Rodas de Esperança: projeto restaura cadeiras de rodas para pessoas com deficiência

Mais de 200 pessoas foram beneficiadas em projeto que começou com restauro de uma cadeira de uma senhora do bairro Jangurussu, em agosto de 2020

Em um espaço cedido pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, localizado no bairro Jangurussu, em Fortaleza, o projeto Rodas de Esperança, iniciado em agosto de 2020, já beneficiou mais de 200 pessoas com restauração de cadeiras de rodas, muletas e camas hospitalares. O projeto conta com 11 voluntários.

A iniciativa nasceu após Heldeniza Oliveira, 65, dona de casa e coordenadora do projeto, perceber que uma antiga moradora do bairro — carinhosamente apelidada de "dona Rosa" — se arrastava no chão e não tinha nenhum equipamento para ajudá-la.

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“Nós fizemos uma visita, descobrimos que ela tinha tido um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e morava com um garoto de 14 anos. Às vezes, ela precisava resolver alguma coisa no banco, fazer a prova de vida do INSS, e ele [o garoto], como é um adolescente, tinha muitas dificuldades. E ela também.”

Após a entrega da primeira cadeira, que foi adquirida após um empresário conhecer a história de dona Rosa e se dispôr a doar, Heldeniza percebeu que a ação tinha potencial para se tornar algo maior.

“Começamos a divulgar no grupo de amigos, que quem tivesse uma cadeira e estivesse quebrada, poderia nos doar”, explica. “Foi muito difícil, pois estávamos começando do zero e não tínhamos nenhuma noção. Quase demos um passo para trás, mas aí vimos que a peça de uma se encaixava em outra, então seguimos nessa linha.”

Os equipamentos, que para muitos já não têm utilidade alguma, nas mãos do mecânico José Rodrigues, de 68 anos, da costureira Helri, 60, e de Heldeniza ganham não só rodas novas, peças ou coloração. Dão significado à vida de quem mais necessita.

Das várias pessoas ajudadas pelo projeto, Heldeniza relembra da história de um senhor de 90 anos que tem Doença de Alzheimer (DA) — um transtorno neurodegenerativo progressivo que causa a deterioração cognitiva e da memória.

“Ela [filha] saía com um banquinho na mão. Ele conseguia andar poucos passos e depois sentava nesse banco. Ia até a pracinha. Ele tinha muita vontade de passear.”

Com felicidade, a coordenadora conta que esse caso foi um dos primeiros e um dos que mais marcaram. "Quando ele recebeu a cadeira, foi uma alegria geral na comunidade. A rua que via ele passando com um banquinho festejou o fato de agora ele ter uma cadeira de rodas.”

De acordo com ela, alguns casos específicos precisam manter uma manutenção nos equipamentos restaurados. “A pessoa precisa ligar. Nós vamos até o local e realizamos a troca lá mesmo.”

Heldeniza relata que por terem custos muito altos ou outras cadeiras não possuírem peças que se encaixem, alguns recursos são mais difíceis de serem encontrados. “Começamos a fazer uma campanha com lacres de latinhas e tampas de garrafa pet. É mais fácil de armazenar e de alguém juntar em casa. Começamos a ver que dava para comprar pequenas coisas”, explica.

Os lacres e as tampas são vendidos para a reciclagem e o dinheiro arrecadado ajuda na compra de materiais como arruelas, parafusos, lubrificantes e tinta spray.

Ela conta que a campanha ajuda a comprar objetos pequenos, como parafusos, tinta spray e lubrificante. “Só que as cadeiras de rodas têm peças que custam um valor mais alto, depende muito da marca. Às vezes a peça de uma não é compatível com a outra. Aí que entra a Adra (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais).”

A Adra é uma agência humanitária internacional, com sede em Maryland, Estados Unidos, que surgiu com o objetivo de arrecadar mantimentos, roupas e remédios para flagelados de guerras, desastres naturais e outras catástrofes.

“Ela é da Igreja Adventista que a gente pertence e ela tem nos ajudado nessa parte. [Mandando] Alguma verba para suprir essas necessidades”, explica a coordenadora.

Heldeniza conta que o projeto foi iniciado ainda dentro da igreja. “Vimos que o trabalho precisava de um espaço maior, que foi cedido [pela igreja] para que a gente trabalhasse.”

Segundo ela, o projeto começou a ter mais visibilidade com as postagens nas redes sociais. “Então a Adra se interessou em fazer com que a gente caminhasse de forma mais rápida, fazendo um progresso dentro do projeto.”

Meta é atender todos que necessitam de ajuda

Heldeniza relata que antigamente o projeto tinha uma lista de espera que contava com 15 a 20 pessoas. “Hoje temos uma lista bem menor, de cinco ou seis pessoas. Tem sido bem mais rotativo.”

Emocionada, a costureira Helri, de 60 anos, relembra a história de uma jovem que tinha uma perna amputada e precisava de uma nova cadeira, pois a que possuía era emprestada e estava em más condições. “O marido e a sogra estavam do lado dela. Vieram todas essas pessoas, bastante alegres.”

Outra história que ficou marcada na memória da costureira foi a de uma jovem que dedicava sua vida a cuidar da mãe, que havia passado por uma cirurgia no fêmur e vivia deitada na cama. “Eu lembro bem que enxerguei uma carência emocional nela e lhe dei um abraço. Esse abraço ficou quentinho no meu coração.”

Em lágrimas, a costureira confidencia: “Às vezes a gente vai fazer um trabalho desses e pensa que a gente tá ajudando, mas, na verdade, nós é que recebemos. Recebemos muito mais do que nós damos”.

Segundo ela, o projeto “tem que crescer” e qualquer forma de ajuda é bem-vinda. Conforme Helri, não há necessidade de mudar de local. “O bairro é bom, que acolhe muito nós. Só essa questão de ter mais espaço."

Como realizar doações

Os interessados em realizar doações de cadeiras de rodas ou equipamentos para a restauração devem entrar em contato pelo telefone (85) 99767 6293. Também é possível encontrar o projeto pelo perfil do Instagram @nucleo.jangurussu ou realizar uma doação financeira para a chave PIX: pix.adra.ace@adventistas.org.

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