Irmãos Maristas, do antigo Colégio Cearense, estudam abrir nova escola em Fortaleza

Nova escola em Fortaleza deve iniciar de forma gradual, oferecendo apenas algumas séries, além de ser focada em um público de maior poder aquisitivo

O Instituto Irmãos Maristas, com longa tradição educacional no Brasil, estuda abrir uma nova escola particular em Fortaleza. A ordem religiosa dirigiu o Colégio Cearense Sagrado Coração, uma das mais prestigiadas unidades educacionais do Estado, por quase 100 anos, de 1917 a 2007. Conforme o Instituto, a possibilidade de uma nova unidade particular na Capital ainda está em estágio de estudos iniciais, sem local ou data de abertura definidos.

Conforme a ordem religiosa, o interesse da população tem sido um dos motivadores para o projeto. "A ideia está ainda em uma fase embrionária. Nós, os Irmãos Maristas, reconhecemos que Fortaleza tem um papel fundamental em nossa história. Mas é importante destacar que ainda estamos na fase de pensamento, nada foi concretizado”, enfatiza o irmão Márcio Costa, formador postulantado do Brasil Marista.

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Segundo ele, os Irmãos Maristas estão atualmente realizando estudos sobre o cenário educacional de Fortaleza.

"Temos uma equipe analisando para onde a população está se direcionando, principalmente na região do Eusébio e Edson Queiroz. Os estudos ainda estão no começo, e queremos atender a essa população em crescimento", explica o irmão Márcio. Ainda não há previsão de quando esses estudos serão concluídos.

Sem uma unidade privada desde 2007, o Instituto Irmãos Marista ainda mantém escolas filantrópicas em Fortaleza, Aracati e Iguatu. As unidades são gratuitas e financiadas pela instituição, atendendo à população vulnerável. Em Fortaleza, no bairro Montese, oferece ensino fundamental para mais de 550 alunos; em Aracati, ensino médio; e em Iguatu, ensino primário.

A possível nova unidade em Fortaleza, contudo, não terá a mesma configuração. “Teria um foco diferente, atendendo outro perfil de público, de maior poder aquisitivo”, diz Márcio. Sobre a faixa de preços, o irmão marista comenta que deve seguir um parâmetro de outros colégios particulares de Fortaleza.

Quanto ao nome da nova instituição, também não há definição se será mantido o tradicional "Colégio Cearense Sagrado Coração". O irmão Márcio Costa esclarece, no entanto, que os Maristas não têm a pretensão de ofertar, pelo menos a princípio, todas as fases de ensino. “A orientação é começar de forma gradual, com turmas menores e ir crescendo conforme a demanda da região”, afirma.

O Legado do Colégio Cearense

O Colégio Cearense Sagrado Coração foi fundado em 1913 por padres diocesanos. Em 1917, a convite do então arcebispo de Fortaleza, Dom Manuel da Silva Gomes, os Irmãos Maristas chegaram ao Ceará para assumir a direção. Foi nessa mesma época que a escola, que inicialmente funcionou rua 24 de Maio e rua Barão do Rio Branco, estabeleceu-se definitivamente na avenida Duque de Caxias em 1917, hoje o prédio é tombado como Patrimônio de Fortaleza.

Colégio Cearense em 20/10/1999
Colégio Cearense em 20/10/1999 Crédito: O POVO/Reprodução
O Colégio Cearense acolheu apenas meninos por muitos anos, conforme explica o ex-aluno Juscelino Chaves Sales, professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), que se dedicou a realizar pesquisas sobre o Colégio. “Porém, em 1974, tornou-se misto, o que atraiu muitas alunas, inclusive algumas que vinham de escolas de freiras de Fortaleza. Esse aumento de alunas ajudou a elevar o prestígio do colégio, que já era conhecido pela sua excelência acadêmica”.

O colégio viveu seu auge entre as décadas de 1970 e 1980. “O ensino era muito bom. Muitos professores tinham até doutorados, o que nessa época ainda era raro. A instituição tinha uma fama de ser elitista, mas também oferecia bolsas de estudo e era filantrópica. Assim, havia alunos de diferentes classes sociais”.

A partir dos anos 80, o número de estudantes no Colégio Cearense começou a cair, embora a instituição seguisse como referência de ensino. Juscelino aponta que a queda nas vocações religiosas e o aumento da concorrência entre escolas particulares no Ceará levaram ao fechamento do colégio, que encerrou suas atividades décadas depois, em 2007.

Com mais de 100 anos de fundação, ex-alunos ainda se encontram

Os ex-alunos do Cearense guardam boas lembranças da época de escola e muitas amizades feitas durante a vida escolar seguem para toda a vida. É o caso da advogada Joana Araújo, 41. Estudante do ensino fundamental até fim do ensino médio no local (1988 - 2000), ela conta que a educação Marista foi uma tradição na família.

“Tenho sete irmãos e todos estudaram no Colégio Cearense. Meu pai havia estudado lá também. Lembro que no ensino fundamental, além das matérias teóricas, tínhamos aulas de artes, de música, de religião. Lembro de muitos professores com muito carinho!”, conta.

Para ela, a educação no colégio influenciou suas escolhas de vida. “Era um colégio que preparava para a vida, seja qual fosse a formação que escolhesse. Até hoje tenho sonhos com o colégio. Lembro de cada canto da escola, dos professores e dos amigos que fiz lá e algumas dessas amizades perduram até hoje!

A escritora e artista plástica Valeska Capistrano, 55, estudou no Colégio Cearense Marista de 1985 a 1987 e recorda com carinho sua experiência na instituição. A mais nova de 10 irmãos, Valeska sonhava em estudar lá e, mesmo como aluna pagante, precisou passar por um rigoroso processo seletivo. “Passei para estudar no ensino médio. Para ter ideia, foi uma emoção até maior do que quando passei no vestibular", relata.

Valeska destaca a forma acolhedora com que os Irmãos Maristas lidavam com os alunos. "Era uma época em que não havia celular, então era muito comum nós, alunos, estarmos em rodas de conversa e jogando algo e os irmãos virem e conversarem com a gente. Eles mostravam um carinho e cuidado genuínos com os alunos, como se fossem nossos pais."

Hoje, a artista ressalta que ainda participa de encontros de ex-alunos. “Nós sempre fazemos eventos, no mesmo prédio da Duque de Caxias, no último sábado do mês de agosto. Muitas pessoas costumam dizer que ‘eram felizes e não sabiam’. Eu sempre digo: ‘Eu era feliz e sabia”, conclui.

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