Dediane Souza é a primeira travesti a lançar livro pela Editora UFC
Lançado nesta segunda-feira, 16, o livro "Dando o Nome", traz uma reflexão sobre as condições de vida e morte das travestis no Brasil, utilizando como ponto de partida o brutal assassinato de Dandara Katheryn, em 2017A Editora da Universidade Federal do Ceará (UFC) lançou nesta segunda-feira, 16, o livro “Dando o Nome”, de Dediane Souza, primeira travesti a publicar uma obra pelo selo editorial da instituição. O livro, que integra a coleção Flecha, traz uma análise profunda sobre a morte de Dandara Katheryn, assassinada em 2017, e reflete sobre a vulnerabilidade das pessoas trans e travestis no Brasil.
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A pesquisa, que deu origem à publicação, foi desenvolvida durante o mestrado da autora no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFC e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab). Atualmente, ela é doutoranda em Antropologia Social pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Segundo Dediane, o livro é uma ferramenta para a disputa de narrativas e um chamado para a construção de uma antropologia mais inclusiva e humanizadora.
"Até quando vamos ter que morrer para que outras de nós possam viver em condições menos precárias? Este livro é uma disputa de narrativa sobre a nossa humanidade, mas também sobre pertencimento, vida e resistência. É o reflexo de uma luta que extrapola o campo acadêmico e invade o campo do afeto, da política e da identidade", declarou a autora.
A obra também homenageia figuras históricas da militância travesti, como Janaína Dutra e Thina Rodrigues, além de abordar a trajetória pessoal da autora, que dedica a publicação às "irmãs travestis".
"Esse livro também fala sobre acolhimento, como o que encontrei em um terreiro de candomblé aos 17 anos, onde fui acolhida como travesti. Escrever é uma forma de luta e, ao mesmo tempo, um gesto de reconstrução da nossa humanidade", afirmou Dediane.
Publicação reflete busca por diversidade, diz membro da equipe editorial
Juliana Diniz, professora da UFC e membro da equipe editorial, ressaltou a importância da publicação no cenário acadêmico.
"Esta obra não é apenas um livro, é um marco que reflete a busca da Editora UFC por diversidade e representatividade. Dediane Souza nos entrega um trabalho de qualidade que transcende as barreiras tradicionais do espaço acadêmico. Nosso objetivo é democratizar o acesso ao conhecimento e dar voz a perspectivas antes silenciadas", disse Juliana.
A coleção Flecha é composta por cinco obras que abordam temas diversos, como o impacto da extrema direita no WhatsApp, autonomia digital e resistência à ditadura militar. Todas foram selecionadas por um conselho editorial que utilizou critérios de avaliação cegos, garantindo imparcialidade.
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Para Gorete Oliveira, que trabalha na Secretaria de Cultura e é colega de Dediane, o livro pode ser um divisor de águas.
"Este livro é um manual de humanidade. Ele nos chama a refletir sobre a nossa própria existência e a das outras pessoas. Espero que seja capaz de abrir mentes e transformar a realidade brutal de violência. Ele tem força para mudar histórias e construir um futuro de mais respeito e paz", afirmou.
Miguel Rodrigues, mestrando em Antropologia, também destacou a importância de ver a UFC abrindo espaço para vozes como a de Dediane.
“As expectativas para ler esse livro são muitas, espero aprender muito, além do que já aprendi com ela, e agora vou ter a oportunidade de aprender por meio da escrita. Além disso, essa retomada da Editora da UFC, é um marco muito grande, pois estava comigo desde a época do vestibular. Que bom que eles abriram espaço para um livro de uma travesti ser lançado, pois assim mostra que a universidade tá seguindo pelo caminho certo”, disse.
Colaborou Barbara Mirele/Especial para O POVO