Decisão atribui morte de PM a "guerra" entre facção e milícia no Grande Pirambu

Subtenente foi morto a tiros e facadas no momento em que saía para trabalhar na madrugada da última quarta-feira, 15. Uma pessoa foi presa suspeita de envolvimento no assassinato do agente

A morte do subtenente da Polícia Militar do Ceará (PMCE), Francisco Ricardo Silveira Neto, 51, estaria atribuída a uma guerra entre a facção criminosa Comando Vermelho (CV) e policiais milicianos no Grande Pirambu, em Fortaleza. O cenário é exposto em Audiência de Custódia de um dos suspeitos de envolvimento no crime, Italo Gabriel, 18, preso horas após o crime. Ele teria conduzido o veículo utilizado no assassinato do agente de segurança.

Conforme a decisão do auto de prisão em flagrante do acusado, assinado pela juíza de Direito, Adriana da Cruz Dantas, o autuado e seus comparsas, supostamente integrantes do CV, planejaram a morte do policial porque ele teria “retirado" a tropa em um “Dia de Guerra” entre membros da facção e “milicianos” vinculados ao grupo de um policial militar, identificado como Igor Jeferson Silva de Sousa, conhecido como Igor Negão".

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O documento detalha que, para a execução do assassinato, o suspeito roubou um carro no dia anterior do crime contra o PM, utilizando o veículo para conduzir seus comparsas até o local onde ocorreu o homicídio. O subtenente da PM foi morto no momento em que saía para trabalhar na madrugada da quarta-feira, 15.

O agente foi alvejado por diversos disparos de arma de fogo, que atingiram a cabeça, costas e nádegas, sendo, ainda, cravada uma faca na nuca da vítima. Essa ação, conforme menção no documento, está vinculada ao modus operandi da “Tropa do Açougueiro” e estaria relacionada como um “recado” sobre quem tinha cometido o ato.

De acordo com o doutor em Sociologia, especialista em Segurança Pública e colunista do O POVO, Ricardo Moura, o cenário em que o crime contra o agente se apresenta é preocupante.

“A gente percebe um elemento novo, que são esses policiais que são chamados de milicianos. Além do trabalho de repressão ao crime organizado, você vai ter também que fazer um trabalho de repressão a esses policiais que agem em grupo e que agora estão em confronto aberto com faccionados”, analisa.

Ainda segundo o especialista, o caso evidencia um ato organizado com elevado poder de fogo e uma afronta ao Estado, representada diante da preocupação em deixar uma marca de poder para mostrar quem manda no território. Ele pontua que o caso pode ocasionar ainda uma retaliação que pode envolver pessoas ligadas direta ou indiretamente ao crime organizado, gerando ainda uma preocupação com a insegurança na região.

“Já era uma região que via confrontos entre grupos criminosos rivais e agora vê a emergência de um confronto entre grupos criminosos e grupos de policiais. São várias forças disputando o mesmo espaço e a gente sabe que toda disputa de território gera violência e ela causa picos de violência letal, que é o que vem ocorrendo ali no Grande Pirambu”, pontua Ricardo.

O POVO apurou que, pelo menos, quatro pessoas estão envolvidas na morte do subtenente da PM. Além do jovem de 18 anos, outro suspeito foi capturado na quarta-feira, 15. Ele foi baleado durante diligências efetuadas pela Polícia Militar para localizar os criminosos envolvidos no caso. Conforme a PM, o homem, que não foi identificado, fez menção de atirar contra os agentes de segurança, que, então, dispararam contra ele.

O suspeito foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a uma unidade hospitalar, onde recebe cuidados médicos sob escolta policial. Na ação, a PM apreendeu uma pistola Taurus, modelo PT 100, com a numeração suprimida, além de seis munições de calibre .40. A arma é de propriedade da PM do Pará.

Ainda durante as diligências, um veículo de modelo HB20 branco foi apreendido nessa quinta-feira, 16. O carro teria sido utilizado pelos criminosos no assassinato do agente.

Como O POVO mostrou na edição impressa desta quinta, o subtenente foi o sexto PM ou ex-PM mortos em menos de um ano em uma região que engloba os bairros Pirambu, Cristo Redentor, Carlito Pamplona e Barra do Ceará. (Colaboraram Lucas Barbosa e Jéssika Sisnando)

“Não vamos medir esforços até que tenhamos todos capturados”, disse delegado-geral da Polícia Civil

O delegado-geral da Polícia Civil do Ceará (PC–CE), Márcio Gutiérrez, informou que já há um cenário desenhado e pessoas identificadas envolvidas na morte do subtenente da PM. “Não vamos medir esforços até que tenhamos todos capturados”, disse o delegado.

A fala foi dita na manhã desta sexta-feira, 17, durante a saída de 4,2 toneladas de drogas da Delegacia de Narcóticos (Denarc), no bairro de Fátima, em Fortaleza. Os entorpecentes foram destinados ao município de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), para incineração feita pela Polícia Civil.

Ainda conforme Gutierrez, há um trabalho de investigação sendo feito há um tempo na região do Pirambu para desarticular organizações criminosas e elucidar demais crimes na região. “Nosso trabalho é investigar e prender todos eles, sejam envolvidos em homicídios, em especial esse homicídio que vitimou um companheiro nosso, um policial militar, seja também nos outros crimes que são praticados naquela região”, afirmou.

Questionado sobre o avanço das investigações, o delegado informou que os detalhes do caso estão em sigilo para não atrapalhar o avanço das investigações. No entanto, pontuou que “as investigações estão bem avançadas”: “Nós vamos dizer, mas no momento mais apropriado”.

 

O POVO questionou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) sobre agentes milicianos em atuação no Estado, especificamente no Grande Pirambu, e se há uma investigação sobre o cenário, assim como quais as atualizações do caso da morte do subtenente da PM. 

Em nota encaminhada na noite desta sexta-feira, 17, a instituição destacou que "não compactua com desvios de conduta de seus agentes e que em caso de suspeita de envolvimento de algum servidor com crimes são realizadas investigações". 

"A pasta reforça que o Estado possui também a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD), uma secretaria autônoma e isenta, com a função de investigar e garantir o devido processo legal e proporcionar a segurança jurídica na avaliação da conduta e correição preventiva de servidores", frisou ainda. 

Atualizada às 22h38min

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