O que você sonhou há 10 anos, na escola? Ex-alunos desenterram cartas e vivem reencontro

O material continha cartas com sonhos, projetos e objetivos de vida. O encontro foi marcado pelo afeto e se transformou em uma verdadeira comédia dramática, dada a incerteza sobre o exato local onde foram enterradas e ao humor dos presentes

17:12 | Ago. 20, 2024

Por: Emanuel Furtado
FORTALEZA, CE, BRASIL, 17-08-2024: Após 10 anos alunos e professores abrem capsula do tempo (Matheus Souza/Especial para O povo) (foto: Matheus Souza)

Uma das primeiras turmas de alunos e professores do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Profissionalizante Onélio Porto resolveu prospectar o futuro. Para isso, utilizaram a disciplina Projeto de Vida e definiram uma ação que mexeria com cada um deles até hoje: enterrar duas cápsulas (caixas) do tempo com cartas cheias de sonhos e desejos pessoais e profissionais. Elas foram programadas para serem abertas dez anos depois.

Após uma década chegou o momento de reaver o que foi guardado. Ansiedade, nostalgia, reencontros, risos e o conhecimento de como está cada um hoje marcou o encontro, que aconteceu no último fim de semana.

Mas eis que veio o inusitado. Qual o local exato onde as duas caixas com as cartas - e também um pen drive com imagens da época - estavam enterradas? Uma verdadeira comédia dramática, dado o humor dos presentes. Como localização, apenas uma única foto da época, onde uma coluna da escola serviu de base para a procura do que foi escrito e enterrado.

E haja chão para ser cavado; já solidificado pelo tempo. Pedaços de velhas telhas e uma enxada da instituição de ensino ajudaram no primeiro momento. Não funcionou o suficiente, já que os objetos para a perfuração acabaram quebrados. A solução foi sair e comprar uma alavanca e uma nova enxada (para repor a instituição de ensino). Nesse intervalo todo, muita conversa, troca de afetos e a angústia de achar o local exato dos objetos enterrados. Deu certo!

Apesar de uma das caixas não ter sido encontrada, o clima foi de festa. Dado o tempo, não foi possível reaver o que esperavam, pois a maior parte do material foi carcomida pelo solo. O fato não abalou os presentes e o reencontro foi maior.

Desde o último mês de junho eles criaram um grupo de whatsapp para organizar o tão esperado momento e já estão marcando outra reunião para outubro. A ideia é unir novamente o grupo.

“Dez anos atrás, quando estávamos terminando o ensino médio, tínhamos uma dúvida de como ia ser tudo, como íamos acompanhar a nossa trajetória após uma década. Então essa ideia foi uma maneira que conseguimos para imaginar como seria o nosso futuro e trilhar o caminho através dos nossos sonhos”, destaca Lucas Kennde, empresário, programador e um dos organizadores do encontro.

Lucas lembra que sonhava em ter uma família no futuro e considera reflexivo o momento do reencontro com os outros alunos e professores. “Já se passaram 10 anos. É muito tempo de lá para cá. E as coisas mudam, nossas ideias mudam e fica a vontade do que queríamos no passado”, avalia.

A hoje psicóloga infantil Thaís Xavier de Sousa também compareceu ao encontro. Já chegou à escola devolvendo uma antiga agenda para um dos colegas - guardada ao longo dos anos. Ela conta que, se pudesse, faria mais cápsulas do tempo para abrir daqui uma década.

“Aqui é um momento nostálgico. É uma parte da minha trajetória. Eu cheguei até aqui por causa dessas pessoas. É muito emocionante. Eu lembro de cada um da minha adolescência e ver eles todos adultos, pais, profissionais formados, me surpreende. Cada um com sua trajetória. Mas não só eles, a escola Onélio Porto, os professores. Todos eles constituíram muito a minha base”, reflete.

Professor dos alunos durante os três anos do ensino médio, Gustavo Lopes lembra que a turma era um diferencial na escola e que foi um dos primeiros grupos do ensino Técnico em Informática. Para ele, esse é um momento especial de rever os ex-alunos, de perceber que eles conseguiram alguns objetivos que estavam registrados nas cartas.

“Eles passavam o dia na escola. Tinham nove aulas por dia. Na época, eu era professor em três disciplinas, incluindo as de artes. Lembro que fazíamos várias ações criativas. Eles faziam muito teatro, dança…”, conta nostálgico.

A professora universitária Júlia Rocha diz que não lembra muito bem o que havia escrito na carta, mas pontua dois desejos contidos nela: trabalhar na área da docência e fazer mestrado e doutorado. O sonho foi realizado.

“Fazia muito tempo que não os via. Então está sendo muito bom esse encontro. Isso fora estar vendo cada um deles bem pessoal e profissionalmente. É muito gratificante. Na época do ensino médio, cada um pensava de um jeito para seguir uma vida. E a vida mudou completamente”.