Residencial José Euclides chega a 100 dias sem homicídios; reunião marca data
Representantes de movimentos sociais e do Poder Público se encontraram para debater intervenções no conjunto habitacional, que sofre há anos com a violência
21:31 | Jan. 24, 2025
Entre os dias 30 de julho e 7 de agosto de 2024, dois adolescentes neurodivergentes — Islan Gabriel Barbosa Marinho e Gladson Cândido Façanha, ambos de 15 anos — foram assassinados no residencial José Euclides, localizado no bairro Jangurussu, em Fortaleza.
Esses foram só dois dos fatos que colocaram a comunidade no noticiário policial em 2024. Homicídios e tiroteios que incluem uso, até mesmo, de granadas também foram constantes. Nesta sexta-feira, 24, porém, a notícia foi outra: o residencial chegou ao centésimo dia sem registrar homicídios.
Para marcar a data, uma faixa foi estendida na estrutura onde funciona o programa Zona Viva, apetrecho que também será exibido neste sábado, 25, no Sana — 150 crianças do José Euclides foram convidadas para o evento geek.
Nesta sexta, também foi realizada uma reunião dos integrantes do Conselho Território Vivo, composto por representantes de movimentos sociais, de universidades e do Poder Público, cujo objetivo é debater soluções para problemas enfrentados no residencial.
Questões como iluminação pública, asfaltamento, inexistência de câmeras de monitoramento e serviços de saúde foram apontadas como alguns dos desafios enfrentados pelos moradores do residencial. Carências são, aliás, uma tônica do José Euclides desde sua inauguração em 2017.
Leia mais
Mesmo sendo lar, hoje, de mais de 13 mil pessoas, o residencial ainda não tem CEP. O fato de, no residencial, atuar uma determinada facção criminosa impede, por exemplo, o acesso a serviços públicos e privados localizados em regiões onde agem organizações rivais à do José Euclides.
Nesse sentido, um “bosque” que divide o José Euclides do residencial Maria Tomásia é uma das principais preocupações dos moradores da área. Criminosos costumam utilizar a área verde para surpreender rivais e fugir, já que as facções dos dois residenciais são inimigas.
Assim, cercar o bosque é uma demanda antiga dos moradores. Na reunião, desta sexta, chegou-se à proposição de transformar a área em um parque público.
Presente à reunião, o tenente-coronel Leandro, comandante do batalhão de PM que atende à região, afirmou que desenvolve um trabalho de “aproximação” com a comunidade, ouvindo demandas e sugerindo melhorias.
“Segurança não é só Polícia na área, mas tem todo um contexto, de iluminação, de limpeza, de organização”, declarou.
Quem também compareceu ao encontro foi o major Messias Mendes, recém nomeado secretário-executivo da Secretaria Municipal da Segurança Cidadã.
Em uma linha semelhante à do coronel, ele afirmou que a secretaria terá como norte entender as necessidades da população e trabalhar, em conjunto com demais órgãos públicos, para encontrar soluções.
Residencial deverá receber lavanderia comunitária
Antes de ser institucionalizado pelo Governo do Estado, o Zona Viva foi uma iniciativa, primeiramente, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que também implementou a Cozinha Solidária no residencial, outra ação que se tornou política pública. No Zona Viva, são oferecidos, entre outros, cursos de capacitação profissional e atividades esportivas e culturais.
Assessor da presidência do Instituto Centro de Ensino Tecnológico (Centec), Benevaldo Vieira afirmou que o residencial ainda deve receber um projeto de lavanderias industriais comunitárias. O o intuito é contratar moradores do José Euclides para lavar peças de roupas de hospitais, de presídios e de abrigos de idosos do Estado.
Coordenador do MTST, Sérgio Farias afirmou que o Zona Viva tem como público alvo, sobretudo, crianças e adolescentes. Para ele, sem oportunidades para o público dessa faixa etária, a tendência é a cidade ficar cada vez mais “bárbara”. “O Zona Viva é um equipamento que custa menos do que um carro de Polícia”, comparou Farias.