Casal utilizava mansão em condomínio de luxo em Aquiraz como central de golpes bancários

Fraudes eram realizadas através de mensagens no WhatsApp, e-mails e ligações telefônicas. As vítimas que atendessem ou respondessem as mensagens tinham os dados bancários, principalmente senhas, extraídos

18:48 | Out. 11, 2024

Por: Mirla Nobre
Apreensões da operação Reditus, da PC-CE, foram realizadas em condomínio de alto padrão em Aquiraz (foto: Divulgação/Polícia Civil do Estado do Ceará)

Um casal natural de São Paulo que liderava um grupo criminoso suspeito de lavagem de dinheiro através de golpes bancários utilizava um apartamento na cobertura de um condomínio de luxo no município de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), como a central de golpes. Nessa quinta-feira, 10, uma operação da Polícia Civil do Ceará (PC-CE) contra o casal resultou na apreensão de 15 veículos, joias, celulares, notebooks e R$ 11 mil em dinheiro no imóvel.

Durante a operação, oito pessoas foram presas em flagrante. Entre eles o líder do grupo criminoso, identificado como Wagner Rubens Ribeiro da Silva Jacometti, 34. Entre as outras sete pessoas presas, apenas um homem, de 28 anos, é natural do Ceará. O restante do grupo é da cidade de São Paulo, sendo duas mulheres, de 38 e 35 anos, e outros três homens, dois de 36 anos e um de 38 anos.

O local onde operava a central de golpes evidenciava um estilo de vida de alto padrão, com quartos de luxo, suítes, varandas e até ofurô nas dependências do imóvel, além de equipamentos eletrônicos, como notebooks, celulares e tvs. Além da cobertura, o casal tinha mais três apartamentos no mesmo condomínio que serviam de apoio ao grupo, com dormitórios e demais espaços de convivência.

De acordo com as investigações, conduzidas pela Delegacia de Combate à Lavagem de Dinheiro (DCLD), o grupo atuava no Estado há um ano. As investigações foram iniciadas em fevereiro deste ano após denúncias anônimas sobre movimentações atípicas de dinheiro pelo grupo, além de trocas de informações policiais sobre os suspeitos.

A operação identificou que o líder do grupo abriu empresas fantasmas em São Paulo, sendo uma produtora musical e uma locadora de veículos e, no Ceará, foi identificada uma empresa de reciclagem de fluidos de óleo, em Fortaleza. Os locais estavam sendo utilizados para lavagem de dinheiro oriundo das fraudes bancárias realizadas pelo grupo. A companheira do líder da organização possuía uma empresa de estética no Eusébio, identificada como "Clinic Costa", também com foco na lavagem de dinheiro.

Conforme o delegado Renê Mesquita, da DCLD, o homem tinha antecedentes criminais pelos mesmo crimes em São Paulo. “Ele veio tentar se esconder no Estado do Ceará, na companhia da esposa, e abriu empresas fictícias. A esposa do alvo não foi presa, mas teve os bens bloqueados. São nove envolvidos, sendo oito autuados em flagrante”, disse o titular.

As investigações revelaram que todo o dinheiro aplicado nas empresas era oriundo de fraudes bancárias. Durante a atuação do grupo no Estado, as mulheres presas foram trazidas da região paulista para trabalhar como telefonistas e operadoras na falsa central de atendimento ao cliente.

O delegado adjunto da Delegacia de Combate à Lavagem de Dinheiro, Jailton Rodrigues, informou que, além do imóvel em Aquiraz, o casal possuía uma apartamento de luxo no município de Eusébio, na RMF. O local seria a residência dos alvos da operação.

Eles são suspeitos de adquirir imóveis, veículos e outros bens no Ceará, bem como abrir contas de pessoas jurídicas para possibilitar a ocultação de patrimônio adquirido com a prática criminosa.

Além da aquisição de diversos bens a partir das fraudes bancárias, o casal mantinha uma cachorra de estimação nomeada “money”, dinheiro em inglês, que estava no apartamento de luxo em Aquiraz no momento da operação da Polícia Civil.

As investigações também apontaram que a esposa do líder do grupo criminoso realizou a compra de um veículo de aproximadamente R$ 200 mil via PIX e um imóvel de luxo no Eusébio, de aproximadamente R$ 2 milhões, adquirido com dinheiro à vista pela mulher.

O secretário de Segurança Pública do Ceará, Roberto Sá, definiu o flagrante da operação “Reditus” de forma “cinematográfica” e que o caso serve para alertar a população para esse tipo de crime. “Nós temos que aproveitar essa operação da Polícia Civil para alertar a população para tomar muito cuidado com essas mensagens que recebem, avisando, muitas vezes, que foi feita uma operação bancária em seu nome pedindo para clicar em determinado link”, alerta.

Além do cumprimento de seis mandados de busca e apreensão domiciliar em cinco imóveis, uma residência no Eusébio e quatro apartamentos na região de Aquiraz, também houve o sequestro de veículos que estavam localizados em condomínios de alto padrão na Região Metropolitana de Fortaleza, bem como valores em contas bancárias, que podem chegar até R$ 18 milhões de reais.

Entenda como funcionava o modus operandi

 

“Uma verdadeira central de práticas de crimes”, afirma o delegado adjunto da Delegacia de Combate à Lavagem de Dinheiro, Jailton Rodrigues. O delegado adjunto explica que, por meio da aquisição de bancos de dados com informações das vítimas, como CPF, telefone, e-mail, renda e endereços, provenientes de lojas, associações, cadastros de farmácias e outros comércios, o grupo reuniu uma lista de informações.

Com os dados coletados, os criminosos submetiam as informações aos softwares em computadores e celulares para disparar mensagens por meio de WhatsApp, e-mail ou ligações com mensagens falsas de bancos. As vítimas que atendessem ou respondessem as mensagens tinham os dados bancários, principalmente senhas, extraídos.

“Nessas quatro frentes, eles tentavam aplicar os golpes. Se fosse através do telefone, quando você recebesse aquele ligação falsa, como se fosse de uma agência bancária e você atendesse, prontamente alguém da central falsa iria tentar te convencer sobre que houve uma suposta fraude e, a partir daí, eles iam tentar confirmar seus dados bancários”, explicou o delegado.

Por meio das mensagens, Jailton explica que o simples fato de clicar no link poderia possibilitar a instalação de um vírus para coletar os dados da vítima e, assim, permitir o acesso às informações bancárias e financeiras. Após a extração, o dinheiro era lavado nas empresas de fachadas do casal.

Confira fotos e vídeos da apreensão