Após 143 dias sem mortes, residencial José Euclides registra assassinato de entregador

Após 143 dias sem mortes, residencial José Euclides registra assassinato de entregador

Comunidade do Jangurussu denuncia os riscos da falta de manutenção do Bosque onde o jovem morreu; alertando sobre os perigos da falta de planejamento urbano na região

Um entregador, identificado como Fernando Nícolas Chagas Nogueira, 18, foi assassinado a tiros na quadra nove do Conjunto Residencial José Euclides, localizado no bairro Jangurussu, em Fortaleza.

O crime aconteceu na madrugada deste sábado, 8, por volta das 1h40 da manhã, a poucos metros de uma base policial. De acordo com moradores, a vítima retornava do trabalho quando sofreu o ataque.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

Integrantes do Conselho do Território Vivo, composto por representantes de movimentos sociais, de universidades e do Poder Público, destacam que esse é o primeiro caso de homicídio registrado na região após 143 dias de "trégua".

No dia 24 de janeiro, moradores da comunidade estenderam uma faixa na estrutura onde funciona o programa Zona Viva, para marcar o centésimo dia sem registro de homicídios no local. Segundo os conselheiros, o recorde havia sido alcançado após a limpeza do bosque localizado entre o Jagatá, o Conjunto José Euclides, o Conjunto Maria Tomásia e o Conjunto Luís Gonzaga, área que divide o José Euclides do residencial Maria Tomásia.

De acordo com moradores, o rapaz voltava para casa, após concluir uma jornada de entregas de sanduíches, quando foi vítima de um ataque a tiros, justamente em uma via pública próxima a área do bosque.

Moradores reclamam de negligência

Em nota, o Conselho do Território Vivo destaca que o crime é reflexo da negligência com as políticas de segurança e infraestrutura na região.

“O jovem assassinado era mais do que uma estatística. Era filho de uma mãe que hoje chora a perda irreparável de um filho dedicado, honesto e sem envolvimento com o crime. Ele representava a luta diária de milhares de trabalhadores que batalham para sustentar suas famílias em meio às adversidades”, diz um trecho.

O terreno onde o jovem foi assassinado é uma das principais preocupações do moradores, que classificam o ataque como um “crime de terrorismo”.

“As pessoas que cometiam os crimes vinham de um bosque. E qual foi a demanda da comunidade? ‘A gente tem um bosque aqui, que se fosse iluminado e ocupado pela população, a gente iria ter um local mais seguro’”, explica uma das representantes da comunidade, que não será identificada.

“É um crime de atentado. Os crimes aqui são crimes de atentado; ou seja, a pessoa que vai matar, ela não sabe quem ele vai matar. São mortes que não estão ligadas diretamente ao crime. Já morreram vários entregadores na região. Ano passado, morreram 13 pessoas no Conjunto, até outubro. Desde a limpeza, não havia crimes. A principal reivindicação é a iluminação e limpeza do bosque”, cobra um dos conselheiros, que terá a identidade preservada.

Polícia investiga caso

A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, em nota, que a Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) investiga as circunstâncias do homicídio.

Equipes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da PCCE, da Polícia Militar do Ceará (PMCE) e da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) foram acionadas para a ocorrência. A 3ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) realiza diligências para elucidar a ação criminosa.

Moradores reivindicam que a segurança pública vá além do policiamento

De acordo com um integrante do Conselho do Território Vivo, crimes como o assassinato do jovem Fernando Nícolas geram um clima de terror aos moradores da região. “Esse tipo de evento assustou toda a região. Você imagina como os entregadores vão trabalhar hoje. Hoje é o Dia da Mulher, pensa na mãe desse cara”, pontua.

A falta de políticas públicas para evitar a violência na região é denunciada há anos pela população. Segundo o conselheiro, o ataque evidencia que a segurança pública não depende apenas do policiamento ostensivo, devendo combinar uma série de outros fatores ligados ao planejamento urbano.

Entre as principais reivindicações dos moradores, estão a limpeza e a manutenção do bosque, incluindo a poda e a instalação de uma cerca no local.

Outras demandas incluem a instalação de postes de luzes e câmeras de vigilância nas quadras, além da criação de políticas públicas continuadas, com um planejamento urbanístico contínuo, integrado e participativo, entre Prefeitura de Fortaleza, Governo do Estado e comunidade, para evitar que o debate sobre a segurança pública permaneça focando na ostensividade policial.

“É uma solução muito mais simples do que você colocar policiamento, colocar viaturas. É você revitalizar. É a própria população se sentir mais segura, mais pertencente. É ocupar os espaços de uma forma democrática e segura”, destacou outro representante.

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar