Bece homenageia escritoras negras na primeira edição do Baile da Conceição

O evento contou com a presença de artistas da periferia e homenageou escritoras negras como Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e Geni Guimarães

21:28 | Jan. 17, 2025

Por: Bárbara Mirele
FORTALEZA-CE, BRASIL, 17-01-2025: Primeira edição do Baile da Conceição, na BECE. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) (foto: FERNANDA BARROS)

A Biblioteca Estadual do Ceará (Bece) realizou a primeira edição do Baile da Conceição, nesta sexta-feira, 17, às 17h30min. O evento reúne artistas locais para uma homenagem à vida e obra da escritora Conceição Evaristo, autora de grandes sucessos literários como “Olhos d’água” e “Becos da Memória”.

No evento também foram homenageadas as escritoras Carolina Maria de Jesus e Geni Guimarães.

O Baile da Conceição é uma celebração que exalta a força, a pluralidade e a ancestralidade das mulheres negras. A homenagem a Conceição Evaristo, uma das vozes mais importantes da literatura afro-brasileira, tem como objetivo fortalecer as vozes da periferia, promover a resistência e valorizar histórias que ecoam por todos os cantos do Brasil e do mundo.

Entre os artistas que se apresentaram, estão DJ Lolost, a “Dama dos Saraus” e guardiã de memórias do Poço da Draga, Dona Iolanda, Flamel organizador da Cururu Skate Rap e idealizador da Batalha do Half, o grupo de dança Reggae do Passinho, entre outros.

LEIA TAMBÉM | Férias em Fortaleza: veja programação de janeiro na Bece

Levando o nome do evento, Conceição Evaristo é uma escritora e ensaísta, nascida em Belo Horizonte (MG) em 1946. Com várias formações acadêmicas, Evaristo estreou na literatura na década de 90 na série Cadernos Negros – antologia editada anualmente pelo grupo Quilombhoje, de São Paulo, um coletivo de escritores afro-brasileiros reunidos, desde 1978.

As obras da escritora abordam poesia, contos, romances e ensaios literários, tratando de assuntos relacionados à educação, gênero e relações étnicas na sociedade brasileira.

“Quanto mais pessoas periféricas fazendo arte, sempre é um momento para celebrar”, diz idealizador do evento

Ao O POVO, a superintendente da Bece Suzete Nunes, 60, explica que além do dever primordial com a leitura, a biblioteca possui o dever de inclusão. “O baile vem como uma ação dentro da programação cultural. [Estamos] buscando conectar a cidade com uma cena artística e poética da juventude, mas tendo como foco o protagonismo negro”.

O mediador social da Bece e um dos idealizadores do evento, Alisson Barbosa, 33, conta que o evento foi pensado para aproximar cada vez mais o público. “A gente quer que eles [público] tenham cada vez mais o sentimento de pertencimento e consiga estar mais aqui”.

“Quanto mais pessoas periféricas estiverem fazendo arte, sempre é um grande momento para celebrar. Eu acho que a importância [do evento] está nisso, no poder de celebração que a gente tem e da união das pessoas, da valorização de pessoas periféricas”, finaliza.

Natyelle Martins, 29, conta que a equipe tentou “buscar a questão da ancestralidade mesmo enraizada e referenciada no povo negro”.

“Hoje a gente ainda tem um público que a gente acolhe, mas ele é ainda um público que tem cor, classe social e aqui é um equipamento de cultura do Estado, né? O Estado tem esse dever de levar a literatura, a arte, a cultura para toda essa galera”.

A fundadora da Feira Negra, Adriana de Maria, 45, explica que o objetivo da feira é fazer com que pessoas negras pudessem ter uma fonte de renda. Para ela, o evento, que é voltado a questões sociais, é importante pois gera apoio.

“Nós também somos beneficiados de alguma maneira, né? Direta ou indiretamente e a gente cola com toda movimentação que seja pelo trabalhador”, finaliza.

Mais conhecido como Flamel, o produtor cultural Rafael de Araújo Montes, 23, relata que ser convidado para o evento é muito gratificante. “É gratificante ser chamado por mim mesmo, como profissional e como construção de carreira. É muito bom”.

Questionado sobre a importância do evento, Rafael explica que o mesmo abre portas.

“A gente vem pra cá para ler e estudar. [Mas] a gente vindo com nosso trabalho, sendo reconhecido como artista, é gratificante de certa forma, pois a gente tá cansado de ter os nossos espaços e não ocupar [eles] (...) Então a gente tá lutando por uma coisa que a gente não precisava lutar, tinha que ser entregue pra gente”.

Moradora da comunidade do Poço da Draga, Francisca Pereira do Nascimento, 78, mais conhecida como Dona Iolanda, destaca que gosta de poesia desde pequena e o evento é importante pois dá voz aos demais. “Eu acho que é a maneira de dar voz, né? De conhecer coisas diferentes. Eu não saio de casa. Eu acho que é importante a gente dar voz a quem ainda não tem voz”.

Expositora da Feira Negra, Ana Cristina dos Santos, 54, conta que mora no Grande Bom Jardim e veio para expor suas bolsas de costura pela primeira vez no evento. “Tive muita dificuldade para voltar pro mercado [de trabalho] por conta da idade. E aí eu peguei minha rescisão e investi, e tá dando certo”.

“A questão de ser empreendedor dentro da periferia é uma dificuldade muito grande em todas as questões, uma burocracia para você ter CNPJ, é muita coisa. Mas esses eventos são muito bons para nós”, finaliza em tom de alegria.

Confira mais imagens do evento: