Projeto leva estudantes para visitar monumentos da luta negra de Fortaleza
Iniciativa busca fomentar a memória do movimento negro na Cidade; percurso inclui locais históricos como a Igreja do Rosário dos Pretos e o Passeio Público
Anualmente, a data de 21 de março é reservada ao Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, que visa relembrar batalhas e conquistas do movimento negro ao longo dos séculos. Em Fortaleza, o marco foi celebrado com o início do projeto Rotas Negras, que leva estudantes do ensino fundamental para conhecer monumentos e logradouros que homenageiam heróis negros que compõem a história da cidade.
Idealizado pela Coordenadoria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Coppir Fortaleza), vinculada à Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), o projeto levou 50 estudantes da escola municipal Professora Maria José Macário Coelho participaram da visita e puderam conhecer mais sobre importantes prédios e logradouros da cidade.
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O coletivo Fortaleza Negra e a Secretaria Municipal da Educação (SME) são parceiros do projeto.
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Entre eles estiveram:
- a Igreja do Rosário dos Pretos, construída por irmandades negras da Capital no século XVIII,
- a Praça dos Mártires (Passeio Público), onde foram executados os revolucionários da Confederação do Equador e
- o Centro Cultural Dragão do Mar, que homenageia o líder do movimento abolicionista no Ceará.
A oportunidade foi não só de conhecer os locais, mas também aprender a importância desses espaços e dessas pessoas negras para a história de Fortaleza. Quem viveu a experiência, conta que agora vê a cidade com olhos mais atentos e que buscam o significado que cada coisa tem.
“Em qualquer dia normal eu passaria por aqui e nem faria ideia de que a história da igreja, desse passeio público é tão diferente. Muito mais do que só uma imagem que você vê. É muito importante saber disso”, relata Ana Paula, 14, estudante do 9° ano.
Professora de história da Maria José Macário, Adaíza Gomes, destaca o projeto como uma oportunidade de trazer jovens de bairros mais afastados, como o Passaré, para conhecer o centro da Cidade e o legado que ele carrega.
Com boa parte dos alunos composta por crianças pretas e pardas, ela vê na iniciativa uma forma de conscientizá-los de que seu povo está nas raízes da Capital, e que eles fazem parte de muito do que foi aqui construído.
“Acredito que vai ser uma experiência para eles inesquecível. Conhecer essa parte da cidade, perceber como eles pertencem também a essa história… porque a maioria dos nossos alunos são pretos e pardos. Então é interessante preservar essa memória, e também importante por essa questão do próprio reconhecimento. Eles se sentirem pertencentes à história da cidade onde eles moram”, pontua a docente.
Projeto busca fomentar a memória da luta negra nas novas gerações
Além de ouvir as histórias que esses lugares carregam, o percurso foi também para questioná-los. Saber o porquê da igreja do Rosário ter apenas uma torre Número de torres era utilizado para diferenciar igrejas de brancos e pretos no século XVIII e a semiótica do quadro “Abolição dos Escravos”, de autoria do cearense Raimundo Cela e atualmente exposto na Academia Cearense de Letras, que mostra escravos agradecendo à Princesa Isabel pela suposta libertação com a assinatura da Lei Áurea.
O foco principal do projeto são estudantes do Ensino Fundamental, já que este é um dos principais momentos de formação de crianças e adolescentes. Com o ensino de quem foram as pessoas que construíram a cidade e quem lutou pela liberdade dos povos, visa fortalecer os ideais de democracia e respeito nos futuros jovens e adultos.
“A história desses povos que foram silenciados ao longo do tempo é fundamental para a gente poder trabalhar dentro da sala de aula. É na sala de aula que a gente constrói o letramento racial, é na sala de aula que a gente constrói uma cultura diversa, uma cultura de democracia… E essa cultura de democracia tem que ter a história de povos negros, povos indígenas, comunidades tradicionais…”, explica o titular da Coppir Fortaleza, Isaac Santos.
O Rotas também conta com a colaboração de professores do movimento Fortaleza Negra, que auxiliam na explanação sobre os locais visitados. Para o coordenador do coletivo, Douglas Souza, o projeto é uma forma de incentivar os jovens negros a reconhecerem e se orgulharem de suas origens.
“É muito bonito quando a gente vê a galera assumindo o seu cabelo cacheado, suas tranças… já é uma ressignificação. Acho que com educação pública e esse debate dentro das escolas a gente consegue transformar isso”, comenta.
Essa foi a primeira edição de um projeto que deve ocorrer mais vezes em Fortaleza. Segundo o titular da Coppir, o Rotas Negras deverá acontecer mensalmente, de início com escolas convidadas do Estado e Município.
As instituições que tiverem interesse em participar podem contatar o Rotas através do perfil do Fortaleza Negra no Instagram, ou diretamente com a Coppir.
Contatos do Rotas Negras
Instagram: @fortaleza_negra
Telefone da Coppir: (85) 2028-0480
E-mail da Coppir: coppir.sdhds@sdhds.fortaleza.ce.gov.br
Atualizada às 20h30min
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