Moradores pedem justiça por morte de jovem e reivindicam espaço um dia após desocupação

Ocupantes também alegam falta de assistência pelo poder público diante do caso, registrado na madrugada dessa terça-feira, 10. No terreno, alguns moradores retornam para reconstruir moradias destruídas mesmo com sentimento de insegurança no espaço

Ocupantes de um terreno no bairro Carlito Pamplona, em Fortaleza, estiveram reunidos na manhã desta quarta-feira, 11, pedindo justiça pela morte da jovem, de 28 anos, baleada durante a desocupação do espaço, na madrugada de ontem. O local estava sendo ocupado para moradia de mais de 600 famílias há pelo menos 15 dias e foi desocupado por seguranças da empresa proprietária do terreno, a Fiotex Industrial.

Dentro do terreno, a população reivindicou também o retorno ao espaço ocupado anteriormente e afirmaram sentimento de revolta pela forma que foram retirados do local pelos seguranças. Conforme moradores, ao longo da madrugada de ontem, homens encapuzados e armados expulsaram dezenas de famílias com crianças e idosos no local de forma violenta.

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Diante da morte da morada Mayane dos Reis, 28, ocupantes realizaram algumas manifestações pedindo justiça. A vítima não ocupava o terreno e morreu quando se aproximou do local durante a desocupação. “Justiça porque a Mayane era uma menina trabalhadora, educada, gentil e sempre tratou todo mundo com igualdade. A gente quer justiça pela Mayane”, disse o líder e pacificador comunitário Raphael Pequiar.

Gritos por justiça ecoaram de dentro do terreno desocupado pelos moradores ao longo da manhã. A dor de perder o espaço onde morava e uma amiga próxima, refletiu em sentimentos de desamparo e injustiça por uma das ocupantes. “Estamos sentindo essa dor e a morte dela não será em vão. Era uma situação que não deveria ter chegado a esse ponto porque aqui não tem vagabundo, tem seres humanos igual a todo mundo”, disse uma moradora.

Uma homenagem à Mayane foi realizada no início da tarde de hoje na saída do velório da vítima, realizado em um templo religioso, no bairro Pirambu. Populares vestidos de branco soltaram balões em forma de homenagem à vítima. Ela deixou uma filha de 5 anos de idade. Segundo moradores, Mayane dos Reis estava à procura de uma vaga na ocupação no Carlito Pamplona.

Apesar do clima de tensão, alguns ocupantes estão reconstruindo os espaços destruídos para retomar as moradias futuramente. “Meu filho já consagrou como a casa dele. Mesmo com medo que tudo aconteça de novo, aqui é a minha casa. Eu vou levantar o local, mas só volto a ocupar com uma segurança firme”, disse o morador.

Ainda segundo o morador, a principal reivindicação é de justiça pela vida de uma inocente e, em seguida, o direito à moradia com a expectativa de voltar para o local. Uma das ocupantes destacou que deve ser destinado à população e que, se não for para moradia, que seja para serviços de saúde e educação.

“Que o terreno seja usado para à população, que seja um parque, um posto de saúde, uma escola, qualquer coisa aqui pra gente, para ajudar as pessoas daqui. Precisamos de ajuda. Aqui está há 35 anos sem uso”, disse uma ocupante.

A empresa proprietária do terreno disse, em nota, ontem, que foi oficiada pela Polícia Militar do Ceará (PMCE) na última sexta-feira, 6, sobre a ocupação e que um Boletim de Ocorrência foi feito no mesmo dia. "A empresa adotou as medidas para cessar a demarcação ilegal", disse

Ainda segundo a empresa, a ação de desocupação teria durado duas horas, de forma pacífica, até que a equipe teria sido surpreendida por pessoas de fora do terreno, "arremessando pedras, ateando fogo e realizando disparos contra todos que se encontravam no local e seus arredores". Nota menciona ainda que a ação foi "testemunhada" por policiais. A PM nega.

Moradores relatam desamparo pelo poder público após desocupação

O sentimento que ficou após os episódios de tensão no Grande Pirambu relacionados à desocupação do terreno foi, conforme os moradores, de desamparo, principalmente, pelo poder público. Eles afirmaram que, ao longo da manhã de hoje, não receberam assistência do Governo do Estado.

De acordo com o líder comunitário Rafael Pequir, nenhum ocupante foi orientado sobre o que fazer diante dos episódios e que a única assistência foi por meio da Defensoria Pública do Ceará (DPCE) e Escritório Frei Tito, no entanto, direcionada para acolhimento da família da vítima Mayane.

“O poder público não se faz aqui presente. Ninguém deu assistência aos moradores. A verdade é essa. Eles estão doentes, abalados, revoltados, com medo, abandonados e diversos outros traumas psicológicos causados por isso”, disse o líder comunitário.

Os moradores pedem, agora, que haja uma diálogo entre poder público, a empresa proprietária do terreno e os moradores para que seja feita justiça pelos atos causados pela desocupação.

Em nota, ao O POVO, nesta quarta-feira, 11, a Secretaria dos Direitos Humanos (Sedih) informou que equipes da secretaria estiveram na região ontem, por meio da Centro de Referência em Direitos Humanos - Dom Hélder Câmara (CRDH), ligado à Sedih, onde foi realizada escuta e diálogo com os moradores do bairro.

A secretária afirma que foi feito também um “atendimento, orientação e acolhimento psicossocial aos familiares da vítima letal”. “Ao longo dos próximos dias, a Sedih seguirá acompanhando e prestando suporte aos familiares da vítima”, disse a pasta.

Por meio de grupo de trabalho interinstitucional, que deverá englobar outras organizações de atuação social, a Secretaria também realizará e acompanhará encaminhamentos relacionados às famílias da ocupação.

A Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS) informou, nesta quarta-feira, 11, que as famílias afetadas pela desocupação de um terreno receberão, de forma prioritária, atendimento socioassistencial na sede do Centro de Referência da Assistência Social (Cras) Jacarecanga, equipamento que atende o território.

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