Fortaleza perdeu 83,7% de sua cobertura vegetal nativa e tem 60 áreas vulneráveis ao desmatamento

Pesquisas da UFC indicam que todas as Unidades de Conservação da Cidade possuem áreas degradadas e são mal avaliadas conforme as normas do Cadastro Nacional de Unidades de Conservação
Autor Bianca Nogueira / Especial para O POVO
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Evitar o sol de meio-dia, andar com sombrinha, ventilador no três, ar-condicionado sempre ligado. São muitas as formas que os fortalezenses buscam para minimizar o calor no dia a dia. Para quem precisa sair, o restante dos espaços verdes urbanos são aliados cada vez mais escassos.

Segundo duas pesquisas da Universidade Federal do Ceará (UFC), apenas 16% das áreas com vegetação nativa ainda sobrevivem ao crescimento urbano, e outras 60 estão sujeitas ao desmatamento na capital cearense. Cenário propício ao aumento das temperaturas e à ocorrência de enchentes, segundo o professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar/UFC), Marcelo Freire Moro.

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O mapeamento realizado por Maria Lígia Farias Costa, estudante de Ciências Ambientais, identificou quanto sobrou da cobertura vegetal originária da cidade e mostrou que 83% do território já foi desmatado e modificado pelo avanço das construções urbanas. A área afetada é maior que o Reino Unido e equivalente a aproximadamente 26 mil campos de futebol ou ao estado do Amapá.

Fortaleza passou por um processo de urbanização acelerado e sem planejamento, o que ocasionou a ocupação desordenada das áreas”, explica Maria Lígia.

Segundo a pesquisadora, por conta desta desorganização habitacional podemos perceber áreas com mais e outras com menos cobertura vegetal. Exemplo observável quando comparamos a região do Parque Estadual do Cocó com o oeste da cidade, que são respectivamente os espaços com mais e menos fragmentos de vegetação.

Na pesquisa, a estudante indica que dos 83% de área perdida, 62% foi antropizada — tornou-se um espaço urbano consolidado — e 21% corresponde a mata não nativa ou danificada — transformada em terreno baldio—, mostrando que edificações, concreto e asfalto foram priorizados durante o processo de urbanização.

Para reverter o cenário que considera grave, Maria Lígia propõe a implementação de corredores ecológicos. Espaços verdes que seriam responsáveis por conectar os fragmentos de cobertura vegetal e ampliar a malha verde da cidade. “Para a conservação desses locais precisamos manter a diversidade da fauna e da flora unidas. Uma ferramenta para isso é a implementação de corredores ecológicos na modelagem que fiz, com lugares que têm potencial de se tornar um”.

De acordo com o site do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Corredores Ecológicos têm como objetivo conectar áreas de vegetação a Unidades de Conservação (UCs), diminuindo os efeitos da fragmentação dos ecossistemas, promovendo a ligação entre diferentes áreas, permitindo o deslocamento de animais, a dispersão de sementes e o aumento da cobertura vegetal.

 

Outra pesquisa realizada por Laymara Xavier Sampaio no mestrado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (Prodema) sobre a eficiência das Unidades de Conservação e a vulnerabilidade da cobertura vegetal da cidade, identificou 60 áreas sujeitas ao desmatamento.

O estudo revelou que, ao longo do processo de urbanização, Fortaleza manteve 6.098,45 hectares de áreas verdes naturais ou seminaturais, das quais 2.185,83 não estão protegidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).

A partir da pesquisa foi possível identificar que todas as Unidades de Conservação de Fortaleza possuem áreas degradadas e não estão cumprindo integralmente sua função de preservação. As áreas totais perdidas variam de 10 a 50% em cada UC individualmente.

“Se a Unidade de Conservação é de uso sustentável, ela precisa cumprir com os papéis do uso sustentável. Então ela precisa ter uma tarefa importante em educação ambiental. A maioria das unidades de conservação de Fortaleza está mal avaliada pelos critérios do Cadastro Nacional”, diz Laymara.

Das UCs analisadas pela estudante, a Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Maranguapinho é a menos protegida, com 91% da sua extensão degradada e 62% já urbanizada. O trabalho também pontua que apesar do município manter 3.819,31 hetares de superfície em Unidades de Conservação, isso não se traduz na preservação total dos territórios.

Unidades de Conservação computadas na pesquisa

  • Parque Estadual do Cocó
  • Parque Natural Municipal da Sabiaguaba
  • ARIE da Floresta do Curió
  • ARIE das Dunas do Cocó
  • ARIE da Matinha do Pici
  • ARIE do Cambeba
  • ARIE Prof. Abreu Mattos
  • APA do Rio Pacoti
  • APA do Rio Maranguapinho
  • APA da Lagoa da Precabura
  • APA do Rio Ceará
  • APA da Lagoa da Maraponga 

Metodologia

A estudante de Ciências Ambientais Maria Lígia Farias Costa identificou a existência de sete tipos de ecossistemas naturais no município de Fortaleza utilizando como base a classificação geomorfológica de Santos de 2016 e classificação dos tipos de vegetação de Moro et al. de 2015.

As vegetações identificadas foram: Campo e arbustal praiano (Terraço marinho), Ecossistema de dunas (Dunas móveis, fixas e paleodunas), Vegetação dos tabuleiros costeiros (Tabuleiro costeiro), Manguezal (Planície flúvio-marinha), Mata ciliar (Planícies fluviais), Caatinga do cristalino (Depressão sertaneja) e Mata seca (Vulcânicos residuais).

Para as representações de mapas, ela utilizou imagens de satélite do projeto de Zoneamento Ecológico Econômico da Zona Costeira do Ceará (ZEE - CEARÁ) de 2021 e adotou imagens do satélite Sentinel 2A; bandas 4,3,2; adquirida através da plataforma do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

A partir das imagens obtidas, ela definiu as nove classes de cobertura (cursos d’água, dunas/faixa de praia, vegetação degradada e arborização introduzida, vegetação florestal, vegetação campestre e áreas urbanizadas) que ocuparam as áreas de vegetação originária indicadas na pesquisa.

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