Pai de estudante que morreu atropelado em Fortaleza pede justiça: "Meu filho não pode morrer em vão"
Jovem estava na garupa de um motociclista de app e, devido a uma manobra, caiu do veículo e foi atingido por um ônibus na última sexta-feira, 27. Caso aconteceu no cruzamento da Marechal Deodoro com a Av. 13 de Maio
08:37 | Out. 01, 2024
Amoroso, parceiro, amigo. É assim que Marcus Eloia, 46, descreve o filho João Victor Fontenele Eloia, 21, que morreu na última semana após sofrer um acidente de trânsito no bairro Benfica, em Fortaleza. Ele pede justiça para que a morte do jovem não fique impune.
O caso aconteceu na última sexta-feira, 27, às 8 horas, entre o cruzamento da rua Marechal Deodoro com a Avenida 13 de Maio. João estava na garupa de uma motocicleta, em uma corrida de transporte por aplicativo, quando o motociclista que o levava iniciou uma discussão com outro piloto.
Na sequência, o condutor arrancou com o veículo em alta velocidade, o jovem se desequilibrou e caiu da moto, sendo atropelado por um ônibus. Ele não resistiu aos ferimentos.
Marcus estava em sua loja quando soube o que havia acontecido com o filho. Ele largou tudo o que estava fazendo e correu para ir ao encontro de João, mas quando chegou já encontrou o rapaz morto.
Naquele dia, o empreendedor lembra que o jovem, que cursava Engenharia da Computação na Universidade Federal do Ceará (UFC) e trabalhava no ramo, saiu de casa para o trabalho às 7h21min após ter solicitado uma moto pelo aplicativo da 99 Pop.
A decisão de se deslocar de moto para os lugares não era aconselhada pelo pai. "Eu pedia pra ele: 'Meu filho, gasta um pouquinho mais, vai de carro, não vai em moto''', lembra. Ele acredita que às vezes o estudante optava por moto também por causa da pressa em chegar.
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Três dias depois da morte, Marcus, que também é da área da Engenharia da Computação, busca forças nas memórias com o filho e no amor paterno para seguir em frente.
Além da paternidade, tinha uma amizade com o filho, dividindo a profissão e a torcida pelo Fortaleza Esporte Clube.
"Meu filho é um filho muito amoroso. Eu tô bem, eu tô bem. Eu só tô pensando nos 21 anos de maravilhas que ele me deu. Não posso pensar diferente", diz Marcus, que é pai também de uma jovem de 18 anos.
Motociclista teve perfil bloqueado no app
O motociclista que levava o estudante não parou para prestar socorro ao jovem. No mesmo dia, durante a noite, ele se apresentou em uma delegacia, prestou depoimento e foi liberado.
Conforme informação divulgada pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), a Polícia Civil do Ceará (PC-CE) segue apurando o caso. As investigações estão a cargo do 11º Distrito Policial (DP), unidade da Polícia Civil que permanece realizando oitivas e diligências para elucidar a ocorrência.
Em nota ao O POVO, a 99 lamentou a morte e informou que bloqueou imediatamente o perfil do motociclista, mobilizando uma equipe especializada que busca contato com os familiares do passageiro para oferecer acolhimento e informações sobre o
acionamento do seguro.
"A empresa está à disposição para colaborar com as autoridades", informa. Ainda em nota, a 99 alega priorizar a segurança de passageiros e condutores.
Segundo a empresa, os motociclistas parceiros passam por um rigoroso processo de cadastro com base em documentos como CPF, CNH, licenciamento do veículo, reconhecimento facial e checagem de antecedentes criminais.
"O app disponibiliza ainda mais de 50 funcionalidades de segurança, como: alerta de velocidade, relatório de segurança educativo, monitoramento da corrida via GPS, e seguro do início ao final da corrida", completa.
Pai pede justiça pela morte do filho
Enquanto a ocorrência segue sendo investigada, Marcus permanece em busca de justiça. "Se esse cara tratou meu filho desse jeito, com outros ele não vai tratar diferente. Vários pais e filhos estão correndo perigo (...) Eu não tenho raiva nenhuma dele, eu só quero que ele seja responsabilizado. Aqui na Terra nós temos por obrigação e dever ser cidadão, cumprir todas as leis. Esse cara, infelizmente, ele infringiu várias leis, ele não pensou no meu filho", diz o empreendedor.
O empreendedor também acredita que infrações anteriores devem ser averiguadas: "Quero que a prática irregular desse rapaz, que ocasionou varias infrações em nossa lei, que a Justiça averigue cada infração realizada (...) Temos que entender que uma infração ao próximo é uma infração grave, que ele cometeu além de infrações de trânsito infrações na vida de um jovem de 21 anos que tinha um futuro brilhante".
Apesar de desejar a responsabilização do motociclista, Marcus diz que o amor de pai está acima de qualquer sentimento. "O único sentimento que pode trazer melhoras pra gente é o amor. Eu não quero que ninguém tenha raiva por esse rapaz (motorista), que tenha ódio. Eu não quero que ninguém faça justiça com as mãos, por isso que eu tô pedindo a todos os meios que declarem que o meu amor a meu filho é maior, eu não tenho raiva, do fundo do meu coração, mas não pode ficar impune", completa.
Conciliador e parceiro, descreve o pai
Marcus descreve o filho como um rapaz conciliador e parceiro.
"Ele era a melhor pessoa do mundo, amigo, conciliador, parceiro, tem vários adjetivos pra ele. Meu filho não pode morrer em vão. O pessoal chama (o que aconteceu) de tragédia, eu não chamo de tragédia. O meu filho fez a passagem. Deus pegou na mão dele e falou 'venha pra cá meu filho, saia daí'. Tenho que ser grato a Deus pelos 21 anos de vida que ele passou ao meu lado", diz.
Atualizado às 14h53min