Suspeita de falsificar diplomas para dar aulas em faculdades de Fortaleza é indiciada

Polícia apontou que Érica Silina de Almeida Meneses incorreu no crime de Uso de Documento Falso. Ela confessou ter apresentado diplomas falsos, mas afirmou que estava tentando validar formações que teve

Uma professora que lecionou por anos em faculdades particulares de Fortaleza foi indiciada no último dia 25 de novembro por uso de documento falso (artigo 304 do Código Penal Brasileiro). Érica Silina de Almeida Meneses Alves, de 52 anos, confessou, em depoimento à Polícia Civil, ter falsificado diplomas de graduação, mestrado e doutorado.

Ao O POVO, ela afirmou ter realizado diversos cursos nas áreas de Psicologia e Matemática e que estava tentando validar essas formações — que incluem, por exemplo, curso de Psicologia Cognitiva LPAD com carga horária de 4.200 horas e experiências como bolsista no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (USP).

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Érica disse que os diplomas que apresentou para obter os empregos de professora foram feitos no intuito de validar o que colegas dela, que fizeram os mesmos cursos, já haviam conseguido.

O caso foi descoberto em junho deste ano, conforme inquérito policial, instaurado pelo 34º Distrito Policial (34º DP), ao qual O POVO teve acesso. A Faculdade CDL, onde Érica estava trabalhando desde outubro de 2022, constatou algumas inconsistências nos documentos apresentados por ela no momento da contratação.

Não foi possível, por exemplo, comprovar a existência do suposto orientador do mestrado dela em Psicologia. A partir disso, foi feita uma análise de todo o currículo que a professora havia apresentado. Ao contatar as instituições de ensino que teriam emitido os diplomas de ensino superior de Érica, a faculdade descobriu que os documentos eram falsos.

Érica dizia ser bacharel e mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e mestre e doutora em Matemática pela USP. Ela também afirmava ter licenciaturas em Matemática e Pedagogia na Universidade Estadual do Ceará (Uece). Todas as instituições negaram as informações.

O Conselho Regional de Psicologia também informou que ela não tinha registro profissional. À Polícia, Érica confirmou que fabricou em casa os diplomas, assim como disse não ter nenhuma graduação — embora esteja cursando atualmente Pedagogia e Matemática.

A Uece identificou que ela se matriculou em Ciências Sociais e Física durante os anos 1990, mas que desistiu no decorrer das graduações.

Érica foi demitida da faculdade por justa causa pela Faculdade CDL, que ainda procurou a Polícia Civil solicitando a instauração de inquérito. A sindicância instaurada pela instituição também recomendou que o Ministério da Educação (MEC) fosse contactado para que fossem repassadas orientações sobre a situação das disciplinas por ela ministradas.

O inquérito policial foi enviado ao Ministério Público Estadual (MPCE), que ainda decidirá se oferece ou não denúncia à Justiça. Após o caso vir à tona, Érica excluiu de seu currículo Lattes as referências aos títulos.

Após a publicação desta matéria, no domingo, 5, Érica acrescentou que três diplomas foram entregues, em setembro, na delegacia “devidamente registrados pelo MEC, faltando dois a serem apresentados”. 

Estudantes disseram ter experiências “extremamente positiva”

Em depoimento no 34º DP, funcionários da Faculdade CDL afirmaram que Érica foi contratada em uma seleção simplificada, devido à urgência que a instituição tinha de contratar uma professora para o curso de Psicologia.

Também foi informado nas oitivas que os estudantes tiveram uma resposta “extremamente positiva” das aulas por ela ministradas.

Em entrevista concedida a O POVO — ao lado de sua advogada, Fernanda Oliveira —, Érica afirmou que todo o caso diz respeito apenas a “questões administrativas” que não foram resolvidas a tempo.

Ela disse ter postergado as equiparações dos diplomas que tinha, assim como detalhes técnicos atrapalharam esse processo.

Érica citou, por exemplo, ter perdido acesso a email e telefone utilizados no cadastro da instituição onde cursou Psicologia Cognitiva e que também teve problemas em relação a mudanças em seu RG e ao adotar o sobrenome do marido.

Ela também reforçou que, em mais de 20 anos de trajetória, jamais teve sua competência ou conhecimento questionados, tendo, inclusive, orientado e participado de bancas acadêmicas.

O POVO procurou a Faculdade CDL para obter um posicionamento oficial, mas a instituição disse que não iria se manifestar. O Centro Universitário Estácio, onde Érica também lecionou, não respondeu até o fechamento desta matéria.

Professora apresentou diplomas à delegacia

Atualizada em 15/12, às 18h44min

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