Caso Zé Maria do Tomé: réu é condenado por envolvimento na morte de líder comunitário
Ele foi apontado como participante da logística que facilitou o cometimento do crime
20:55 | Out. 09, 2024
Francisco Marcos Lima Barros, de 41 anos, foi considerado culpado por envolvimento na morte do líder comunitário Zé Maria do Tomé, assassinado em 2010 com 25 tiros. O julgamento, iniciado nesta quarta-feira, 9, durou cerca de dez horas e terminou com a sentença de 16 anos em regime fechado para o réu.
O julgamento foi marcado por manifestações que pediam justiça para o líder comunitário. Zé Maria do Tomé foi assassinado um dia antes de uma reunião com o Ministério Público do Ceará (MPCE) onde apresentaria provas de crimes ambientais ocorridos com uso de pulverização aérea de agrotóxicos na região de Limoeiro do Norte.
"A justiça foi feita, graças a Deus. Ele vai ser preso e vai pagar pelo que fez. Nós tivemos essa resposta positiva", disse a filha de Zé Maria, Márcia Xavier, ao fim do julgamento.
O réu foi o único a ser julgado. Ele foi apontado como participante da logística que facilitou o cometimento do crime.
Outros dois homens pronunciados pelo envolvimento no assassinato conseguiram ser retirados dos processos após uma decisão da Justiça aceitar o argumento de que não havia provas suficientes contra eles. São eles João Teixeira Filho, proprietário de uma empresa na região de Apodi; e José Aldair Gomes Costa, gerente da empresa.
Três outros suspeitos morreram desde a data do homicídio: Antonio Wellington Ferreira Lima, Sebastião Lima e Westilly Hitler Raulino, este último apontado como autor do crime.
Para Geovana Patrício, advogada membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares e do Coletivo Jurídico Zé Maria do Tomé, a condenação é uma resposta à família da vítima e à sociedade. A pena de 16 anos foi considerada razoável.
"Ele nem foi um executor nem era um intelectual. A gente acredita que essa pena foi dentro da razoabilidade de acordo com a participação dele", afirmou.
Já a defesa do réu, representada pelo advogado Armando Costa Júnior, pretende recorrer da decisão que considera "injusta", considerando o réu inocente das acusações. "Estamos confiantes de que poderemos reverter esse resultado negativo", disse.
Nesta quarta-feira, 9, cerca de uma hora após o início da sessão do júri, o réu passou mal e o julgamento foi interrompido por 40 minutos. Ele foi retirado do salão para atendimento emergencial e passou a acompanhar o julgamento por meio de videoconferência.
Estiveram presentes no Fórum Clóvis Beviláqua as comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Ceará e da OAB, a Ouvidoria Agrária Nacional, a Secretaria de Direitos Humanos do Ceará e o Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace).
Movimentos sociais inspirados na luta de Zé Maria do Tomé também marcaram presença, como o Movimento 21. A organização Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte e a direção nacional do Movimento Sem Terra (MST) acompanharam o julgamento.
Quem foi Zé Maria do Tomé
Zé Maria do Tomé era líder comunitário e reivindicava a distribuição de terras de forma justa no perímetro irrigado Jaguaribe-Apodi, além de pedir pelo fim da pulverização aérea de agrotóxicos na Chapada do Apodi.
O ativista reunia provas, como imagens e estudos, que comprovaram o perigo da pulverização no local, conseguindo a aprovação de uma lei proibindo a prática em Limoeiro do Norte.
No entanto, ao tentar denunciar a continuidade das ações, o líder rural foi constantemente ameaçado de morte. Um mês antes do assassinato, em 22 de março de 2010, ele registrou um Boletim de Ocorrência porque estava sendo ameaçado por telefone. A participação de Francisco Marcos Lima Barros no crime foi evidenciada a partir de quebra de sigilo telefônico autorizada judicialmente, de acordo com o MPCE.
Com informações do repórter Lucas Barbosa