Complexo da Sabiaguaba: obra durante alta estação é questionada por comerciantes
Permissionários acreditam que revitalização do piso é necessária, mas inoportuna. Complexo possui 17 quiosquesPermissionários do Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba, em Fortaleza, acreditam que a revitalização do piso do local é necessária, mas veio em momento inoportuno, de férias e alta estação. Quatro quiosques, das áreas A e B, já se encontram interditados neste domingo, 5.
Conforme a Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Ceará (Sema), a obra de revitalização no Complexo deve terminar em abril próximo. Outras ações estão previstas para o Complexo, contemplando reivindicações como a instalação de exaustores nas cozinhas e alteração nos toldos que devem fornecer sombreamento ao local.
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Um deles é o Rio Azul, cuja proprietária, Natália Lima, de 40 anos, já se vê prejudicada. “Eu caí na real ontem que realmente fui prejudicada. Desse bloco [áreas C e D] para lá, estava tudo lotado. E nós aqui, sentados”, contou.
O Complexo possui 17 quiosques, separados por áreas indicadas por letras. Neles todos, há seis mesas na parte superior e 10 mesas na areia. A cada 20 a 30 dias, duas novas áreas serão segregadas para a troca do piso. Foi autorizada a realocação das seis mesas da parte superior para a areia.
No entanto, a medida não é suficiente, segundo Natália. “A mudança [no piso] é boa, a data que foi errada. Nós temos a área da areia, mas à noite a clientela fica aqui em cima. E a gente fica prejudicado”, explicou.
Irmã de Natália e permissionária do quiosque Samburá, Ana Carina de Lima, 38, enfatizou que a obra no piso é “fundamental”, pois “estavam acontecendo acidentes, pessoas tropeçando. Temos a consciência de que precisamos da troca do piso. Mas, na alta estação, prejudica bastante”.
“Antes das festas de fim de ano, dá uma baixa, porque as pessoas estão comprando, e a gente sente bastante. Agora é a hora de tentar se estabilizar para a chegada da quadra invernosa, aí a obra veio”, relatou.
“Foi um impacto grande, principalmente para os quatro primeiros quiosques interditados. Para eles, caiu 50% da renda”, enumerou ela.
Na visão de Ana Carina, o governo estadual pode ajudar com mais divulgação do Complexo. “É divulgar na TV, dizer ‘vamos para o Complexo, está funcionando normalmente’. É fundamental para trazer o público”.
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Maria Luísa de Souza Silva, 55, é outra permissionária do Complexo. Ela concorda que houve prejuízo para os quiosques. “Mas tudo foi dialogado e conversado. Tivemos a oportunidade de não aceitar. Fomos avisados, tivemos reuniões, discutimos com os responsáveis”, argumentou ela.
“Na reunião em que eu pediria mais dias, tive enxaqueca e não compareci. Todos os permissionários estavam presentes, menos eu”.
“Eles confiam que a voz ativa é a minha. Mas cada um sabe de seus direitos, de suas dores e de seus problemas financeiros. Cabia aos outros presentes pedir o atraso dessa obra”, disse ela, que é presidente da Associação dos Permissionários e das Famílias Nativas e Tradicionais da Sabiaguaba.
Maria Luísa acrescentou que “o momento passa e vêm as melhorias. E o dinheiro, diante das pessoas se acidentando com o piso flexível, não é nada. Para nós, esse sacrifício vale a pena. Dinheiro a gente conquista mais tarde”.
Consumidores
Para consumidores como Gláucia Régia Oliveira, 52, que não havia reparado no desgaste do piso, a obra “com certeza” valorizará o local.
Ela, o marido e a filha visitavam o Complexo pela primeira vez neste domingo. Moradora de Maracanaú, na Região Metropolitana de Fortaleza, Gláucia elogiou “a comida boa e a vista boa” do local. “Estou gostando bastante, é um ambiente bem lindo e aconchegante. Com certeza eu volto”.
Para Vitória Silva de Oliveira, 28, que passeava com o marido, a revitalização é “importante para valorizar” o Complexo.
