Após queimadas, ar de Fortaleza tem índices piores que os registrados durante incêndio no Cocó

Concentração de material particulado no ar inalado por moradores é três vezes pior que durante os incêndios de janeiro; dados são comparados com o último sábado, 24, dia com pior qualidade do ar em 2024

12:57 | Ago. 28, 2024

Por: Kleber Carvalho
Incêndio no Parque do Cocó: fumaça se espalhou por bairros de Fortaleza e chamou a atenção para a necessidade de proteção (foto: AURÉLIO ALVES)

O nível de material particulado presente no ar de Fortaleza no último sábado, 24, dia com pior qualidade do ar no ano, superou o registrado durante os incêndios no Parque do Cocó em janeiro deste ano. Com 34,3 microgramas por metro cúbico (µg/m³), a concentração de aerossois no céu da Cidade foi cinco vezes maior que a registrada durante o início das chamas na área verde alencarina, no dia 18 de janeiro, quando a Terra do Sol apontou 6,6 µg/m³.

Os dados foram fornecidos ao O POVO pela Fundação da Ciência, Tecnologia e Inovação de Fortaleza (Citinova) e indicam uma maior concentração de Material Particulado 2.5 (MP2.5), aerossol capaz de entrar na corrente sanguínea e causar problemas de saúde. Ainda de acordo com a fundação, um dos medidores que detectaram o incêndio no Cocó atingiu 11,8 µg/m³ médios, número quase três vezes menor que o anotado no último fim de semana.

Já premiado como um dos melhores do País, o ar da Cidade tem sido afetado por queimadas na Amazônia, no Sudeste do Brasil e no Continente Africano. Segundo especialistas da área de climatologia, o material tem chegado à Capital por meio de dois sistemas: a Alta Subtropical do Atlântico Sul e a circulação atmosférica do continente Sul-americano

A primeira é responsável por trazer os materiais vindos dos incêndios na África, mais especificamente da região da floresta do Congo. Já a segunda é responsável por levar a fumaça gerada na Amazônia até a Capital.

Apesar de todo o impacto, os prejuízos gerados no ar de Fortaleza são menores se comparados com a situação dos estados onde ocorrem as queimadas no Brasil. Isso acontece porque durante o caminho até a costa do Nordeste, as partículas de MP2.5 vão sendo perdidas pelas massas de ar.

“Justamente por esse tipo de circulação é que existe o transporte de material particulado das queimadas da região amazônica e centro-oeste do Brasil. Porém, também não é em grande quantidade, mas é uma quantidade suficiente que contribui para esse aspecto do céu que a gente tem observado”, explica o meteorologista da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Lucas Fumagalli.

A situação é semelhante na África, de onde o MP2.5 é trazido pelos ventos alísios, passando pelo Oceano Atlântico.

“A concentração desse material não é tão grande, porque boa parte acaba sendo depositado sobre o oceano nesse caminho até a América do Sul, outra parte é dispersa para outras regiões, então chega uma quantidade, mas não uma quantidade muito grande”, acrescenta Fumagalli.

Prejuízos à saúde

Com capacidade de adentrar nos pulmões e na corrente sanguínea, o MP2.5 pode causar diversos problemas para a saúde, como problemas cardiovasculares, cerebrovasculares e respiratórios, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Segundo os parâmetros recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a média diária máxima para a concentração de MP2.5 no ar, sem prejuízos à saúde de quem o respira, é de 15 µg/m³, ou seja, menos da metade presente em Fortaleza no dia 24 de agosto.