Remada Rosa Nacional em Fortaleza promove luta contra o câncer de mama pelo esporte
Realizado simultaneamente em várias cidades do Brasil, o evento destacou os benefícios da canoagem para a reabilitação, saúde mental e bem-estar
17:11 | Out. 05, 2024
Os tradicionais verdes mares de Fortaleza ganharam um novo tom na manhã deste sábado, 5, com a realização da 1ª Remada Rosa Nacional. O evento, promovido pelo movimento Remadoras Rosa do Brasil, reuniu equipes de remadoras sobreviventes de câncer de mama.
A iniciativa busca conscientizar sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama, além de incentivar a prática de atividades físicas como ferramenta essencial para reabilitação e bem-estar.
A Remada Rosa foi iniciada simultaneamente, às 9h, em diversas partes do Brasil, como em São Paulo, Brasília, Alagoas e Paraná. Na capital cearense, o evento foi realizado na altura do espigão do Náutico, no bairro Meireles.
Inspirado nas pesquisas do médico canadense Donald McKenzie, especialista em Medicina Esportiva, o movimento destaca os benefícios do remo para mulheres que enfrentaram o câncer de mama. McKenzie demonstrou que o esporte auxilia na redução dos sintomas do linfedema — um inchaço no braço comum após cirurgias de remoção dos linfonodos axilares.
Esse movimento rosa tem se expandido globalmente. No Brasil, há mais de dez anos, grupos de mulheres, sejam pacientes oncológicas ou já curadas, têm se reunido para praticar a canoagem. Difundem a mensagem de que o esporte é um poderoso aliado não apenas contra a doença, mas também contra a depressão, muitas vezes relacionada pelo medo e pelo árduo tratamento.
O POVO teve a oportunidade de participar da remada. Nem o mar agitado, o sol forte ou os ventos intensos foram capazes de tirar o sorriso das participantes, que, de diferentes idades, histórias e experiências, compartilham um elo comum: a superação.
Uma das participantes foi Ana Gonçalves, servidora pública e atleta. Em 2014, aos 36 anos, ela enfrentou o diagnóstico de câncer de mama. "Felizmente, eu me curei dele. O meu primeiro tratamento foi bem longo, um verdadeiro choque”, conta.
Há três anos, ela conheceu a canoagem através da primeira Remada Rosa realizada no Ceará. “Foi então que, com o apoio de uma amiga, há um ano decidimos criar nosso próprio projeto, o A(Mar) Rosa”. Hoje, além de ser voluntária, Ana também é atleta do Campeonato Cearense de canoagem e integra a equipe de competição Ohana.
Com sua própria vivência, ela defende a importância da atividade física no processo de recuperação e prevenção. Atualmente, Ana luta contra um novo câncer, desta vez de endométrio. "A proposta do nosso projeto é mostrar que a vida continua após o câncer, desde que os cuidados sejam mantidos. A atividade física faz parte desse cuidado e contribui para a prevenção e tratamento".
As canoas foram disponibilizadas gratuitamente por empresas de esportes náuticos, como a Vibe Va'a Club, Ceará SUP e Hale Kai.
Ana Gonçalves explica que os estudos do canadense Donald McKenzie, que inspiraram a prática das Remadoras Rosa no Brasil, orientavam a utilização de Dragon Boats, tipo de canoa com 22 lugares. “Mas aqui no Ceará, onde o mar é mais agitado, adaptamos para a canoagem havaiana."
Outro destaque foi a variedade de canoas presentes, que não eram apenas individuais (conhecidas como OC6), também incluíam embarcações duplas e triplas. Quando duas canoas havaianas OC6 se juntam, presas por cordas resistentes, elas formam um catamarã, que possui dois cascos. Se três canoas OC6 se unirem, o resultado é um trimaran, que tem três cascos.
Remar gera benefícios para o corpo e mente
Na parte traseira do catamarã que transportava a equipe do A(Mar) Rosa estava a voluntária e médica Magda Almeida, 44. Remadora há seis anos, ela atua como capitã e leme da equipe. “Acredito que o fato de ser médica ajuda a criar uma conexão, pois muitas delas ainda estão em tratamento e lidam com a quimioterapia. Elas se sentem mais seguras sabendo que têm alguém que entende as reações adversas do tratamento”, conta.
Magda pontua os benefícios da canoagem para as pacientes. “É fundamental realizar atividade física pelo menos duas vezes por semana, não só para lidar com o sobrepeso, mas também para auxiliar na recuperação das mastectomias. Muitas delas passam por esvaziamento ganglionar e enfrentam limitações na movimentação dos braços. Retomar a atividade física, que envolve amplitude de movimentos, é crucial para elas”, diz a médica.
Ela também ressalta que, ao contrário do que se pode pensar, a canoagem promove a mobilidade do corpo todo, não apenas os braços. “A respiração também é fundamental, pois precisamos sincronizar os movimentos. Além disso, estar ao ar livre, sob a luz do sol, proporciona vitamina D”.
Quem também participou foi Eliane Carvalho Moreno, 58, que pratica canoagem há um ano. Aos 42 anos, ela recebeu o diagnóstico de câncer na tireoide. Mesmo após curada, enfrentou sequelas graves nos rins. Três anos depois, recebeu o diagnóstico de câncer de mama. Felizmente, mais uma batalha foi vencida.
Hoje, Eliane se dedica a dar força e orientação sobre o câncer da mama a outras pessoas, sendo coordenadora da ONG Grupo de Educação e Estudos Oncológicos (GEEON).
“O importante é manter um estilo de vida mais ativo. A canoagem, mas também outros esportes que pratico, como a natação, tiro ao alvo e caminhada, além de ter a interação com outras pessoas que também passam por desafios de saúde, me ajudam a ver a vida com mais leveza”, destaca.
Não apenas em outubro, mês da campanha contra o câncer de mama, o projeto A(Mar) Rosa realiza práticas gratuitas de canoagem ao longo de todo o ano. Os encontros ocorrem às segundas e quartas-feiras, às 6h30min, e aos sábados, às 7h30min. O ponto de encontro é no Vibe Va'a Club, localizado na avenida Beira Mar, no bairro Meireles.