Remada solidária na Beira Mar celebra cirurgia de educador físico
Momento realizado pela escola Kaykeria recebeu inscrições em dinheiro, doadas para cirurgia de Vicente Cristino, educador físico querido pela comunidade
14:03 | Nov. 24, 2024
Em meio a turistas e transeuntes que desde cedo estavam na avenida Beira Mar, em Fortaleza, na manhã deste domingo, 24, um grupo se reuniu para uma “remada solidária”. Momento foi proporcionado pela escola Kaykeria e aconteceu a fim de arrecadar fundos para custear uma cirurgia para o educador físico Vicente Cristino.
Segundo Galdino Malandrino, 43, representante da Kayakeria, seis canoas foram disponibilizadas para a atividade de hoje. Trinta inscrições, que custavam R$ 30, foram recebidas.
O dinheiro arrecadado foi enviado para Vicente. Ele é fundador de projetos sociais que envolvem esportes e pessoas com deficiência e parceiro de longa data da Kayakeria e outras escolas.
A ideia da remada solidária veio no momento que o “mundo dos esportes náuticos descobriu que Vicente precisaria dessa cirurgia de valor alto.” "As pessoas precisaram, de alguma forma, retribuir o que ele faz."
A fortalezense Rafaela Pinheiro, 38, concorda: ela é mãe de Bento, criança autista não-verbal cuja socialização é promovida pela participação no Projeto Remar, fundado por Vicente Cristino.
Segundo a mãe — que participou da remada solidária —, o contato com a água por meio das aulas de remo servem “como terapia mesmo” para o filho. “Não falto, temos uma rotina na semana. Ajuda muito na socialização e nas questões sensoriais ao entrar em contato com água e areia. É muito benéfico”, relata.
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Por isso, Rafaela demonstra “muita alegria e satisfação” por ajudar Vicente; afinal, ele “dedica a vida às pessoas com deficiência”. "É escasso ter gente que se volta a esse público, por isso o professor Vicente merece tudo isso."
Na visão de Galdino, as atividades de Vicente são uma “demonstração do amor”. Ele exemplifica isso com o fato do Projeto Remar ser composto por voluntários, mas, apesar disso, “nunca [diz] não, é sempre sim” para novos alunos. “Eles sabem o quão importante é o trabalho com as crianças.”
“Você vê, no brilho do olhar dele, que ele é uma pessoa que ama o que faz. Você vê que ele o esforço e a correria dele [mostram] a paixão por somar com famílias que precisam ser acolhidas”, finaliza o instrutor de caiaque.
Professor realizou cirurgia e está em recuperação
Vicente Cristino não compareceu à remada solidária neste domingo, mas por um bom motivo: ele está em casa, em recuperação, após já ter passado pela cirurgia que precisava no tratamento contra câncer de próstata.
Por telefone, ele explicou que o procedimento foi realizado na última quarta-feira, 20. A previsão era que durasse quatro horas, mas durou três horas, segundo ele.
A cirurgia, de caráter robótico, custou R$ 22 mil e não era coberta pelo plano de saúde de Vicente; por isso surgiu a campanha de arrecadação.
Além dos alunos do Projeto Remar, outros fortalezenses tocados pelo trabalho de Vicente se solidarizaram, como as beneficiadas pelo Amar Rosa, grupo de apoio e prática de atividades físicas para mulheres que superaram o câncer de mama. Também houve uma rifa e contribuições individuais em dinheiro.
“Foi um sentimento geral dos ciclos que frequento”, analisa o educador físico. Ele lida, há mais de 35 anos, com reabilitação física e atende pessoas com deficiência e/ou com doenças que afetam questões como mobilidade. A maioria, segundo ele, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“A própria história diz: ‘se você planta, você colhe’. As pessoas tomaram conhecimento do que eu estava passando. Colegas e amigos abraçaram e fizeram a campanha, que foi se estendendo. Nada foi no meu nome, só repassavam as quantias para pagar os serviços”, explica Vicente.
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Após a cirurgia — indicada para o caso dele por ser menos invasiva —, o educador está limitado a fazer caminhada, por prescrição médica. Ele contou que, meses atrás, quando recebeu o diagnóstico em uma consulta de rotina, intensificou exercícios físicos e respiração para auxiliar na recuperação.
A área em que ele atua, de atividade física adaptada, tem alta demanda. “Através do esporte, contribuímos para a quebra das discriminações e mostramos para as pessoas que elas têm capacidade”, conta.
Para pessoas com deficiência, o esporte “previne deficiências secundárias” e mostra “que a pessoa pode participar de atividades, pode fazer”. Se não houvesse o preconceito, “a gente ia quebrar ainda mais barreiras”, narra.