Desocupação de terreno: grupo encapuzado teria sido contratado por advogados

Uma mulher foi morta a tiros durante a desocupação no bairro Carlito Pamplona

20:21 | Set. 16, 2024

Por: Jéssika Sisnando
BARRACOS da ocupação nomeada Deus é Amor, no bairro Carlito Pamplona, foram derrubados (foto: FABIO LIMA)

Advogados de uma empresa de compra e venda de imóveis teriam sido responsáveis pela contratação do grupo encapuzado que realizou a desocupação do terreno localizado no bairro Carlito Pamplona, em Fortaleza. Durante a expulsão das famílias, no dia 10 de setembro, uma mulher de 28 anos, que estava nas proximidades, foi atingida por um tiro e morreu.

A defensora pública Elizabeth Chagas, que concedeu entrevista ao O POVO, relata que a informação sobre a contratação ocorre com base no relato de interrogados. No inquérito os advogados negam que tenham feito essa contratação. No total, dez pessoas já foram ouvidas e documentos e equipamentos foram apreendidos para subsidiar as investigações. 

A fonte relata, com base no inquérito, que parte dessas pessoas encapuzadas estava armada e teria a função de expulsar as famílias que invadiram o terreno. Outros integrantes do grupo estariam desarmados e seriam responsáveis pela limpeza da área após a desocupação.

As informações da defensora têm base nos depoimentos prestados à Polícia, que chegou aos nomes de um empresário e de um bombeiro militar, que seriam responsáveis pelo recrutamento do grupo junto aos advogados. Os advogados negam a contratação. 

A defensora pública afirma que mais de mil famílias participavam da ocupação. Conforme ela, o Grupo de Trabalho formado pela Defensoria Pública do Estado (DPE), pela Secretaria de Direitos Humanos do Estado e pelos escritórios de direitos humanos da Câmara Municipal de Fortaleza e da Assembleia Legislativa, estará presente na comunidade ainda nesta semana para realização de um mapeamento sobre as condições de vida das famílias. 

"Nesta semana vamos colher informações sobre quem são essas pessoas, se há crianças, adolescentes, se tem pessoas com deficiências, autismo, doenças crônicas, se existem mulheres grávidas, se estão amamentando, se recebem algum auxílio, se possuem dívidas e qual o tipo de moradia que foi feita, se barraco... Verificar se as crianças estudam nas proximidades", detalhou a defensora.

Desocupação com uma morte no Carlito Pamplona 

No dia 10 de setembro, um grupo encapuzado realizou a desocupação de um terreno no bairro Carlito Pamplona, no Grande Pirambu, em Fortaleza, onde diversas famílias montaram barracos. A ação contou com o uso de uma retroescavadeira, e parte do grupo utilizava armas de fogo.

Mayane Reis, de 28 anos, estava em busca do marido quando foi atingida por um tiro no peito. Ela foi socorrida pelos moradores, mas não resistiu aos ferimentos. 

A vítima trabalhava como vendedora e o companheiro como entregador. Ela deixou uma criança de 5 anos. No dia do crime, três pessoas foram encaminhadas à delegacia e liberadas no mesmo dia. 

A Polícia Civil informou que quatro mandados de busca e apreensão relacionados aos suspeitos foram cumpridos em Fortaleza e na Região Metropolitana na quinta-feira, 12. 

"Durante o cumprimento dos mandados que ocorreram em imóveis da Capital e em Maracanaú, documentos, aparelhos celulares, notebook e duas armas de fogo foram apreendidos. O material será periciado e subsidiarão as investigações. As armas também passarão por perícia e microcomparação balística", informa.

Empresa nega uso de violência

Por meio de nota, a empresa proprietária do terreno, a Fiotex, informou que "não compactua com atos de violência". Afirma ainda que a ação foi testemunhada por policiais militares e que ocorreu, inicialmente, de forma pacífica. Um grupo, porém, que seria de fora do terreno, teria arremessado pedras, "ateando fogo e realizando disparos contra todos que se encontravam no local e seus arredores". 

Sobre os advogados citados no inquérito, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou que caso haja qualquer acusação falsa com o intuito de criminalizar o exercício da advocacia poderá ensejar em uma ação de perdas e danos e outra de natureza criminal, além da participação da OAB nos respectivos processos no interesse de defender a advocacia. 

Atualização
A informação sobre a suposta contratação de grupo encapuzado foi repassada a partir dos depoimentos.

Atualizada em 18/9/24, às 18h21min