“Melhor trocar agora antes que se acabe todo. Geralmente é assim, espera se acabar para depois fazer. Ainda bem que [a situação do piso] ainda está habitável”, pontuou ela.
Segundo Márcio Marinho, representante da administração do equipamento, o piso será trocado por madeira ipê de três centímetros (cm), material ecologicamente correto, escolhido por sua durabilidade.
“Como temos uma movimentação intensa, se verificou essa necessidade, até pela segurança de todos”, explicou ele.
“Estamos trabalhando com celeridade e responsabilidade para oferecer um espaço mais seguro e confortável, sem deixar de atender à população”, complementou Caio Quinderé, gestor executivo do Complexo.
“Este é mais um passo importante na valorização do Parque Estadual do Cocó e no fortalecimento do turismo sustentável e da economia local”, disse.
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Outros pontos de atenção no Complexo
A substituição do piso é louvada por permissionários e clientela, mas outros pontos de atenção do Complexo são elencados. Um deles é a alta temperatura das cozinhas. Ana Carina de Lima relatou já ter tido três quadros de desidratação desde que inaugurou seu quiosque.
“Se você tiver com as 12 bocas de fogão ligadas, chega a 50 °C na brincadeira. Não conseguimos mão de obra porque ninguém suporta o calor, fica doente. A secretaria disse que estão vendo essa situação, mas está demorando muito. Vamos entrar no terceiro ano e nada acontece sobre o calor excessivo”.
A Sema esclareceu que deve ocorrer instalação de exaustores nas cozinhas após a revitalização do piso. Etapa estaria em licitação pelo Governo do Estado. “Ideia é realizar as melhorias em etapas para não prejudicar o funcionamento dos permissionários e o acesso do público”, informou a pasta.
Além disso, os toldos que protegem as mesas na parte superior do Complexo são criticados por não cumprirem a missão de formar sombra.
“Prejudicam permissionários da ponta. Eles não funcionam nesse horário [meio-dia]. Pode ver, as mesas estão bem arrumadinhas, mas o sol está em cima, não deixa os clientes ficarem. Já é um prejuízo. Mas acredito também que a Sema está resolvendo”, comentou Maria Luísa de Souza Silva.
Ana Carina sugeriu erguer a altura dos toldos. “O vento passaria por baixo e melhoraria a situação”, argumentou a permissionária.
O gestor executivo do Complexo, Caio Quinderé, declarou que a Prefeitura planeja alteração no toldo e que já há orçamento em curso. Após o processo do piso, serão instaladas intervenções entre um quiosque e outro.
“Aqueles quiosques que ficam de esquina receberão intervenções no meio, para amenizar o calor. Estamos vendo o material mais adequado para ser usado, está sendo estudado”, concluiu Caio.
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O que é o Complexo da Sabiaguaba?
Localizado as margens do rio Cocó, o Complexo da Sabiaguaba faz parte do Parque Estadual do Cocó e está vinculado à Sema. É gerido pelo Instituto Dragão do Mar (IDM), organização social que administra outros 15 espaços públicos no Ceará em parceria com o Governo do Estado. No próximo dia 7 de julho, completa três anos de sua fundação.
O espaço se tornou referência na Capital em lazer, gastronomia e atividades ao ar livre. Possui quiosques de gastronomia tradicional, além de programação cultural, shows gratuitos e do museu Centro de Memória Raízes da Sabiaguaba, que aborda histórias da população do bairro.
Serviço
Complexo Ambiental e Gastronômico da Sabiaguaba
- Gratuito, aberto todos os dias, exceto terças-feiras
- Endereço: Rua Sabiaguaba, 832 – Sabiaguaba
- Horário: 10 horas às 22 horas (dias úteis); 9 horas às 22 horas (sábados, domingos, feriados e férias); 11 horas às 19 horas (Centro de Memória)
- Classificação indicativa: Livre
- Shows aos sábados, às 16 horas, sem cobrança de couvert