Procissão de São José acompanha devotos e suas preces em Fortaleza
A celebração para o dia de São José, padroeiro do Ceará, foi acompanhada pela tradicional procissão nas ruas da Capital nesta quarta-feira, 19
No vazio deixado pelos fiéis que caminham rumo à procissão de São José, a Catedral Metropolitana de Fortaleza, no Centro, está quase silenciosa. Cerca de uma hora antes, na tarde da quarta-feira, 19, o público escutava diligente à missa; agora, Valdiana Pontes, 55, e um pequeno grupo aproveitam o momento para observar a imagem fixa do padroeiro no local.
A data, que anualmente celebra o pai adotivo de Jesus Cristo, já virou tradição para a autônoma e também é seguida pela maioria dos católicos cearenses. “É uma devoção muito grande. Eu me emociono quando eu falo”, diz Valdiana, com a voz embargada. “A gente não explica, é do coração”.
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“Sempre que se fala em São José, a gente vê que é o pai de Jesus… Menciona sempre a família, né? A família está sempre em primeiro lugar”, acrescenta. “É por isso que às vezes eu até me emociono”.
Além da fé, dia de São José simboliza o culto às raízes e à identidade cearense | VEJA
Para cada fiel, o padroeiro do Ceará representa (e intercede por) uma graça diferente. No caso da cuidadora de idosos Maria Barbosa, 19, que participa da procissão pela primeira vez, o carinho pelo santo se entrelaça com o emprego.
“Foi graças a São José, na novena dele, que eu consegui o meu emprego”, revela, orgulhosa. “Ele é aquele pai mesmo, que assim como Nossa Senhora acolhe a gente”.
A aposentada Francisca Neli, 76, também não escondeu o orgulho pela tradição, enquanto acompanhava os momentos finais da missa que precedeu a caminhada. “Ave Maria!”, exclama ao iniciar a entrevista, em bom ‘cearencês’. “Todos os anos eu participo com alegria e uma fé muito grande”.
“Eu não tenho uma expressão que eu possa falar dessa alegria, desse amor que tenho por São José, por tudo o que ele é para a gente, para a Igreja”, reflete. “Pra mim, caminhar com São José é o caminho mais curto para chegar a Deus”.
Procissão de São José: arcebispo e fiéis refletem sobre o padroeiro do Ceará
A relação do santo com o próprio estado do Ceará vem cheia de expectativas. Na crença popular, é no dia do padroeiro que os fiéis aguardam o anúncio de chuva, que poderá preceder uma colheita farta e o tão esperado inverno.
“A festa de São José me mostrou, principalmente, o coração do povo cearense”, explica o arcebispo da Arquidiocese de Fortaleza, Dom Gregório Paixão. “Acabei entendendo por que São José tem tanto a ver com a vida desse povo resiliente, forte, que conseguiu vencer a seca e continua lutando contra as grandes dificuldades que a natureza apresenta”.
“Um povo que tem um coração lutador, um coração bravo. E São José representa exatamente isso: um homem que em meio às grandes dificuldades (...) conseguiu superar por um projeto maior, um projeto de Deus”, completa.
Os sentimentos ao padroeiro, compartilhados pelo arcebispo, são espelhados pelos fiéis que acompanham a procissão, seguindo a representação de São José com exclamações — “Ele tá saindo! Ele tá saindo! Corre!”.
A imagem, acompanhada por flores amarelas e de um rosa pálido, começa a se movimentar. Ao redor, uma pequena multidão continua a crescer e a tentar aproximação, com alguns sussurros respeitosos e risadas de amigos e casais no fundo.
“A gente, seguindo a tradição da Igreja (Católica), faz sempre parte da caminhada e dos ritos do período”, indica o vendedor Stepherson Viana, 47, que acompanha a esposa. “São José é um exemplo, principalmente para nós, que somos pais de família. Ele é esse modelo a ser seguido”.
A entrevista termina. Stepherson olha para trás e percebe que a multidão, antes à frente da catedral, migrou para a calçada e se distanciou. Com um sorriso encabulado, comenta: “Perdi minha esposa”, e se apressa a encontrá-la. Agora ele também se perdeu no mar de cabeças que cruzam as ruas de Fortaleza… Vai longe, seguindo o padroeiro.
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