Desocupação de terreno tem morte, confronto e tensão no Grande Pirambu

Homens encapuzados invadiram local durante a madrugada desta terça-feira, 10, expulsando ocupantes do espaço. Uma mulher de 28 anos foi morta por disparo de arma de fogo durante o conflito

A desocupação de um terreno no bairro Carlito Pamplona, no Grande Pirambu, em Fortaleza, ocasionou a morte de uma mulher, de 28 anos, vítima de disparo de arma de fogo, na madrugada desta terça-feira, 10. A invasão foi iniciada por homens identificados como seguranças contratados por uma empresa privada, proprietária do terreno.

A ocupação nomeada “Deus é Amor” concentrava dezenas de moradores que ocuparam o espaço há pelo menos 15 dias, alegando que não possuíam moradia. O espaço estava entre as ruas Dom Hélio Câmera e rua Santa Rosa, e rodeada de mais três comunidades: Aldeia, Carandiru e Santa Rosa. Durante a ação, os moradores afirmaram que homens encapuzados chegaram usando força e armamento, além de um retroescavadeira, para desocupar o terreno.

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“Eu e a minha família estávamos dormindo. Eles chegaram rasgando a lona com uma faca e apontaram a lanterna e a pistola para gente. Chamei minha esposa pra arrumar as coisas e eles falaram “bora, vocês têm que sair daqui ligeiro”. Sempre com a lanterna na nossa cara pra a gente não ver o rosto deles. Chegaram no silêncio, todos de preto, encapuzados e de capacete”, disse um dos ocupantes do terreno, que preferiu ficar em anonimato.

Durante a invasão, uma moradora do entorno identificada como Mayane dos Reis, 28, foi atingida por disparo de arma de fogo, ainda durante a madrugada. A vítima foi socorrida por populares e levada para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Cristo Redentor, na avenida Leste Oeste, no bairro Cristo Redentor, que morreu no local. A vítima deixou uma filha de 5 anos de idade.

O POVO esteve no local e conversou com os moradores que presenciaram o conflito. “Começou por volta das 3 horas, pessoas passando ser polícia sem ser, com muita agressividade, com muita bala, atingindo família que nem dentro do terreno estava. Estão brigando por um local que está desapropriado há mais de 30 anos, que só serve para acumular doenças”, disse uma moradora do entorno do terreno.

Outra moradora afirmou que os seguranças invadiram o terreno com uma retroescavadeira ao lado de pelo menos cinco homens. “Na hora, tinha gente dormindo e eles não respeitaram e invadiram, expulsando as pessoas. Bateram nas pessoas que estavam dentro dos barracos e depois começaram as balas para os moradores saírem de dentro do terreno”, relata.

Diante da morte da moradora, populares iniciaram uma manifestação no entorno do terreno e instalaram barricadas para evitar o acesso de policiais no local. Ao longo da manhã, equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRaio), da Polícia Militar do Ceará (PMCE), estiveram no local para controlar as obstruções das vias interditadas.

Conforme informações obtidas pelo O POVO, com uma fonte da Segurança Pública do Estado, foi identificado indícios de um confronto entre os seguranças contratados da empresa e suspeitos de atuarem no tráfico de drogas na região durante a invasão, visto que a área foi identificada como ponto de comércio de drogas. Foram encontrados cartuchos de fuzis, 9mm e .40 entre os dois eixos do terreno.

O POVO identificou, no terreno ocupado, uma organização territorial em planejamento, com divisão de ruas e lotes com identificação de propriedade no chão do local, de forma irregular. Os espaços que ainda restaram da desocupação estavam ainda com algumas placas de papeis e papelões inscritos primeiros nomes e sobrenomes de possíveis ocupantes dos espaços.

Empresa do terreno nega violência em desocupação

A empresa proprietária do terreno no bairro Carlito Pamplona negou que houve abordagem violenta para cessar demarcação ilegal do espaço durante a madrugada desta terça-feira, 10. Em nota, a empresa Fiotex alegou que, durante a desocupação, não havia moradores no terreno e que a ação foi testemunhada por policiais militares e ocorreu de forma pacífica por quase duas horas.

Ainda segundo a Fiotex, na última sexta-feira, 6, foi oficiada pela Polícia Militar do Ceará (PMCE) que o terreno estava sendo alvo de “demarcação irregular”. Após a informação, a empresa registrou um boletim de ocorrência no 34º Distrito Policial (DP) sobre o caso.

A empresa proprietária do terreno informou ainda, em nota, que a equipe contratada foi surpreendida por “agressores vindos de fora do terreno, arremessando pedras, ateando fogo e realizando disparos contra todos que se encontravam no local e seus arredores”.

“A Fiotex não compactua com atos de violência. A empresa está à disposição dos órgãos de segurança para colaborar com as investigações e se solidariza com a família da vendedora Mayane Lima e com todas as outras vítimas. A empresa é proprietária do terreno há mais de 20 anos. O imóvel está registrado na matrícula 3507 do Cartório da terceira zona”, disse a empresa.

Incêndios e ônibus danificados durante desocupação

Após as ações de desocupação do terreno e o registro de uma morte no local, outros indivíduos, não identificados, colocaram fogo em entulhos e em vegetação em vias do bairro Carlito Pamplona. Os focos de incêndio foram controlados por equipes do Corpo de Bombeiros. Além disso, dois ônibus foram danificados.

A Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) informou que cinco linhas de ônibus de Fortaleza que passam pela região do Grande Pirambu tiveram seus itinerários desviados por causa de tentativas de vandalismo contra veículos, na manhã desta terça-feira, 10. Outras 14 rotas foram temporariamente retiradas de circulação. O serviço foi gradativamente sendo retomado durante à tarde de hoje. (Kleber Carvalho)

 

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