Projeto de precursores da capoeira cearense promove encontro de gerações
Em terceira edição, o evento objetiva promover e valorizar a capoeira local, apresentando o seu legado e a trajetória atual no EstadoQuando chegou em Fortaleza, mestre Squisito trazia “uma missão debaixo do braço”: estabelecer um espaço onde pudesse ensinar capoeira. Anos depois, com o objetivo cumprido, senta-se e cumprimenta a plateia antes de o 3º Encontro dos Precursores da Capoeira Cearense começar.
Nascido Reginaldo da Silveira Costa, as histórias da infância no interior de Minas Gerais moldaram o caminho que o conduziu até o Centro Cultural Belchior, na capital do Ceará, no final da tarde deste sábado, 23. “Lá existiam histórias de ex-escravizados que eram capoeiristas e que derrotaram a polícia da cidade toda. Então, a fantasia, o imaginário daquilo, teve muita força. Nunca esqueci”, lembra.
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Em seu terceiro ano consecutivo, o projeto de precursores da capoeira do Ceará busca resgatar a história da expressão cultural na região e valorizar a sua origem no Brasil. Para isso, o grupo reconhece a importância de cada indivíduo.
Jogando, dançando e lutando há 50 anos, 45 deles em Fortaleza, mestre Squisito conseguiu o que se propôs a fazer. O Terreiro Capoeira é “um sonho que hoje está espalhado em diversos países”.
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“Hoje, graças a Deus, a capoeira tem acesso a alguns espaços importantes. Na universidade tem muita gente pesquisando, estudando; tem uma influência muito forte do exterior”, reflete. “A capoeira está tombada como patrimônio cultural da humanidade desde 2013 e isso deu uma visibilidade diferenciada para todo o movimento”.
A visão sobre a mudança positiva é compartilhada por Eduardo Fernando Araújo Lima. Participando da organização no evento, ele é mais conhecido por outra designação: mestre Dunga. “Ontem foi a minha formatura de mestre na Uece (Universidade Estadual do Ceará) e o tema foi a capoeira e a promoção da saúde.”
Capoeira no Ceará: o legado dos precursores
Quando Dunga conheceu a capoeira, era um jovem de “16 para 17 anos” na década de 1970. “Eu e alguns amigos, aqui da rua Idelfonso Albano, treinávamos esporadicamente, sem mestre: era uma capoeira de rua”, conta.
O grupo cresceu de maneira “autodidata”, como explica. “Não existia a Internet. Era algo boca a boca, mais uma linguagem oral. A gente raramente via pessoas jogando capoeira”.
Para conseguir informações, Eduardo se voltava às revistas de artes marciais e relembra um dos títulos que consumia: “Dô”. “A gente desenvolveu uma capoeira meio folclórica, até a chegada do mestre Squisito, o cara que deu o pontapé inicial nos precursores na capoeira do Ceará”, finaliza.
As lembranças também voltam a Jean Araújo Teixeira, o mestre Jean, que se interessou pela prática em 1979 na Feira dos Municípios, que acontecia na avenida Bezerra de Menezes.
“Era uma feira agropecuária, na verdade. Eu ia passando e escutei o barulho tradicional da capoeira: as palmas e o berimbau”, inicia. “Aquilo me levou até uma roda realizada pelo povo, e eu vi que aquilo tinha algo de diferente, era um espaço ritualístico e sagrado”.
O “primeiro encontro mágico” na época também o conectou ao mestre Squisito. “Daqui ele foi embora para Brasília e eu fui para o Tocantins. Agora estou em Belo Horizonte, mas todo ano a gente se encontra aqui.”
O 3º Encontro dos Precursores da Capoeira Cearense, realizado no Centro Cultural Belchior, na Praia de Iracema, culminou em um encerramento prático sobre a expressão cultural: seguindo o ritmo da roda de capoeira.
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Capoeira no Ceará: manifestação reconhecida pela Unesco
A tradição transmitida pelos mestres é reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) como um “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade”. A decisão foi divulgada em 2014.
A manifestação cultural, de origem afro-brasileira, foi marginalizada e chegou a ser proibida no País até a década de 1930, quando o governo de Getúlio Vargas a considerou um esporte nacional.
A roda de capoeira também é reconhecida, desde 2008, como um patrimônio cultural brasileiro conforme o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).