Após queimadas, ar de Fortaleza tem índices piores que os registrados durante incêndio no Cocó
Concentração de material particulado no ar inalado por moradores é três vezes pior que durante os incêndios de janeiro; dados são comparados com o último sábado, 24, dia com pior qualidade do ar em 2024O nível de material particulado presente no ar de Fortaleza no último sábado, 24, dia com pior qualidade do ar no ano, superou o registrado durante os incêndios no Parque do Cocó em janeiro deste ano. Com 34,3 microgramas por metro cúbico (µg/m³), a concentração de aerossois no céu da Cidade foi cinco vezes maior que a registrada durante o início das chamas na área verde alencarina, no dia 18 de janeiro, quando a Terra do Sol apontou 6,6 µg/m³.
Os dados foram fornecidos ao O POVO pela Fundação da Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova) e indicam uma maior concentração de Material Particulado 2.5 (MP2.5), aerossol capaz de entrar na corrente sanguínea e causar problemas de saúde. Ainda de acordo com a fundação, um dos medidores que detectaram o incêndio no Cocó atingiu 11,8 µg/m³ médios, número quase três vezes menor que o anotado no último fim de semana.
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Já premiado como um dos melhores do País, o ar da Cidade tem sido afetado por queimadas na Amazônia, no Sudeste do Brasil e no Continente Africano. Segundo especialistas da área de climatologia, o material tem chegado à Capital por meio de dois sistemas: a Alta Subtropical do Atlântico Sul e a circulação atmosférica do continente Sul-americano
A primeira é responsável por trazer os materiais vindos dos incêndios na África, mais especificamente da região da floresta do Congo. Já a segunda é responsável por levar a fumaça gerada na Amazônia até a Capital.
Apesar de todo o impacto, os prejuízos gerados no ar de Fortaleza são menores se comparados com a situação dos estados onde ocorrem as queimadas no Brasil. Isso acontece porque durante o caminho até a costa do Nordeste, as partículas de MP2.5 vão sendo perdidas pelas massas de ar.
“Justamente por esse tipo de circulação é que existe o transporte de material particulado das queimadas da região amazônica e centro-oeste do Brasil. Porém, também não é em grande quantidade, mas é uma quantidade suficiente que contribui para esse aspecto do céu que a gente tem observado”, explica o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Lucas Fumagalli.
A situação é semelhante na África, de onde o MP2.5 é trazido pelos ventos alísios, passando pelo Oceano Atlântico.
“A concentração desse material não é tão grande, porque boa parte acaba sendo depositado sobre o oceano nesse caminho até a América do Sul, outra parte é dispersa para outras regiões, então chega uma quantidade, mas não uma quantidade muito grande”, acrescenta Fumagalli.
Prejuízos à saúde
Com capacidade de adentrar nos pulmões e na corrente sanguínea, o MP2.5 pode causar diversos problemas para a saúde, como problemas cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórios, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).
Segundo os parâmetros recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a média diária máxima para a concentração de MP2.5 no ar, sem prejuízos à saúde de quem o respira, é de 15 µg/m³, ou seja, menos da metade presente em Fortaleza no dia 24 de agosto.