Voo 2283: médica que cresceu em Fortaleza viajava para congresso

Vida de Arianne Risso, uma das 62 vítimas em queda do avião da VoePass, é relembrada com carinho pela mãe e a tia em Fortaleza

O apartamento estava silencioso e, na união dos familiares e amigos, uma figura central fazia falta: Arianne Albuquerque Estevan Risso A médica de 34 anos, que cresceu em Fortaleza, foi uma das vítimas do voo 2283, que saiu de Cascavel, no Paraná, com destino à Guarulhos, em São Paulo, na sexta-feira, 9.

A cearense estava a bordo do voo operado pela VoePass para participar de um congresso médico em Curitiba. Ela e a colega Mariana Comiram Belim saíram de Cascavel, onde trabalhavam, para o evento promovido pela farmacêutica AstraZeneca. O congresso foi cancelado após a confirmação de suas mortes.

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“A Arianne era uma menina doce, meiga, era muito esforçada e vivia para estudar. O sonho dela era ser médica, desde os 9 anos de idade ela já pensava em ser”, começa a tia, Rosângela Albuquerque, embalada pelo barulho discreto da televisão ao fundo.

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Rosângela compartilha o carinho pela sobrinha com voz firme, embora os olhos ameacem marejar vez por outra, quando começa a falar sobre a proximidade com Arianne, filha única da irmã. “Acompanhei toda a evolução dela na faculdade, quando ela viajou, quando fez o vestibular, quando passou.”

A faculdade de Medicina, em Fernandópolis, município no estado de São Paulo, era particular e a tia relembra o esforço da mãe de Arianne, trabalhando para que a filha conquistasse o seu sonho de infância. “Ela (Arianne) era sempre muito desempenhada, sempre estava ganhando destaque.”

Antes de iniciar a sua saga acadêmica em São Paulo, Arianne Risso foi estudante do Colégio Master, em Fortaleza, capital do Ceará, de 2004 a 2007. Mais uma vez, é lembrada como uma estudante excepcional em nota emitida pela instituição.

"Ela se destacou não apenas por seu desempenho acadêmico brilhante, mas também pela luz que irradiava em cada ambiente que frequentava. Sua generosidade, bondade e empatia deixaram marcas profundas em todos que tiveram a honra de conhecê-la", exibe a publicação da escola em rede social.

Arianne Risso: a memória de uma mãe

Quando Fátima sai de seu quarto e é questionada sobre as lembranças que tem da filha, ela suspira e responde, com voz rouca: “É só o que ficou”. Ao lado de um móvel com bibelôs de casinhas e porta-retratos que exibem momentos de Arianne, ela começa a recordar.

"Desde que ela nasceu, todos os dias eu dizia: ‘tenho que ser boa, porque Deus me deu o maior prêmio’. Não existe ninguém perfeito, mas ela era a própria perfeição em tudo"

Fátima, mãe de Arianne Risso, médica que morreu na queda do voo 2283

Quando Arianne decidiu seguir o caminho da Medicina, explica Fátima, o motivo era um: servir. O seu desejo era trabalhar com pacientes terminais e, como residente de Oncologia Clínica no Hospital do Câncer de Cascavel (Uopeccan), realizou seu objetivo.

“Ela estava numa alegria porque ia poder, agora em novembro, passar oito dias (em Fortaleza). E para ela, oito dias de férias era uma coisa grande, porque a vida dela eram 12 horas dentro do hospital e depois estudava mais cinco horas, direto”, completa.

A notícia também havia animado a matriarca, que preparava o apartamento para a chegada da filha.

A mãe combinara com Arianne que a avisasse sempre que fosse viajar, mas, em uma de suas últimas ligações, quando a filha desligou, o hospital solicitou a presença da médica e outra colega para um congresso.

“Eu estou sempre alegre, sempre fazendo barulho, só alegria. E quando chegou na quarta-feira eu sentei ali e eu disse: ‘gente, eu tô bad (mal), nunca tive isso, tô mal’”, relembra.

Casada há sete anos com Leonardo Risso, a médica esperava o final de sua residência — a mãe completa que “faltava oito meses só” — para começar a ter filhos.

Outro aspecto que chamava a atenção de quem conhecia Arianne era sua relação com a religião. “A vida dela era igreja, servir as pessoas e estudar”, indica a tia, Rosângela.

"A gente tá confortada porque é muita mensagem no Facebook, no Instagram, muitos médicos, pessoas da comunidade, filhas e maridos (dos pacientes)"

Rosângela, tia de Arianne Risso, uma das vítimas do voo 2283

Antes de saírem rumo ao aeroporto, Fátima, que veste branco, decide explicar o motivo para estar usando um batom vermelho: a filha gostaria de vê-la assim, bonita.

Arianne Risso: entre reencontros e despedidas

De acordo com conversas com o genro, Fátima explica que a companhia aérea presta auxílio, como assistência psicológica e pagamento as passagens para que a família possa se reunir. Porém, ainda não sabe os detalhes e aguarda chegada em São Paulo para receber mais informações.

O sepultamento deve acontecer em Fernandópolis, cidade em que Arianne se formou, começou sua carreira e onde possui diversos amigos.

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