Iniciativa acolhe pessoas com adoecimento mental em Fortaleza e RMF
O projeto, criado há 29 anos, conta com 40 funcionários e realiza entre 30 e 40 mil atendimentos anualmente em Fortaleza e Maracanaú
21:37 | Jan. 17, 2025
Janeiro é conhecido por ser o mês de confraternizações e outras comemorações, mas você sabia que existe o Janeiro Branco? A ação foi criada em 2014 para debater e cuidar da saúde mental da população. Em Fortaleza, o Movimento Saúde Mental (MSM) atua no acolhimento de pessoas com diversos transtornos mentais. A ação também acontece no Maracanaú, na Região Metropolitana (RMF).
A iniciativa começou 1996, pelo presidente do MSM, o psiquiatra e padre Rino Bonvini, 66, e conta com 40 profissionais. Atualmente, o projeto atende entre 30 e 40 mil pessoas anualmente. Os serviços são gratuitos e realizados durante todo o ano, buscando prevenir, tratar e apoiar os indivíduos que passam por alguma adversidade.
São utilizadas práticas integrativas complementares para tratar problemas de saúde mental da população. Já na comunidade Pitaguary, em Maracanaú, foi desenvolvido em 2007 um programa de saúde mental com etnopsiquiatria, onde é realizado em conjunto com o líder espiritual da comunidade.
Janeiro Branco: o que é?
A campanha nasceu em janeiro de 2014, na cidade de Uberlândia (MG), quando o psicólogo, escritor e palestrante Leonardo Abrahão convidou profissionais de saúde mental da cidade para irem a espaços públicos e privados da cidade a fim de falar com a população sobre saúde mental integral, qualidade de vida, bem estar emocional e políticas públicas para a temática.
Segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa), a mortalidade por suicídio no Estado entre 2009 e 2023 é de 9.290 óbitos, com taxa média anual de 7 por 100 mil habitantes.
"Esse aumento é especialmente notável entre as faixas etárias de 20 a 39 anos e de 40 a 59 anos. A população idosa, embora com números absolutos menores, também apresentou um crescimento", informa a pasta.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) informou que a depressão, o transtorno afetivo bipolar, a esquizofrenia e outras psicoses como demência, deficiência intelectual e transtornos de desenvolvimento, incluindo o autismo, são alguns dos transtornos mentais existentes.
Além disso, conforme a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), existem quatro tipos de transtornos de ansiedade: o Transtorno de Pânico, o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), o Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia Social e o Transtorno de Ansiedade Generalizada (rAG).
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Iniciativa em Fortaleza e RMF realiza atendimento de 30 a 40 mil pessoas por ano
O Movimento Saúde Mental (MSM) teve início após a chegada do padre na década de 90. Segundo ele, alguns confrades relataram que havia um grande número de pessoas com transtornos mentais se confessando, mas que, na verdade estavam, necessitavam de apoio profissional.
Existem diversos espaços terapêuticos criados pelo movimento: Palhoça, Casa AME, Horta Comunitária, Projeto Sim à Vida, Programa Jovem Aprendiz, Sítio Wopila, Escola de Gastronomia Autossustentável e Giardino Buffet.
“Eu falei que eu queria trabalhar dentro dessa perspectiva terapêutica e aí ficou muito claro que era uma necessidade, porque naquela época começavam a aparecer os problemas de saúde mental. As ferramentas que nós usamos para cuidar das pessoas são as Práticas Integrativas Complementares (PICs), que o Sistema Único de Saúde (SUS) teria que garantir no serviço público”, explica.
Conforme o padre, dentre as práticas estão: biodança, a constelação familiar, a terapia comunitária, arteterapia, músicoterapia, a massoterapia, a acupuntura, reiki, entre outras.
O psicólogo social e docente universitário, Ivan Nogueira, 39, explica que é necessário olhar para além do debate trazido em relação aos cuidados com a saúde mental e também às demandas sociais que levam a este adoecimento emocional. “Em Fortaleza, um fator que há anos influencia é a violência e a falta de segurança, sem deixar de olhar para o desemprego e a fome."
Como forma de autocuidado, o psicólogo ressalta que, quando se fala de saúde mental, deve-se olhar as possibilidades de cuidado a partir de gostos e hobbies pessoais. “É possível fazer uma caminhada, escutar uma música, ler um livro, praticar atividades físicas, meditação, entre outros”, cita.
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De acordo com ele, os jovens na Capital — a partir de 13 anos — vem predominando nas estatísticas dos últimos anos. “Isso é muito preocupante. Nossa juventude está adoecida”, afirma.
O estigma, condições sociais, falta de acesso aos serviços e precariedade dos equipamentos são fatores que contribuem para o afastamento da população na procura por ajuda.
“A saúde mental e os serviços estão precários em Fortaleza. Precisamos olhar com muita atenção para criar novas políticas de acesso e qualidade dos serviços para garantir esse direito à população”, finaliza.
A estudante de nutrição Luzimar Soares, 19, conta que cresceu dentro do movimento, que frequenta desde os quatro anos. A jovem relata que o relacionamento dos pais era complicado e ela utilizava a biblioteca do espaço como refúgio. “Eu tenho ansiedade, mas é justamente por esses traumas de infância”, diz.
As primeiras crises de ansiedade vieram aos 11 anos, foi quando a jovem começou a praticar biodança, massagem e reiki para aliviar seu estado. Luzimar acredita que as ações realizadas pelo MSM são importantes para a comunidade e vão além do estado mental.
“O Bom Jardim é uma comunidade carente, então muitas vezes, com alguns dos projetos, eles ajudam na questão da vulnerabilidade e da alimentação (...) Ajuda as crianças a se entenderem, não só de forma psicológica, mas também a se encontrar na suas carreiras e no mundo da arte no sentido geral”, finaliza.
A aposentada Francisca Dantas Bittencourt, 67, conta que antes de conhecer o projeto tinha ansiedade e depressão. “Eu ainda tomo alguns remédios para ansiedade e depressão. Eu só chorava e não conseguia dormir à noite”, relata.
A idosa conta que era atendida no Centro de Atenção Psicossocial (Caps), onde foi encaminhada para as atividades da Palhoça, do MSM. “Cheguei lá péssima, a minha salvação foram as terapias, que me fizeram e fazem muito bem até hoje”, finaliza.
Serviço
Atendimento no Movimento Saúde Mental
Quando: segunda a sexta, das 8 às 12 horas e das 13 às 17 horas. Aos sábados, das 8 às 12 horas
Onde: rua Dr. Fernando Augusto, 985, bairro Bom Jardim. Fortaleza (CE)
Gratuito