Pacientes denunciam falta de medicamentos e de profissionais no IJF e nos Frotinhas de Fortaleza

Relatos dão conta de que pacientes internados não recebem remédios e usuários do SUS teriam sido mandados embora sem atendimento. Justiça deu até sábado, 16, para Prefeitura se manifestar sobre problemas no abastecimento de materiais essenciais no IJF

Pacientes do Instituto Doutor José Frota (IJF) denunciam a falta de medicamentos e insumos básicos na unidade. O IJF, em Fortaleza, é o principal hospital do Ceará para vítimas de traumas complexos. Relatos apontam que há escassez de antibióticos e até de medicamentos simples, como dipirona, além de itens essenciais, como esparadrapo, gaze, algodão e álcool.

Os pacientes também relatam que aguardam por semanas e até meses para realizar procedimentos cirúrgicos. O Sindicato dos Médicos do Ceará informou ao O POVO que, além da falta de insumos, a demora se deve à ausência de profissionais na unidade, causada por atrasos nos pagamentos dos médicos terceirizados.

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A moradora de Pacoti, Patriciane do Nascimento Silva, esteve por 15 dias como acompanhante do marido durante internação no IJF. Vítima de um acidente de moto, o homem fraturou a perna e o braço. Ela relata que, desde o início da internação, os problemas de falta de recursos impactaram na saúde do esposo.

“Começou a faltar esparadrapo, algodão e álcool, itens para a higienização e troca de curativos. Por isso, meu marido acabou tendo uma infecção”, comenta. Ela explica que, posteriormente, também ocorreu a falta de medicações.

“Ao invés de antibiótico, [os médicos] ofereciam outros tipos de remédios, mais fracos. Apesar de ser para dor, não era tão eficaz, e meu marido acabava sentindo mais dor do que o necessário”, disse.

Já a moradora de Maracanaú, Fabiana Silva, acompanha há 27 dias o marido vítima de um acidente de trânsito. No entanto, a espera por uma operação também teria se prolongado devido à falta de recursos no hospital.

“Os médicos dizem que falta tudo: não tem medicamentos, anestesistas, fita, gaze e até algodão para os curativos. Como é que vão operar se não têm o que precisam?", questiona.

A preocupação de Fabiana se agrava pelo fato de que seu marido estaria apenas recebendo dipirona para a dor. "Já procurei outras alternativas, mas uma cirurgia dessas custa uns 15 ou 20 mil reais, e não temos condições financeiras para isso".

Justiça dá prazo para manifestação da Prefeitura

A Prefeitura de Fortaleza tem até este sábado, 16, para se manifestar sobre a falta de medicamentos e insumos no Instituto Doutor José Frota (IJF), conforme determinação do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), que deu à gestão 72 horas após o recebimento da notificação para se manifestar sobre o desabastecimento de materiais essenciais ao hospital.

Em resposta, a Prefeitura informou que atenderá à decisão dentro do prazo, mas não especificou datas e ações a serem implementadas.

O Sindicato dos Médicos do Ceará relata que a situação no IJF aparenta ter se agravado. “Vale ressaltar que esse é um problema antigo e crônico, mas que, recentemente, nos últimos dias e semanas, se intensificou”, comenta o médico radiologista do IJF e secretário-geral do Sindicato dos Médicos, Leonardo Alcântara.

Além dos insumos básicos, Leonardo relata falta de materiais mais caros, como próteses para cirurgias de coluna. Também estaria em falta medicamentos para estabilização da pressão sanguínea, como a vasopressina.

Outro problema é o atraso no pagamento dos médicos terceirizados que atendem no IJF, o que impacta diretamente na fila de espera dos procedimentos cirúrgicos. “Uma parte significativa depende de profissionais contratados por cooperativas, como ortopedistas e anestesistas. Com pagamentos atrasados, alguns desde janeiro, esses médicos suspenderam os atendimentos”, declara o secretário-geral.

O POVO demandou esclarecimentos ao IJF sobre o desabastecimento de insumos, a falta de profissionais e a demora de cirurgias. A matéria será atualizada após uma resposta. 

Falta de atendimentos nos Frotinhas

Os problemas na prestação de atendimentos de saúde em Fortaleza também afetam outras unidades, como o Hospital Distrital Evandro Ayres de Moura (Frotinha Antônio Bezerra) e o Hospital Distrital Maria José Barros de Oliveira (Frotinha Parangaba).

Pacientes relatam falta de atendimento no setor de traumatologia. Os relatos são de que os pacientes acabam sendo mandados embora sem sequer receber cuidados iniciais.

Ana Cristina Araújo conta que seu filho, Kauê Lourenzo, de 22 anos, sofreu um acidente de moto e fraturou o metacarpo (ossos da mão). Ao chegarem ao Frotinha do Antônio Bezerra, a família foi informada de que o local não estava atendendo pacientes vítimas de traumas.

“Fomos para a UPA do Autran Nunes e depois para o Conjunto Ceará, mas lá todos os aparelhos de raio-x estavam quebrados. Não fizeram o exame, então voltamos para cá, mas aqui também está quebrada. As pessoas estavam voltando sem serem atendidas, pois só aceitam quem chega com o raio-x”, conta a mãe.

A família recorreu a uma clínica particular para realizar o exame. Após o atendimento, o jovem usará uma tala por 15 dias e retornará ao Frotinha para avaliar a necessidade de cirurgia.

Uma paciente, que preferiu não se identificar, relatou que na terça-feira, 12, procurou o Frotinha da Parangaba e o Frotinha do Antônio Bezerra, mas ambos informaram que só estavam atendendo casos de urgência, com "pulseira vermelha", e não estavam recebendo casos de trauma.

“Sofri um acidente no trabalho e estou com o braço inchado, com dor. Fui de um hospital para outro sem solução”, afirmou. Na manhã seguinte, ela retornou ao Frotinha da Parangaba e novamente não foi atendida. 

Procurada pelo O POVO, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que em novembro, até dia 12, o Frotinha Antônio Bezerra realizou 1.732 atendimentos clínicos, priorizando urgência e emergência em traumatologia e cirurgias.

No que diz respeito ao raio-x, a pasta informou que “o equipamento encontra-se em pleno funcionamento nesta quinta-feira (14/11)”. Já o Frotinha Parangaba realizou em novembro, até dia 12, 1.985 atendimentos clínicos.

A SMS informou que os pacientes com casos clínicos de menor gravidade e fora do perfil do hospital são orientados a buscar as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e os postos de saúde.

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