Agenda lúdica e solidária dá início ao Natal Sem Fome 2024; veja como doar

Campanha é articulada no Ceará pelo Instituto Nordeste Cidadania (Inec). Meta de arrecadação deste ano no Estado é de 100 toneladas. Saiba mais

17:04 | Nov. 09, 2024

Por: Mateus Brisa
FORTALEZA-CE, BRASIL, 09-11-2024: Evento do Natal Sem Fome, no Parque Adahil Barreto, com atividades ao ar livre, oficinas e recebimento de alimentos doados. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) (foto: FERNANDA BARROS)

Tradicional campanha de arrecadação de alimentos, o Natal Sem Fome 2024 foi lançado na manhã deste sábado, 9, no Parque Adahil Barreto, em Fortaleza. O evento foi marcado por atividades lúdicas para crianças e famílias e pelo início da arrecadação de insumos para posterior doação.

Realizada nacionalmente pela ONG Ação da Cidadania, a campanha é articulada no Ceará pelo Instituto Nordeste Cidadania (Inec). Segundo a diretoria de desenvolvimento humano e socioambiental do órgão, Ana Maria Xavier, a meta de arrecadação deste ano no Estado é de 100 toneladas.

Ela reforça que a campanha “não junta alimento. Tem gente com fome hoje, agora. Recebidos os alimentos, a gente já monta cesta e já distribui. Por isso o sloganQuem tem fome, tem pressa’”.

As primeiras doações foram feitas neste sábado, quando colaboradores do Inec, voluntários do Ceará Sem Fome e visitantes do Parque Adahil Barreto se misturaram. A programação também incluiu oficina de cartazes, aula de ginástica e até uma “mini-corrida contra a fome” para crianças de 5 a 12 anos.

Foi propício para Viviane Bezerra, 43, que levou o filho para se divertir. Ela é analista do Inec e colabora no Natal Sem Fome há cinco anos. “É uma grande oportunidade de fazer nossa parte, tentar ajudar o próximo. E, com essa pequena ação, conseguimos ajudar muita gente”, relatou.

Para Viviane, participar da campanha a faz “evoluir como pessoa, ter um olhar diferente” para questões sociais. “E que bom, que continue a evolução. E também tenho a consciência de que preciso fazer muito mais”.

“Às vezes, a gente está ali no nosso mundinho, tudo dando tão certo, e não abrimos nossa mente para enxergar como é a vida lá fora. Com a campanha, podemos ver isso, e também ajudar, contribuir, fazer algo”.

Segundo a fortalezense, é “oportuno” a campanha estar ligada ao período natalino, porque o “o Natal tem grandes movimentações na vida, de recomeços. É o momento para dar a chance de pessoas verem que podem recomeçar, renascer. Com a virada do ano, com Cristo. É o momento ideal”.

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A visão é compartilhada pelo estudante João Paulo de Figueiredo, 18, natural de Milagres, a 482,50 quilômetros (km) da Capital. “Eu sou católico, então, para mim, o Natal representa justamente a união. [Representa] a esperança por um bem que possa vir a acontecer. Em ações como essas, a gente reacende uma chama que a gente pode ter esquecido”.

João Paulo é beneficiado pelo Inec por meio do Prosseguir, cursinho pré-vestibular promovido pelo órgão em Fortaleza, Meruoca, Jaguaretama e Milagres. É a primeira vez dele participando da campanha Natal Sem Fome.

“É gratificante participar de uma ação que faz o bem para as outras pessoas. Acho que edifica. É um ato de empatia com o outro, mas com a gente mesmo. E mesmo em tempos caóticos, a gente encontra muita gente boa no mundo. Acho que isso é o que deve prevalecer”, concluiu ele.

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Combate à insegurança alimentar

Para Ana Maria Xavier, representante do Inec, cada ano de Natal Sem Fome apresenta desafios diferentes. “Uma coisa comum são os bons resultados, superando a expectativa anualmente”, pontuou ela.

“Mas a gente sabe que sempre pode fazer muito mais. É um desafio que chega a ser um déficit. A gente quer sempre ampliar, ter mais divulgação, ter mais parceiros, mais pontos de distribuição”.

Ana Maria celebrou a existência de “outras ações de arrecadação” e afirmou não haver concorrência. “O que a gente quer é mais mobilização. Nosso desafio é manter a compreensão de que sempre podemos fazer algo, sempre tem alguém que precisa da gente”, argumentou.

Em 2022, a insegurança alimentar severa acometia 17,2 milhões de brasileiros; no ano seguinte, o número caiu 85%, para 2,5 milhões, segundo o Relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial, de 2024.

