Empresas de internet que não pagam taxas a facções seguem sendo ameaçadas no CE
Situação existe no Estado desde, pelo menos, 2019. As mais recentes denúncias com as quais O POVO se deparou partiram dos bairros Barra do Ceará e Sapiranga, em Fortaleza
A proibição de serviços de internet não "autorizados" por parte de facções criminosas continua sendo prática recorrente no Ceará. No mais recente caso com o qual O POVO se deparou, um inquérito policial foi instaurado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) para apurar denúncias de “pedágios” impostos por faccionados nos bairros Sapiranga e Barra do Ceará, em Fortaleza.
Conforme trecho da investigação, integrantes da facção Comando Vermelho (CV) têm impedido a atuação de funcionários de empresas não “autorizadas” em seus domínios nesses dois bairros, assim como têm ameaçado moradores para que esses serviços não sejam contratados.
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“Com efeito, testemunhas anônimas relataram que a referida facção impõe taxas ilegais, conhecidas como ‘pedágio’, sobre empresas de telecomunicações para que possam operar na área sem represálias”, diz trecho da investigação.
“Ademais, os depoimentos indicam que a facção, em resposta ao não pagamento dessas taxas, sabotou equipamentos de infraestrutura, como a destruição de caixas e cabos de fibra óptica de diversas empresas”.
Há ainda a suspeita de que os criminosos tenham beneficiado uma empresa em específico, que, segundo moradores locais, mantém vínculos com o CV, o que a permite uma atuação sem restrições nas regiões.
Um morador da Sapiranga, que terá a identidade preservada, afirmou ao O POVO, que onde mora consegue contratar o serviço de uma empresa que não tem pacto com a facção, mas que pessoas que residem em uma comunidade localizada a duas quadras de onde a fonte mora não têm essa opção.
O inquérito policial foi instaurado ainda em 2024, tendo sido judicializado no dia 22 de janeiro deste ano. Na última quinta-feira, 23, o Ministério Público Estadual (MPCE) concedeu mais 90 dias para a conclusão das investigações.
Ainda não há suspeitos presos. O POVO opta por não divulgar os nomes das empresas mencionadas pelo fato de a investigação ainda não ter sido concluída.
“Pedágios” de facções são denunciados no Ceará desde 2019
Desde 2019, O POVO vem mostrando relatos de que serviços de internet têm sido alvo de extorsão por parte de facções criminosas em Fortaleza. Em outubro daquele ano, no residencial Cidade Jardim II, localizado no bairro José Walter, um homem foi preso suspeito de cobrar taxas para que moradores tivessem acesso a serviços de internet, televisão a cabo e gás.
Em setembro de 2020, O POVO mostrou que a situação persistia no conjunto habitacional. Desde então, os relatos se estenderam a outras áreas. Em 2021, um homem foi preso no Pirambu suspeito de cobrar “taxas de 30%” de empresas de internet para que prestassem os serviços no bairro.
No mesmo ano, guardas municipais foram acionados em Aquiraz (Região Metropolitana de Fortaleza) após funcionários de uma empresa de internet serem impedidos de trabalhar por homens armados.
Mais recentemente, em julho de 2024, O POVO mostrou que equipamentos de torres de internet têm sido furtados constantemente em diversos municípios do Estado e a Polícia Militar suspeita que o material é vendido para empresas ligadas a facções.
“Uma única empresa registrou furtos de fontes retificadoras em 13 municípios e cinco bairros de Fortaleza”, mostrou matéria à época.