Fortaleza: PMs são acusados de matar homem que está desaparecido desde 2018

Fortaleza: PMs são acusados de matar homem que está desaparecido desde 2018

José Tiago Ferreira Teobaldo foi arrebatado por quatro homens de um bar do bairro Bom Futuro e nunca mais foi visto. Militares denunciados negam envolvimento com o caso

O Ministério Público Estadual (MPCE) denunciou dois policiais militares pelo homicídio de um homem que está desaparecido desde 2018. Conforme a acusação, em 29 de março daquele ano, o soldado Jediel Costa Marcelino da Silva, de 33 anos, e o cabo Sebastião Mikhail de Sousa Rodrigues, de 37 anos, arrebataram José Tiago Ferreira Teobaldo, de 27 anos, de um bar do bairro Bom Futuro, em Fortaleza.

Após circularem de carro com a vítima pela cidade, os denunciados teriam assassinado José Tiago e ocultado o cadáver, que nunca foi encontrado. Os PMs negam envolvimento com o crime. 

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Entre os argumentos utilizados por eles está um parecer da própria Delegacia de Assuntos Internos (DAI), responsável pela investigação do caso, afirmando que não era possível identificar se eram mesmo os acusados as pessoas que apareciam em imagens de câmeras de vigilância rendendo a vítima.

"O inquérito policial teve duração de mais de 7 anos e não existe nenhum indício que coloque os policiais no local do fato", afirmou em nota o advogado Kaio Castro, que representa os dois acusados. "Não há testemunhas, e as perícias existentes não confirmam a autoria, entre vários outros fatos que a defesa aguarda que, na Justiça, sejam absolvidos sumariamente".

Por outro lado, o MPCE afirma que laudo elaborado pela Polícia Federal (PF) aponta Sebastião como um um dos indivíduos que fez a abordagem de José Tiago, “apresentando nível de segurança +3 (o resultado corrobora fortemente a hipótese), numa escala que vai de 0 a +4”.

Ainda conforme a narrativa do MPCE, José Tiago estava no bar ao lado de um advogado quando os dois foram abordados por quatro homens em um carro modelo Volkswagen Gol. Armados, os criminosos disseram ser policiais civis e obrigaram a vítima a entrar no veículo, tendo dito ao advogado que "não se metesse que era melhor".

O advogado percorreu diversas delegacias da cidade, mas não encontrou o amigo. O sistema Spia identificou que o carro utilizado pelos criminosos e o carro da vítima realizaram a mesma trajetória até chegar à avenida Presidente Costa e Silva, já na altura do bairro José Walter. Naquele momento, os dois veículos tomaram destinos opostos.

O carro da vítima foi encontrado abandonado nas proximidades da Universidade de Fortaleza (Unifor), no bairro Edson Queiroz. Já o Gol usado pelos criminosos foi encontrado abandonado nas proximidades da rua Eliziário Mendes, no bairro Messejana.

Além disso, o MPCE aponta que câmera de vigilância de um posto localizado nas proximidades da avenida Frei Cirilo flagraram o momento em que Jediel e Sebastião deixaram esse carro e entraram em um outro veículo, modelo Citroen C3. Este veículo está no nome da esposa de Sebastião, mas o PM afirma que o carro foi clonado.

Sebastião também disse que o veículo flagrado nas câmeras de vigilância tinha um acessório para engate de reboque que não aparece no carro que aparece nas imagens captadas.

O MPCE, porém, identificou que a loja na qual Sebastião disse ter comprado o item comprou-o de uma outra loja, que informou ter efetuado a venda em 3 de abril de 2018, dias após o crime, portanto.

Outro álibi apresentado por Sebastião foi uma foto que ele diz ter tirado na data do crime com um casal de amigos. “Contudo, sem que seja apresentado o aparelho que fez a fotografia com a imagem original em sua memória, não é possível comprovar autenticidade da data em que foi tirada a foto de acordo com análise do hash do arquivo, não podendo ser considerada prova incontestável”, afirmou o MPCE.

Vítima teria sido morta como forma de “queima de arquivo”

Ainda de acordo com a acusação, José Tiago foi morto em uma “queima de arquivo”. “As informações presentes nos autos é que a vítima tinha relação com um grupo criminoso, enquanto os acusados, por sua vez, são mencionados como integrantes de um grupo miliciano que pratica extorsão contra criminosos”, diz a denúncia.

O MPCE ofertou a denúncia na última sexta-feira, 7, à 3ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza, que ainda decidirá se a peça será recebida ou não. Caso a acusação seja aceita, a defesa dos PMs terá 10 dias para apresentar resposta. Além da denúncia, o MPCE pediu a prisão preventiva dos acusados, o que também será analisado pela Justiça.

Jediel já respondia a outros crimes, diferentemente de Sebastião. Em 2022, Jediel foi condenado a 58 anos e 6 meses de prisão por integrar uma organização criminosa composta por policiais que seria especializada em extorquir criminosos.

Além disso, em 2024, ele foi um dos alvos da operação Exaurimento, que confiscou dele e de outro PM bens avaliados em R$ 3,4 milhões.

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