Projeto disponibiliza aulas de surfe gratuitas para 500 crianças em Fortaleza

Inscrições ainda estão abertas e podem ser realizadas por telefone; iniciativa conta com aulas específicas para alunos com deficiência

15:35 | Ago. 30, 2024

Por: Kleber Carvalho
Surfe cooperativo na Praia do Futuro (foto: FÁBIO LIMA)

A faixa de areia da Praia do Futuro, em Fortaleza, esteve mais movimentada durante a manhã desta sexta-feira, 30. Desde o início do dia, dezenas de crianças e adolescentes se reuniram para participar do lançamento da 2ª edição do Surfe Cooperativo, um projeto do Instituto Povo do Mar (Ipom) que oferta aulas de surfe gratuitas para Pessoas com Deficiência (PCDs) e público geral entre 5 e 17 anos de idade.

Com mais de 500 alunos inscritos, as aulas ocorrem de segunda a sexta-feira, com o objetivo de ensinar a prática do surfe e reforçar a importância do esporte e da preservação da natureza para os jovens. Entre uma prática e outra, os membros são convidados a realizarem a limpeza da praia, removendo o lixo que encontrarem durante o caminho até o mar.

Atendendo estudantes de diferentes idades, passando por infância, pré-adolescência, adolescência e até alguns adultos no caso das PCDs, a ideia do Instituto Povo do Mar é torná-los cidadãos mais conscientes e fazer com que levem a mensagem de preservação até suas comunidades.

“A gente acredita que a educação é um grande vetor de transformação da sociedade. Ela age como uma onda. Um impacta o outro, que impacta o outro e assim em um movimento infinito de transformação. É como a gente acredita e faz”, afirma a diretora do IPOM, Fabrini Andrade.

O projeto é realizado nos turnos da manhã e da tarde, sempre no contra turno de cada um dos estudantes. Em cada uma das aulas, os participantes contam com equipe de profissionais que realizam o acompanhamento das crianças.

Antes e durante a estadia na água eles recebem orientações de instrutores sobre os cuidados consigo mesmos e com o mar. Daniele Barbosa, 30, conta que um de suas partes favoritas na prática do surfe é o contato com a natureza.

"Eu gosto das aulas, gosto dos tios [instrutores], gosto dos meninos. Os meninos gostam de mim porque eu sou bonita, mas minha parte favorita é sentir o vento, ver os peixinhos, as tartarugas", conta a surfista, que tem déficit cognitivo.

Projeto conta com turmas para PCDs

Cerca de 30 alunos têm algum tipo de deficiência, seja ela física, cognitiva ou neural. Estes contam com uma turma específica, realizada sempre às sexta-feiras, e assim como os demais alunos eles são acompanhados por profissionais da saúde.

“A gente faz uma avaliação prévia com os pais e as mães, e a gente vê a real necessidade de cada um. Alguns é problema de coordenação motora, alongamento, o que eles necessitam realmente”, explica a fisioterapeuta do Surfe Cooperativo, Ana Paula Câmara.

Um dos pontos mais reforçados, segundo Ana Paula, é a interação dos participantes, como aqueles com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A partir do convívio com outras crianças, esses alunos desenvolvem maiores laços de amizade no Instituto, que podem auxiliar até no desenvolvimento de outras áreas do cotidiano.

“Tem ajudado muito eles nessa interação, comunicação, amizade e também na questão alimentar. Muitas vezes ele não quer comer, mas vê o amiguinho comendo, aí tenta experimentar para ver se gosta ou se não gosta”, explica Jozeane Azevedo, 38, mãe do pequeno Joel, 8, que tem diagnósticos de TEA e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

O projeto também tem auxiliado na autoestima de crianças e adolescentes por meio da prática do esporte, como é o caso de Juan Yuri, 15, que teve uma perna amputada. Durante o tratamento de um câncer quando mais novo, o jovem teve complicações que exigiram a retirada do membro inferior direito.

Foi então que ele, incentivado por um tio, que já era surfista, entrou para Surfe Cooperativo e desde então tem se sentido dentro e fora do mar, onde já compete e ganha medalhas com o esporte.

“Virou uma paixão mesmo. Elevou a minha moral e me deixou alegre de novo depois de tudo que eu passei. O surfe me ajudou a superar esses momentos difíceis. Me deu um alívio, uma alegria muito grande”, conta o aluno do IPOM e surfista.

Essas melhoras relatadas não são exclusivas de Joel e Juan. Ana Paula conta que constantemente o projeto recebe retorno de pais e acompanhantes dos alunos sobre melhorias dos pacientes no tratamento, impulsionadas pelo trabalho realizado no surfe cooperativo.

“A gente tinha criança aqui que tinha medo de pisar na grama, tinha medo de ir pro mar, não olhava e não falava com ninguém. Tinha quem não sabia dar um pulo. Hoje em dia a gente já vê essa evolução. Criança interagindo com outras crianças, conseguindo fazer os movimentos”, complementa a fisioterapeuta.

Projeto ainda recebe inscrições

Apesar do início das aulas, as portas seguem abertas para quem deseja entrar no Surfe Cooperativo. Para participar, é necessário se inscrever no quadro de alunos do Instituto Povo do Mar, onde o interessado poderá ser direcionado para várias atividades, incluindo o surfe.

Para participar é necessário estar regularmente matriculado em uma escola de ensino básico e com a frequência em dia. No caso dos alunos com deficiência, também é preciso apresentar um laudo que comprove a deficiência do candidato, além da presença de um acompanhante em todas as aulas, a cada sexta-feira.

Para mais informações, consulte o site do IPOM ou ligue para o telefone (85) 3111 5572.