpio e Senador Pompeu, onde é aplicado o chamado “Semáforo de Carona”.

No local, o tempo em verde nos semáforos para pedestres é de 1 minuto e 15 segundos, mesmo com uma passagem de apenas cinco metros. Isso ocorre porque os carros que trafegam na Domingos Olímpio não entram na avenida, ou seja, quando o trânsito está parado para a Senador Pompeu, não há risco de atropelamentos vindo da via transversal.

Desse modo, ao invés de um período exclusivo para os pedestres, o semáforo para os transeuntes pega uma “carona” no equipamento de sinalização para os carros, abrindo e fechando ao mesmo tempo que este. Como o período para a passagem de carros é maior, os pedestres acabam sendo beneficiados nesse trecho.

Serviço

Canais de comunicação da Prefeitura 

Telefone "Fala Fortaleza": 0800 285 0880

Whatsapp da AMC: 9 8814-8300

E-mail: ouvidoria@amc.fortaleza.ce.gov.br

Portal da AMC: https://amctransito.com.br/#online

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