Julgamento de PM acusado de matar adolescente é marcado por protesto de mães

Julgamento de PM acusado de matar adolescente é marcado por protesto de mães

O julgamento teve início nesta quinta-feira, 27, e há previsão de que a setença seja definida na sexta-feira, 28

Familiares de Paulo Vitor Oliveira e entidades da sociedade civil, protestaram em frente ao Fórum Clóvis Beviláqua, em Fortaleza, na manhã desta quinta-feira, 27. A manifestação pedia justiça em relação ao homicídio do estudante Paulo Vitor, de 16 anos.

O policial militar Ricardo Lucas Góes Jucá é apontado como responsável pelo disparo que atingiu o adolescente no dia 24 de junho de 2022, no bairro Mondubim. O julgamento de Ricardo começou nesta quinta-feira, 27, e deve ter a sentença definida nesta sexta-feira, 28

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O agente de segurança estava de serviço com uma equipe policial no dia da ação e se tornou o único réu pelo crime. O júri estava marcado para começar às 9 horas desta quinta, porém só começou por volta das 11 horas.

De acordo com a família da vítima, o adolescente estava a caminho de um mercadinho para comprar uma pasta de dente a pedido da mãe, por volta das 22h30min, na rua Tancredo Neves, no bairro Mondubim, quando foi atingido por disparos de arma de fogo. Imagens de câmeras de segurança flagraram a ação policial. 

Familiares pedem justiça pela morte do adolescente Paulo Vitor

Durante o protesto, iniciado às 8 horas, as pessoas formaram um círculo, relembraram casos semelhantes, reclamaram da violência policial e recitaram uma carta escrita pelas mãos da mãe de Paulo  Vitor. Ela rememora os sonhos do filho de ser jogador de futebol e ter uma casa grande.

“Eu me sinto muito feliz por saber que eu tenho essa rede de apoio, tanto das mães que sofrem a mesma dor que eu, como pelo coletivo da imprensa, e de todas as pessoas que me acompanham. Eu me sinto muito feliz e quero justiça pelo caso do Paulo Vitor”, diz a mãe Ilana Maria Bezerra da Silva. 

Ilana aponta o crime contra o filho como uma ação contra jovens negros e da periferia. “Eu tenho certeza que eu vou conseguir a justiça. Tanto para mim como para as outras mães, que estão aqui de apoio comigo para que o estado se responsabilize pelos os atos que eles fazem na periferia com os negros jovens negros e periféricos”, descreve.

A promotora de justiça e representante do Núcleo de Acolhimento de Vítimas de violência, do Ministério Público do Estado do Ceará, Joseane França Pinto, explica que o momento do júri é “um momento muito esperado pela família”.

Segundo ela, isso ocorre “porque o acolhimento de uma vítima de violência, perpassa por vários momentos. Nesse momento, diz respeito à responsabilização”.

A Defensoria Pública do Estado do Ceará, por meio da Rede Acolhe, atua com assistência de acusação no julgamento. 

“Estamos aqui nesse ato, desde o começo, estamos aqui para amplificar essa voz para fazer com que ela se torne um grito. Ela se torne um grito por justiça e um grito pela paz, que é isso que nós esperamos e é isso que nós tentamos representar aqui nesse momento”, disse Leandro Bessa, sub defensor geral, da Defensoria Pública.

O defensor afirmou que sente orgulho e agradece pela existência da rede de defensores de direitos humanos.

"Mais uma vez se mostrando muito forte e muito atuante para que essa dor que jamais vai ser apagada, ela seja pelo menos minimizada, que seja pelo menos essa situação seja acolhida por essa por essa rede”, comentou Leandro.

Dentre os coletivos presentes no protesto, estavam as Mães do Curió e Mães da Periferia. O movimento das Mães do Curió teve início após a Chacina da Grande Messejana, em Fortaleza. O crime registrado em novembro de 2015, quando 11 pessoas, entre adolescentes e adultos, foram mortos. Os réus pelos crimes são policiais militares. 

Casos de violência policial são recorrentes nas periferias de Fortaleza

O deputado estadual Renato Roseno, presidente do Comitê de Prevenção e Combate à Violência (CPCV) da Assembleia Legislativa do Ceará, participou do ato e informou que no ano passado 353 crianças e adolescentes, entre 10 e 19, foram assassinadas por conflitos territoriais e por violência policial.

Além disso, apenas nos dois primeiros meses deste ano, foram registradas 33 mortes por Intervenção Policial (MIPs), de acordo com o CPCV.

“Quantas vezes nós estivemos aqui nesta calçada nos últimos anos? Essa pergunta é dilacerante para as mães que perderam seus filhos para a violência policial e para todos nós que militamos pela defesa da vida. Nós estivemos aqui muitas vezes, e isso representa a resistência das mães. Enterrar o próprio filho é a quebra de uma expectativa muito grande”, diz o deputado.

Renato Roseno explica que as ações estatais deveriam ser mais preventivas que combativas uma vez que os dados indicam maneiras de evitar intervenção da polícia militar nas periferias.

“A questão não é saber quando a bala atravessa o corpo. Nós sabemos qual é o corpo que a bala atravessa. Sabemos qual é o território. A questão é o que fazer para a bala não atravessar o corpo, ou seja, é tudo que vem antes", disse.

"Por exemplo, se eu sei que 73% dos mortos abandonaram a escola entre 6 meses e 2 anos antes de morrer, eu tenho que fazer tudo para eles não deixarem de ir à escola. Se eu sei que de 120 bairros, há 17 que concentram 33% dos assassinatos, eu tenho que chegar nesses 17. Se eu sei que de 860 comunidades que Fortaleza tem 52 concentram altíssima taxa de assassinato, nós temos que chegar lá”, comunica Renato. (Colaborou Jéssika Sisnando)

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