Reconstrução da aréola por micropigmentação devolve autoestima de mulheres após câncer de mama

Projeto reúne micropigmentadoras voluntárias há 10 anos para realizar procedimento estético

19:00 | Out. 16, 2024

Por: Alexia Vieira
Micropigmentadoras voluntárias precisam ter formação específica para realizar procedimento na mama das pacientes (foto: FÁBIO LIMA)

Mulheres que passam pelo procedimento de mastectomia, retirando parcial ou totalmente a mama após um diagnóstico de câncer, relatam queda na autoestima e insatisfação com a própria imagem. A reconstrução do mamilo por meio da micropigmentação foi uma das formas que o projeto Amigos do Peito, em Fortaleza, encontrou para ajudar as pacientes.

Funcionando há 10 anos, o grupo de micropigmentadoras voluntárias realiza mutirões todo outubro, mês de conscientização sobre o câncer de mama, em mulheres que já realizaram a mastectomia e a reconstrução mamária. Já foram atendidas mais de 350 pessoas.

O procedimento estético consiste no desenho da aréola retirada na cirurgia por meio da micropigmentação. A técnica não é tão permanente quanto a tatuagem, já que atinge camadas menos profundas da pele. No entanto, atualmente as voluntárias realizam um método híbrido para garantir durabilidade e delicadeza.

A assistente financeira Adriana Rodrigues, 36, foi uma das 24 mulheres atendidas nesta quarta-feira, 16, no mutirão realizado pelo Amigos do Peito na faculdade Unifametro, no bairro Jacarecanga.

“A gente pensa que é besteira, mas para nós, mulheres, é muito importante, porque não é só o visual. É você se sentir bem. Ninguém vai estar vendo, mas você está se vendo. Então é para você, não para os outros”, diz Adriana.

A mastectomia é necessária em cerca de 70% dos casos de câncer de mama, conforme a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Nos últimos 10 anos, 110 mil brasileiras passaram pela cirurgia.

“É mais comum do que a gente imagina. Tem que se cuidar, tem que se tocar, tem que ir atrás de informações, porque cada vez mais se torna mais normal (a ocorrência da doença), e em pessoas jovens”, alerta Adriana, que teve o diagnóstico do câncer aos 34 anos e precisou retirar por completo a mama direita.

Coordenadora e uma das idealizadoras do projeto, Gisele de Paulo afirma que a aréola é tida como um símbolo de feminilidade e, por isso, impacta tanto no bem-estar das mulheres mastectomizadas.

“Quando ela se olha no espelho e se vê novamente com algo que foi tirado, para ela é muito importante. É muito gratificante o trabalho que a gente faz, elas ficam muito felizes e nós também, porque a gente sabe que pode contribuir para a autoestima de alguém”, conta.

A técnica de enfermagem Audene Costa de Oliveira, 53, fez a micropigmentação há um ano e diz se sentir com a “autoestima lá em cima”. Ela já pesquisava o preço para fazer o procedimento estético, mas encontrou o projeto gratuito e resolveu se inscrever.

“Você nem percebe que é mastectomizada, que não tem uma mama, porque ficou muito perfeito. Foi uma benção, graças a Deus, para o bolso e para tudo”, afirma.

As profissionais que se voluntariam para realizar a micropigmentação precisam de uma formação específica, já que a pele da mama é mais sensível e pode ter cicatrizes e manchas. Para cada caso é utilizada uma técnica diferente, conforme Gisele.

Como participar do peojeto de micropigmentação

Para participar, a paciente deve estar curada do câncer e apresentar atestado de liberação do oncologista. Também é necessário já ter passado pela reconstrução mamária, com o implante de prótese de silicone.

A inscrição pode ser feita por meio de um link disponibilizado no Instagram do projeto: @amigosdopeitoce.

Bom humor, cura e autoestima

Diagnosticada com câncer de mama há 37 anos, a diarista Teresa Cristina Nobre de Oliveira, 64, compartilha as mudanças nas perspectivas da convivência com a doença.

O início foi difícil, com uma mastectomia radical e sem reconstrução da mama - que só passou a ser obrigatória no Sistema Único de Saúde (SUS) em 2013. Mas logo aprendeu a lidar com a doença de forma mais leve.

“Hoje em dia é tudo maravilhoso. Assim que eu descobri, quando eu tirei minha mama, eu fiquei revoltada. Depois, quando eu comecei o tratamento, resolvi me levantar”, conta.

Antes de conhecer o serviço gratuito oferecido pelas voluntárias do grupo Amigos do Peito, ela conta que pediu ao filho para acompanhá-la em uma sessão de tatuagem de uma rosa com a palavra “gratidão” na mama.

Agora, três décadas depois da cirurgia, a empregada doméstica decidiu realizar a reconstrução da aréola.

Para Teresa Cristina, o avanço dos tratamentos permite a preservação da qualidade de vida dos pacientes, ao passo que o desenvolvimento de técnicas como a reconstrução da aréola por micropigmentação ajuda a restaurar a autoestima das mulheres mastectomizadas.

Entre as marcas registradas no corpo, a diarista se destaca pelo sorriso contagiante que não tira do rosto. Comemorando a cura e a oportunidade de ser atendida pelo projeto, Teresa Cristina reflete sobre outras mulheres que estão passando por uma situação semelhante.

“Enquanto você estiver com o pensamento positivo, com Deus e com a sua autoestima lá em cima, a cura é bem melhor. Com certeza”, tranquiliza. (Gabriele Félix/Especial para O POVO)