Donos de abrigo são presos suspeitos de torturar e amarrar idosos
Proprietários se apropriavam de senhas e cartões de idosos, conforme investigação. Uma das vítimas, de 88 anos, descreveu aos prantos, na delegacia, a situação de ser amarrado e ameaçado de morte
21:38 | Ago. 16, 2024
Um casal, de 23 e 27 anos, foi preso suspeito de amarrar e torturar internos de em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), no Conjunto Ceará, em Fortaleza. De acordo com as investigações da Polícia Civil, eles ainda usavam os cartões de benefícios dos idosos para fazer transferências e empréstimos em nome das vítimas. As famílias pagavam entre R$ 1.500 e R$ 2 mil reais para que os idosos morassem no local.
A investigação, feita pela Delegacia de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência, cumpriu mandado de busca e apreensão nesta sexta-feira, 16, após a prisão dos proprietários, no dia 5 de agosto.
A delegada Jeovânia Holanda relata que a denúncia foi feita por meio de familiares. Após as investigações, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) e a Justiça concederam as ordens judiciais para as respectivas prisões e os mandados.
O espaço funcionava há aproximadamente cinco meses, com três quartos, e acomodava 10 idosos, entre eles pessoas com deficiência. Conforme a delegada, as marcas da violência psicológica deixadas nas vítimas eram perceptíveis durante os depoimentos. Jeovânia descreve o relato de um senhor de 88 anos.
"Ele está abalado e no momento do depoimento não parava de chorar. A família o visitava regularmente, mas ele só teve coragem de relatar tudo nas últimas visitas. Por dois meses, ele sofreu pressão psicológica para facilitar as idas ao banco", relata a delegada, descrevendo o que o aposentado de 88 anos contou sobre a ida a instituições financeiras para fazer os empréstimos.
O estabelecimento era particular e as mensalidades variavam entre R$ 1.500 e R$ 2.000. "É importante esclarecer à sociedade a cautela que deve ser empregada no momento de internar um idoso, uma delas é a violência patrimonial. Era exigido, no momento da internação, que deixassem o cartão de benefício e a senha. Isso não pode acontecer. Tudo ficava com os proprietários. Eram feitos saques, transferências e empréstimos no nome dos idosos", detalha a delegada.
O espaço, conforme ela, era inadequado. A estrutura não oferecia conforto e os idosos dividiam espaço com pessoas com deficiência mental. A titular da Delegacia de Proteção ao Idoso e à Pessoa com Deficiência afirma que, para internar uma pessoa com problemas de saúde mental, é necessário o parecer de um psiquiatra, que designa o tipo de local para onde a pessoa deve ser encaminhada.
A delegada disse ainda que a instituição era clandestina e não possuía fachada ou qualquer tipo de identificação externa. De acordo com a delegada, o lugar era apresentado aos familiares por pessoas que conheciam alguém que estava internado ou que sabiam da existência do lar. Na lista de Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) de Fortaleza, não consta qualquer lar no bairro Conjunto Ceará.
O POVO apurou que os presos são Cley Jefferson Cavalcante Filho e Thalia Oliveira dos Santos. O processo está sob segredo de Justiça. As vítimas foram encaminhadas para o convívio com familiares e para outros estabelecimentos.
Entre o material apreendido durante os mandados de busca estão livros, medicamentos e seringas, que devem subsidiar as investigações do caso.
Outros casos
Em 25 de outubro de 2019 o Ministério Público do Ceará (MPCE) pediu à Justiça a interdição judicial da Casa de Repouso São Gabriel, em Fortaleza. A primeira solicitação à Justiça foi realizada no dia 25 de setembro e teve com base relatórios elaborados pela Secretaria de Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHS).
O promotor de Justiça Eneas Romero, em entrevista ao O POVO, explica que o Ministério Público fiscaliza as instituições de permanência para idosos e outras unidades como instituições de saúde, inclusivas e de pessoas com deficiência. "Se for um lar que tenha ilegalidades ou se for clandestino, uma vez verificadas, as irregularidades podem ser corrigidas e se for um caso mais grave pode resultar no fechamento", informa o promotor.