O POVO promove debate sobre cultura de paz e combate ao discurso de ódio

As convidadas debateram sobre cultura de paz e combate ao discurso de ódio, correlacionando com experiências pessoais

20:53 | Set. 25, 2024

Por: Bárbara Mirele
FORTALEZA-CE BRASIL, 25-09-2024 Evento sobre discurso de ódio e cultura de paz, no Espaço O POVO (Foto Joao Filho Tavares O Povo) (foto: João Filho Tavares)

O POVO promoveu nesta quarta-feira, 25, um debate sobre cultura de paz e combate ao discurso de ódio. A palestra foi realizada pelo Comitê de ESG (Environmental, Social and Governance) O POVO/Fundação Demócrito Rocha (FDR) e aconteceu no Espaço de Cultura e Arte. O evento foi mediado pela gerente editorial da FDR, Lia Leite.

Participaram da palestra Cida Medeiros, mediadora de conflitos e articuladora em ações de prevenção da violência; Mazé Carvalho de Castro, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco Figueiredo de Paula Pessoa; e Jaqueline Queiroz, embaixadora e mentora de Mulheres Plus Size.

Lia explica que a temática surgiu acerca do questionamento de “como poderíamos falar de um discurso que promove a paz em um cenário que às vezes é tão violento como o campo das discussões. Como um jornal (empresa de comunicação), não podemos ficar isentos a partir disso”.

A mediadora de conflitos, Cida Medeiros, destaca que é urgente que pensemos como “é que funcionam as leis. Se vir na rua, alguém que está rindo do outro, cancelando outro. Será que isso é realmente engraçado? O outro não é o inimigo”.

“Já aconteceu comigo de eu estar entrando no meu condomínio, e eu vi um carro crescendo atrás de mim pelo retrovisor. E aí a gente entrou no mesmo condomínio e eu fiz questão de estacionar, ir lá e dar boa tarde. Ele ficou extremamente constrangido”.

Cida explica que a desqualificação é um dado da violência. Segundo ela, quando alguém desqualifica o outro, ela toma violência como valor. “A desqualificação é um dos primeiros movimentos de ação violenta”, explica.

A mediadora de conflitos explica que como adultos, é preciso aprender a se auto-regular. Ainda conforme ela, cada pessoa é importante para fazer a diferença, pois a violência está sendo construída politicamente.

“Tudo bem que precisamos de políticas públicas, de uma série de coisas organizadas. Mas, é a sociedade, no seu dia a dia, a forma como pais tratam filhos, alunos tratam professores (...) A violência está sendo construída politicamente. Então, até um país chegar e empossar uma guerra, foi preciso que a sociedade inteira falasse ‘não, isso aqui tem que ser feito’”.

Cida finaliza destacando que cada um pode ser um agente de paz. “É urgente, e aqui nós temos uma pequena humanidade. A gente já tem a possibilidade de fazer algo muito maior, a partir da nossa família e nossas relações cotidianas. Não é preciso esperar para combinar o processo. É só você querer”.

Já a diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisco Figueiredo de Paula Pessoa, Mazé Carvalho de Castro, relata um pouco de sua trajetória e preconceitos sofridos por ser uma mulher trans.

“Nasci na ditadura militar e fiz minha transição aos 18 anos. Foi um período bem conturbado e o que eu percebo é a grandiosidade do tempo que tenho vivido”. Ela afirma que a expectativa de vida de mulheres trans no Brasil é de até 35 anos de idade. O dado é da Associação Nacional de Travestis e Transexuais.

A diretora relata que, na sua visão, existem três pilares ligados ao discurso de ódio contra pessoas trans. O primeiro é a criminalidade: "Sempre somos tratadas como pessoas que têm algum crime ou que cometemos algum erro”.

Ela continua: “Outro que está ligado ao discurso de ódio, é a família. Somos 212,6 milhões de brasileiros. Desde quando menos de 1% dessa população vai destruir uma família? Então pega-se esse tema de família e faz-se com que ele se torne muito maior, alegando que nós estaremos defasando a possibilidade de você ter uma família”.

 

De acordo com Mazé, o terceiro e último pilar está ligado à religião. “Ela está definitivamente nas nossas costas. Somos as culpadas de muitas das mazelas desse mundo, apesar de sermos uma pequena minoria. Então pega-se essa religião, aproveitando para nos difamar”.

A diretora finaliza: “Só comecei a ganhar espaço quando peguei aquele espaço, que era ruim pra mim e transformei. Fiz essa transformação com alteração de voz, imposição de respeito. E eu percebi que seria através da educação que eu teria esse espaço”.

A embaixadora e mentora de Mulheres Plus Size, Jaqueline Queiroz, relata que o discurso de ódio e preconceito em relação a pessoas gordas é “muito velado”. “Vem acompanhado com um discurso ‘lindo’ de saúde.

“As mulheres e homens gordos estão nesse espaço de serem [taxados de] engraçados ou tratadas como melhores amigas”. Ela conta que no ano de 2010 o movimento plus size chegou em São Paulo e a mudança aconteceu: “Eu quero isso pra minha vida”, afirma.

Ela afirma que há 13 anos está em uma “luta incansável” para que a gordofobia também seja reconhecida como crime, assim como o racismo e a homofobia. “São só 13 anos, tô engatinhando ainda. Tem muito que crescer”, disse. "A gordofobia é enraizada. Temos que discutir muito e ter muitas políticas públicas para que a gente comece a ter pelo menos uma conversa com várias pessoas que entendam”.