No Ceará, 3,4 milhões de pessoas se encontravam nessa situação em 2023, conforme estimativas da PNAD Contínua. No território cearense, a insegurança alimentar esteve presente em 35,1% dos domicílios.

Ana Maria Xavier salientou que “[alimentação] é uma necessidade elementar de sobrevivência do ser humano. Por isso, quaisquer números de insegurança alimentar são chocantes”.

Luciene Felix, 63, é fundadora da Academia Ballet Raio de Sol, no bairro Planalto Pici, em Fortaleza, uma das organizações que recebem as cestas básicas e as distribuem em seu território.

Ela relatou que ao receberem as cestas, “as mães têm um olhar de alegria, de diferença. De que tem alguém que se preocupa. São cestas básicas muito bem-vindas. É muito benéfico, faz uma grande diferença”.

Luciene contribui com o Natal Sem Fome há 12 anos por meio da Raio de Sol e sublinhou que “só faz isso quem tem amor, quem tem olhar, quem sai de si para ir ao encontro do outro”.

Ana Maria Xavier complementou ser “uma pessoa muito feliz, muito realizada com o que faço, por poder trabalhar com isso. Mas também tenho senso de compromisso e responsabilidade muito grande”.

“De fazer com que isso seja percebido e assimilado pela sociedade como uma ação que é para poucos, mas sim que é para muitos”, continuou. “Muito mais gente deve fazer isso. É uma alegria enorme e um orgulho enorme”.

Conforme a representante do Inec, a realização do Natal Sem Fome “fortalece” as organizações que se cadastram para mediar a entrega das cestas básicas. “Acreditamos nesse esforço coletivo. Lógico que poderíamos cadastrar famílias, mas preferimos que o coletivo seja fortalecido em cada território”.

Um exemplo disso é Aldilene Costa, 47, que representa o Instituto Dica, em Pacatuba, na Região Metropolitana de Fortaleza. A organização atua em bibliotecas e cozinha solidárias, além de ofertar formações e cursos.

O Instituto Dica completa 18 anos em janeiro, disse Aldilene, enquanto a parceria com Inep existe há 17 anos. O parceiro tem sido “alicerce”, segundo ela, pois “ajuda muito” no funcionamento da organização.

Não é aquela coisa de ter a parceria e pronto. Eles ligam, querem saber, tem um acompanhamento mesmo, de pai, mãe, família, que está sempre cuidando dos filhos. Que essa parceria dure muitos e muitos anos”.

Natal Sem Fome 2024: como doar?

Qualquer indivíduo ou organização pode contribuir com o Natal Sem Fome 2024. A campanha recebe insumos alimentícios até 30 de dezembro na sede do Inec (avenida Ministro José Américo, 326, 6º andar – Parque Iracema).

Também há outros pontos de arrecadação distribuídos por Fortaleza:

  • Banco do Nordeste (todas as unidades)
  • Rede Ancar (todos as unidades North Shopping)
  • Supermercado Lagoa (todas as unidades)
  • Atacadão Lag (todas as unidades)
  • Supermercado Pinheiro (unidades Cambeba, Messejana e Washington Soares)
  • Tá Limpo (todas as unidades)
  • BNB Clube Fortaleza (avenida Santos Dumont, 3646 – Aldeota)
  • Moura Dubeux (stands de vendas)
  • Federação dos Transportes (rua Dona Leopoldina, 1050 – Centro)
  • Movimento Saúde Mental (rua Dr. Fernando Augusto, 980 – Bom Jardim)

Além disso, é possível realizar doações em dinheiro, por meio da chave Pix inec@inec.org.br. O Inec solicita que os doadores identifiquem a transferência com a mensagem “Natal Sem Fome”.

Natal Sem Fome 2024: como se cadastrar para distribuir as cestas?

A campanha Natal Sem Fome recebe, até 9 de dezembro, cadastro de organizações de apoio a pessoas vulneráveis e/ou em insegurança alimentar. O que é arrecadado pelo Inec é organizado e então encaminhado às organizações cadastradas, com atuação não só no Ceará, mas em todo o Nordeste.

Para efetuar o cadastro, é necessário acessar o site do Inec e possuir Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) ativo e manter dados de contato atualizados. “Os cadastros são conferidos e verificados, a gente entende como é a estrutura da organização”, explica Ana Maria Xavier, do Inec.

“Depois, eles nos enviam a demanda de cestas que precisam, a partir do número de famílias. Com o fim da arrecadação, disponibilizamos cada volume solicitado por cada organização, que depois faz a distribuição”.