Chacina do Curió: mais PMs são investigados pela CGD e pelo MPCE

Chacina do Curió: mais PMs são investigados pela CGD e pelo MPCE

Depoimento de um homem que afirma ter participado da matança em 2015 subsidia inquérito que tramita na CGD. Ele diz ter participado do crime e ainda acusado agentes de seguranças

Quase dez anos depois, a Chacina da Grande Messejana, também conhecida como Chacina do Curió, ocorrida em 2015 e que deixou 11 mortos, pode ganhar novos capítulos. Um homem que diz ter participado da matança indicou a participação de pessoas que não vieram a ser acusadas pelo crime — ele próprio também não é réu.

Esse homem, que não é agente de segurança, ainda disse ter integrado um grupo de extermínio, composto por policiais militares e outras pessoas comuns, que teria praticado diversos assassinatos entre 2012 e 2016.

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Um inquérito policial foi instaurado pela Delegacia de Assuntos Internos (DAI), da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD), com base no depoimento do delator. Pelo menos, cinco policiais militares, além de um outro homem, são citados no depoimento.

O POVO teve acesso a um relatório da Coordenadoria de Inteligência (Coin), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), que subsidia as investigações.

Em seu relato, a fonte, que terá a identidade preservada pelo O POVO, afirmou que ele e mais três PMs estiveram na região onde ocorreu a chacina em um carro modelo Chevrolet Celta. Conforme o depoimento, todos os integrantes desse veículo efetuaram disparos contra algumas das vítimas da matança.

Em seguida, esse grupo teria descido do Celta e adentrado em um Corolla preto, que era guiado por um homem que usava uma balaclava. Eles se encontraram com ocupantes de um carro modelo Punto e saíram em busca de um casal que teria embarcado em um ônibus.

Mais à frente, o ônibus no qual o casal estava foi parado pelos criminosos. “Nesse momento (os assassinos), pediram para a mulher correr e executaram o homem no meio da rua”, consta no Relint. Os analistas que produziram o relatório observaram que a dinâmica descrita se assemelha com a forma como Renayson Girão da Silva, uma das vítimas da chacina foi morto.

 

O depoente ainda relatou reconhecer dois PMs com os quais se encontrou na região durante a chacina. Ambos estavam em uma caminhonete modelo Hilux. E que também lembra da presença de um outro PM do “grupo de extermínio” durante a matança.

“Um outro dado que merece destaque é que, no procedimento policial que apurou as mortes ocorridas na chamada ‘Chacina do Curió’ (Inquérito Policial nº 322 1961/2015, da Divisão de Homicídios), há a referência aos veículos Celta e Hilux, ambos de cor prata, e a um Corolla preto, como sendo alguns dos carros utilizados pelos executores dos crimes naquela madrugada, coincidentemente, veículos com as mesmas características daqueles citados (pela fonte) em sua narrativa”, consta em um dos trechos do relatório da Coin.

Nenhum dos PMs citados pelo depoente foi indiciado pela Chacina da Grande Messejana. Alguns deles chegaram a ser ouvidos no inquérito instaurado pela DAI, mas não foram obtidas provas suficientes para acusá-los pelos crimes.

O POVO procurou a CGD e o Ministério Público Estadual (MPCE) e questionou sobre o andamento dessa investigação. Em nota, a CGD informou que o inquérito foi finalizado e encaminhado à Justiça, mas não disse se houve indiciados. “Ressalta-se que o procedimento segue sob sigilo”, afirmou a pasta. Já o MPCE afirmou que recebeu o relatório e que está investigando o caso. "O processo está em sigilo", disse o órgão.

Julgamentos da Chacina do Curió já realizados

Ao todo, 45 PMs foram denunciados pelo Ministério Público Estadual (MPCE) pela Chacina da Grande Messejana, sendo que a 1ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza aceitou acusação contra 44. Destes, 31 foram pronunciados pela Justiça, ou seja, entendeu-se haver, contra eles, elementos suficientes para submetê-los ao Júri Popular. Além disso, o réu Daniel Campos Menezes morreu durante a instrução processual.

Três julgamentos do caso já foram realizados. No primeiro, realizado em 2023, quatro foram condenados a penas de 275 anos de prisão e 11 meses de reclusão. No segundo julgamento, oito réus foram absolvidos. E, no terceiro, dois foram condenados (a penas de 13 anos e 5 meses de prisão e 210 e 9 meses de prisão), cinco foram absolvidos e um outro teve absolvido, mas teve a pena desclassificada para crime militar.

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