Falhas em airbags mataram dois motoristas em Fortaleza, aponta estudo
Pefoce identificou que as vítimas, mortas em acidentes registrados 2022 e 2023, foram atingidos por peças arremessadas pelos próprios airbags. Recall está em andamento
21:30 | Ago. 26, 2024
Dois acidentes de trânsito ocorridos em 2022 e 2023 — registrados respectivamente, nos bairros Mondubim e Dionísio Torres, em Fortaleza — remembraram a importância de um recall que envolve mais de 100 milhões de carros em todo o mundo.
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Mesmo aparentando uma baixa gravidade, os dois acidentes resultaram na morte de dois condutores e, o mais intrigante para os peritos e policiais que atenderam às ocorrências, as vítimas apresentavam lesões semelhantes às de disparos de armas de fogo.
Um estudo inédito da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), divulgado nesta segunda-feira, 26, identificou que o que, na verdade, provocou os óbitos nos dois casos não foram as colisões, mas sim uma peça do sistema do airbag dos veículos.
“Após minuciosa análise constatou-se que o objeto retirado do corpo da vítima trata-se de um fragmento do dispositivo de acionamento (insuflador) do sistema para inflar a bolsa do airbag, cuja referida peça fica localizada na região central da direção (volante)”, diz trecho do laudo da Pefoce referente ao caso do Mondubim, que resultou na morte de um homem de 38 anos, cuja identidade não foi divulgada, em setembro de 2022.
O caso no Dionísio Torres ocorreu em 11 de dezembro de 2023 e vitimou a médica Rayssa Rannyelle Santos da Silva, de 30 anos. Ela chegou a ser socorrida a uma unidade hospitalar, mas morreu dois dias depois.
“A diferença entre os casos, conforme os laudos periciais, está no ponto do corpo atingido pela peça”, divulgou a Pefoce. “Na situação anterior, o homem foi atingido no pescoço. Neste, o fragmento, com dimensões aproximadas de 24 mm de diâmetro e 20 mm de comprimento, foi retirado do crânio”.
Nos Estados Unidos, a Takata, empresa que fabricava o airbag, concordou em declarar-se culpada de uma acusação movida contra ela e a pagar indenização de 1 bilhão de dólares.
Conforme o Departamento de Justiça dos EUA, desde meados de 2000, a fabricante sabia que certos insuflador de air bags à base de nitrato de amônio não funcionavam de acordo com as especificações exigidas pelas montadoras de carro. Pelo menos, 27 pessoas morreram nos EUA por causa do defeito. No mesmo ano, a Takata faliu.
No Brasil, apesar dos sucessivos chamados para recall, milhões de carros equipados com esses airbags ainda estão em circulação. Para saber se o seu veículo está entre aqueles que precisam da troca, basta consultar o chassi ou a placa do carro em: https://portalservicos.senatran.serpro.gov.br/#/veiculos/recall
“Percebemos que é um serviço de utilidade pública realizado pela nossa Perícia Forense, pois os veículos tinham recall a ser realizado e não foi feito", declarou o perito criminal da Pefoce, Fernando Viana, do Núcleo de Perícias em Engenharia Legal e Meio Ambiente (NPELM/Pefoce).
"Nosso papel é alertar a população para, existindo a solicitação de recall, a população deve atender, até para evitar um acidente fatal”.