Foliões não querem deixar nem o samba morrer e nem o Mercado da Aerolândia

Foliões não querem deixar nem o samba morrer e nem o Mercado da Aerolândia

Moradores e visitantes curtem o último sábado de Carnaval e relembram a importância do equipamento para a Cidade

O Mercado da Aerolândia, às margens da BR-116, pulsava ao ritmo do samba no último sábado de Pré-Carnaval quando os primeiros foliões chegavam, aos poucos, trazendo energia que antecede a grande folia. Entre fantasias coloridas, crianças, idosos e adultos, o espaço mostrou, além da folia, um ponto de união em torno de uma causa: manter vivo um patrimônio que já perigou desaparecer.

Francisca Miriam da Silva – "A carnavalesca", como ela mesma se definiu entre gargalhadas – não esconde a vitalidade de seus 74 anos. Vestida de “gatinha”, ela posa para fotos com admiradores e revela que nunca deixa de participar da festa sem uma fantasia.

É + que streaming. É arte, cultura e história.

+ filmes, séries e documentários

+ reportagens interativas

+ colunistas exclusivos

“Eu sou dona de ateliê e cada lugar onde eu vou no Carnaval, todo dia de Pré, é uma fantasia diferente. Eu mesmo crio, invento e faço”, explica.

Para ela, o Carnaval já se tornou uma tradição tão marcante quanto a própria vida. “Quando eu viajava, ia para o [Carnaval] do Rio, de Salvador… Eu acho que já nasci no carnaval”.

Em suas andanças pelo mundo, encontrou no Mercado da Aerolândia um lugar de conforto e alegria para se reunir com as amigas. “Onde tem muvuca, eu tô dentro”, ri.

Enquanto alguns já têm o Pré-Carnaval como parte de sua história, outros estão começando a transformá-lo em tradição. É o caso das filhas da dona de casa Ana Alice Vieira, que, ainda pequenas, já se encantam ao som dos sambas e das marchinhas.

“Uma tem quatro anos e a mais nova tem dois. A gente sempre traz porque é um lugar bom, é seguro, nunca vimos briga. As crianças adoram, brincam, correm”, comenta.

 

Além da folia, a resistência

E para que o samba não perca o compasso e o Mercado da Aerolândia continue de pé no bairro que os moradores seguem em uma batalha que vai além da festa.

Em abril do ano passado, a comunidade estremeceu com a notícia de que o equipamento seria desmontado e transferido para a Aldeota, para ficar junto ao Mercado dos Pinhões.

As duas estruturas de ferro eram ligadas e formavam o “Mercado de Ferro”, que foi desmembrado. A mobilização dos moradores conseguiu reverter a decisão.

“Nós criamos o movimento em março do ano passado, quando a Prefeitura quis tirar o nosso mercado. Fomos para a rua, chamamos os moradores, fizemos dois manifestos. Por conta desse abraço simbólico que demos, o prefeito voltou atrás”, relembra Francisco Paulo de Almeida (Motoca Almeida), líder da Associação Grupo de Economia Solidária da Aerolândia (Agesa)

 

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 22-02-2025: Pré-Carnaval da Aerolândia com movimentação dos foliões e banda, também uma manifestação de carnaval dos moradores do bairro. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 22-02-2025: Pré-Carnaval da Aerolândia com movimentação dos foliões e banda, também uma manifestação de carnaval dos moradores do bairro. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

 

Passada a conquista, os moradores se encontram frente a uma nova batalha. Neste ano, o Mercado não foi incluído entre os polos carnavalescos da cidade. “Nós estamos lutando. No dia 3 de janeiro, dei entrada em três processos pedindo a implantação de um polo carnavalesco aqui, como sempre tivemos”, afirma Motoca.

O bairro segue fora da agenda oficial do ciclo carnavalesco, e o líder não hesita ao comparar o tratamento dado ao Mercado da Aerolândia com seu “irmão dileto”.

“Eu acredito que é um racismo ambiental, isso está se caracterizando por ser uma área menos favorecida, um bairro visto como perigoso. Enquanto isso, o Mercado dos Pinhões, que é nosso ‘irmão gêmeo’, recebe um atendimento diferenciado por estar em uma área nobre. Nós estamos sendo penalizados por isso”, alega.

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 22-02-2025: Wallace Santana em pré-Carnaval da Aerolândia com movimentação dos foliões e banda, também uma manifestação de carnaval dos moradores do bairro. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 22-02-2025: Wallace Santana em pré-Carnaval da Aerolândia com movimentação dos foliões e banda, também uma manifestação de carnaval dos moradores do bairro. (Foto: Samuel Setubal/ O Povo)

Enquanto fixa um cartaz com os dizeres “Juntos em defesa do nosso Mercado” nas grades da estrutura, Wallace Santana, produtor cultural e compositor, aponta a relevância do espaço para a comunidade. Para ele, “ter um patrimônio cultural como o mercado aumenta a autoestima do morador”.

“A partir do mercado, podemos ter essa movimentação cultural e mostrar para a cidade que é possível ter um movimento além da aldeota”, diz ele

Enquanto a revitalização permanece no centro das reivindicações dos moradores, o Carnaval se mantém como um aliado crucial nessa luta. “O Carnaval é o momento mais importante para divulgar isso, para mostrar o quanto esse equipamento é essencial”, conclui o compositor.

 

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar