Reconstrução da aréola por micropigmentação devolve autoestima de mulheres após câncer de mama

Projeto reúne micropigmentadoras voluntárias há 10 anos para realizar procedimento estético

Mulheres que passam pelo procedimento de mastectomia, retirando parcial ou totalmente a mama após um diagnóstico de câncer, relatam queda na autoestima e insatisfação com a própria imagem. A reconstrução do mamilo por meio da micropigmentação foi uma das formas que o projeto Amigos do Peito, em Fortaleza, encontrou para ajudar as pacientes.

Funcionando há 10 anos, o grupo de micropigmentadoras voluntárias realiza mutirões todo outubro, mês de conscientização sobre o câncer de mama, em mulheres que já realizaram a mastectomia e a reconstrução mamária. Já foram atendidas mais de 350 pessoas.

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O procedimento estético consiste no desenho da aréola retirada na cirurgia por meio da micropigmentação. A técnica não é tão permanente quanto a tatuagem, já que atinge camadas menos profundas da pele. No entanto, atualmente as voluntárias realizam um método híbrido para garantir durabilidade e delicadeza.

A assistente financeira Adriana Rodrigues, 36, foi uma das 24 mulheres atendidas nesta quarta-feira, 16, no mutirão realizado pelo Amigos do Peito na faculdade Unifametro, no bairro Jacarecanga.

“A gente pensa que é besteira, mas para nós, mulheres, é muito importante, porque não é só o visual. É você se sentir bem. Ninguém vai estar vendo, mas você está se vendo. Então é para você, não para os outros”, diz Adriana.

A mastectomia é necessária em cerca de 70% dos casos de câncer de mama, conforme a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Nos últimos 10 anos, 110 mil brasileiras passaram pela cirurgia.

“É mais comum do que a gente imagina. Tem que se cuidar, tem que se tocar, tem que ir atrás de informações, porque cada vez mais se torna mais normal (a ocorrência da doença), e em pessoas jovens”, alerta Adriana, que teve o diagnóstico do câncer aos 34 anos e precisou retirar por completo a mama direita.

Coordenadora e uma das idealizadoras do projeto, Gisele de Paulo afirma que a aréola é tida como um símbolo de feminilidade e, por isso, impacta tanto no bem-estar das mulheres mastectomizadas.

“Quando ela se olha no espelho e se vê novamente com algo que foi tirado, para ela é muito importante. É muito gratificante o trabalho que a gente faz, elas ficam muito felizes e nós também, porque a gente sabe que pode contribuir para a autoestima de alguém”, conta.

A técnica de enfermagem Audene Costa de Oliveira, 53, fez a micropigmentação há um ano e diz se sentir com a “autoestima lá em cima”. Ela já pesquisava o preço para fazer o procedimento estético, mas encontrou o projeto gratuito e resolveu se inscrever.

“Você nem percebe que é mastectomizada, que não tem uma mama, porque ficou muito perfeito. Foi uma benção, graças a Deus, para o bolso e para tudo”, afirma.

As profissionais que se voluntariam para realizar a micropigmentação precisam de uma formação específica, já que a pele da mama é mais sensível e pode ter cicatrizes e manchas. Para cada caso é utilizada uma técnica diferente, conforme Gisele.

Como participar do peojeto de micropigmentação

Para participar, a paciente deve estar curada do câncer e apresentar atestado de liberação do oncologista. Também é necessário já ter passado pela reconstrução mamária, com o implante de prótese de silicone.

A inscrição pode ser feita por meio de um link disponibilizado no Instagram do projeto: @amigosdopeitoce.

Bom humor, cura e autoestima

Diagnosticada com câncer de mama há 37 anos, a diarista Teresa Cristina Nobre de Oliveira, 64, compartilha as mudanças nas perspectivas da convivência com a doença.

O início foi difícil, com uma mastectomia radical e sem reconstrução da mama - que só passou a ser obrigatória no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2013. Mas logo aprendeu a lidar com a doença de forma mais leve.

“Hoje em dia é tudo maravilhoso. Assim que eu descobri, quando eu tirei minha mama, eu fiquei revoltada. Depois, quando eu comecei o tratamento, resolvi me levantar”, conta.

Antes de conhecer o serviço gratuito oferecido pelas voluntárias do grupo Amigos do Peito, ela conta que pediu ao filho para acompanhá-la em uma sessão de tatuagem de uma rosa com a palavra “gratidão” na mama.

Agora, três décadas depois da cirurgia, a empregada doméstica decidiu realizar a reconstrução da aréola.

Para Teresa Cristina, o avanço dos tratamentos permite a preservação da qualidade de vida dos pacientes, ao passo que o desenvolvimento de técnicas como a reconstrução da aréola por micropigmentação ajuda a restaurar a autoestima das mulheres mastectomizadas.

Entre as marcas registradas no corpo, a diarista se destaca pelo sorriso contagiante que não tira do rosto. Comemorando a cura e a oportunidade de ser atendida pelo projeto, Teresa Cristina reflete sobre outras mulheres que estão passando por uma situação semelhante.

“Enquanto você estiver com o pensamento positivo, com Deus e com a sua autoestima lá em cima, a cura é bem melhor. Com certeza”, tranquiliza. (Gabriele Félix/Especial para O POVO)

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