MPCE pede fiscalização do TCE em órgãos de saúde de Fortaleza
Ministério Público investiga suspeita de irregularidades no IJF, Samu e Hospital da Mulher; Prefeitura tem denúncias de negligência em diversas áreasO Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) solicitou ao Tribunal de Contas do Estado (TCE) uma fiscalização em órgãos de saúde de Fortaleza. O pedido é relacionado a supostas irregularidades na transição de governo entre a atual gestão do prefeito José Sarto (PDT) e a chapa escolhida nas eleições deste ano, encabeçada por Evandro Leitão (PT).
Segundo o MPCE, há risco de "impactos no funcionamento da unidade em razão de eventual omissão ou falta de informações para garantir a continuidade administrativa e operacional".
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Foram repassadas ao órgão denúncias referentes a atendimentos precários em equipamentos públicos de saúde sob gestão municipal.
O pedido encaminhado ao TCE inclui inspeções no Instituto Dr. José Frota (IJF), no Hospital e Maternidade Zilda Arns Neumann (Hospital da Mulher) e no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
O MPCE afirmou ainda que a equipe de transição de Leitão relatou "precariedade de informações" por parte da atual gestão da Prefeitura. Este ponto tem sido repetido constantemente pelo próprio Evandro, pela vice-prefeita eleita, Gabriella Aguiar (PSD), e por vereadores.
Prefeitura é acusada de negligência após eleição
O pedido do MPCE ao TCE é o mais recente de uma série de situações envolvendo a Prefeitura de Fortaleza após as eleições municipais deste ano. Após a derrota de Sarto, cresceu a reclamação em relação aos órgãos, equipamentos e programas públicos municipais que estariam passando por diversos problemas.
Saúde
A situação no próprio IJF foi denunciada pela primeira vez no começo de novembro. A Cooperativa dos Médicos Traumatologistas e Ortopedistas do Estado do Ceará (Coomtoce) chegou a anunciar a suspensão dos atendimentos no hospital devido a um atraso nos pagamentos, por um período de quatro meses, ultrapassando R$ 800 mil. Segundo a entidade, haveriam também problemas ligados à suspensão de contratos, falta de suprimentos e condições inadequadas de trabalho.
A situação levou o MPCE a mover ação civil pública contra a Prefeitura. De acordo com o órgão, mais de 70% das medicações e 50% dos insumos estariam, à época, com estoque zerado.
Após ter sido notificada pela Justiça, a administração municipal criou uma força-tarefa para gerir o IJF, que é habitualmente gerenciado por uma superintendência vinculada à Prefeitura.
A situação se estende a outras unidades de saúde. Pacientes dos Frotinhas e de UPAs relataram falta crônica de medicamentos, equipamentos quebrados e recusa em atendimentos. Problemas similares foram denunciados no Hospital da Mulher.
Em uma audiência de conciliação com o MPCE, a Prefeitura se comprometeu a apresentar um plano de ação para o IJF até 6 de dezembro. Articulações do prefeito eleito com parlamentares e com o Governo Federal garantiram repasses adicionais ao IJF.
Cerca de R$ 9,6 milhões foram enviados em caráter imediato pelo Ministério da Saúde, que também garantiu um aumento de R$ 9 milhões no repasse mensal, indo de R$ 15 para R$ 24 milhões. Outros R$ 34 milhões, vindos de emendas parlamentares, foram prometidos pela senadora Augusta Brito (PT).
Ainda na área da saúde, os salários de profissionais do Samu, entre outros serviços e equipamentos, estariam com atraso desde setembro. Devido à falta de pagamentos e de profissionais, ambulâncias estariam deixando de circular.
Na Aldeota, funcionários do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) da Regional II foram informados, ainda em outubro, que a unidade iria para outro imóvel, e orientados a empacotar móveis e equipamentos. Até o final de novembro, no entanto, a transferência não havia sido concluída.
Os equipamentos só foram levados do prédio antigo três semanas após serem guardados, e ainda não foram instalados na nova sede. Pacientes que buscam atendimento são enviados para outras unidades de saúde. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, a nova sede será inaugurada em janeiro de 2025.
A Prefeitura estaria, também, deixando de entregar insumos para pacientes idosos e acamados. A falta de fornecimento ocorre mesmo em casos garantidos por decisões judiciais.
Na quinta-feira, 12, trabalhadores do IJF realizaram outra paralisação dos atendimentos. O motivo, desta vez, foi a redução na quantidade de alimentos fornecida a funcionários, pacientes e acompanhantes. Na quinta-feira, o envio de comida foi totalmente suspenso. O MPCE também cobrou explicações à Prefeitura sobre a situação.
As problemáticas na área fizeram as reclamações contra a Prefeitura dispararem. Segundo o MPCE, houve aumento de 1.100%, após as eleições, nas queixas sobre serviços e equipamentos de saúde do município.
Assistência social
Outra área que tem sofrido impactos recentemente é a assistência social. O Bolsa Jovem, programa que fornece ajuda de custo para jovens promoverem atividades culturais, esportivas e educacionais, sofreu um corte repentino no final de novembro. Após reação dos beneficiários, a Prefeitura recuou da decisão e retomou os pagamentos.
Também em novembro, um dos Centros POP, que atendem pessoas em situação de rua, foi fechado sem aviso prévio. O aluguel do prédio onde funcionava o equipamento, no Centro, estava atrasado, e um caminhão da Prefeitura chegou a levar toda a mobília do local. Após intervenção do MPCE, os objetos foram devolvidos e o local voltou a funcionar.
Por fim, a Prefeitura foi obrigada por decisão judicial a convocar profissionais de assistência social, também no fim de novembro. A seleção pública para 200 vagas nos Centros de Referência em Assistência Social (Cras) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), só foi concluída após uma ação civil pública contra a administração municipal.
Infraestrutura
Obras da Prefeitura também fazem parte da lista de problemas da gestão. No Centro, a restauração das estátuas da praça General Tibúrcio, prevista para acabar em novembro, foi adiada para "até o fim do ano", segundo a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor). A poucos metros dali, a reforma da Praça do Ferreira, que deveria ser entregue antes do Natal, só começará em 2025.
Os "xiringadores", equipamentos de hidratação para pedestres e ciclistas, foram removidos das ruas. Segundo a Prefeitura, os objetos eram uma "fase piloto" do projeto. De acordo com a gestão municipal, uma licitação está aberta e irá aumentar a quantidade das estações para 150, com credenciamento até 24 de dezembro. O custo estimado é de R$ 16,3 milhões.
Outra licitação, com valor de R$ 4,1 bilhões, foi anunciada em novembro — com abertura em 30 de dezembro, penúltimo dia da gestão. O contrato, com duração de 15 anos, era referente à gestão da iluminação pública municipal. Após críticas, a Prefeitura suspendeu o edital.
Falta de pagamentos
A Prefeitura também é acusada de, nos últimos meses, não honrar pagamentos de servidores, funcionários terceirizados e fornecedores de produtos e serviços. Embora a maior parte dos casos se concentre na área da saúde, há reclamações em diversos setores.
Na Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), por exemplo, o adicional noturno a funcionários que trabalham entre 22 e 5 horas não é pago desde novembro. Na Guarda Municipal, o curso de qualificação, exigido para a promoção de agentes, não está ocorrendo, mesmo com decisão judicial obrigando a Prefeitura a realizar a formação.
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