Em homenagem a brigadistas, prédio de Fortaleza recebe mural com tinta feita de cinzas de queimadas florestais

As tintas foram produzidas ao longo de 2021 pelo artista Mundano. Ele fez uma expedição por todo o Brasil para coletar o material e vivenciar o dia a dia dos brigadistas

11:15 | Ago. 09, 2024

Por: Gabriel Damasceno
PINTURA de mural em homenagem a brigadista florestais, no bairro Cais do Porto (foto: Matheus Souza)

Um prédio do conjunto residencial Alto da Paz, localizado no bairro Cais do Porto, em Fortaleza, ganhou um mural de graffiti na terça-feira, 6, em homenagem aos brigadistas florestais que combatem as queimadas no Brasil. As tintas utilizadas na obra foram feitas a partir das cinzas de florestas queimadas no País.

A ação faz parte do Festival Paredes Vivas - Edição Cinzas da Floresta, que está desenvolvendo ações de educação artística e socioambiental em cinco capitais do Brasil: Campo Grande, Fortaleza, Goiânia, Belém do Pará e São Paulo.

"O trabalho dos brigadistas, muitas vezes, é um trabalho invisível. A gente escuta falar do fogo, mas não escuta falar quem controla ele. Então, com o projeto, a gente quer trazer luz aos brigadistas florestais e incentivar as pessoas a valorizarem o trabalho deles", destaca Bea Mansano, produtora executiva do festival.

As tintas foram produzidas ao longo de 2021 pelo artista Mundano. Ele fez uma expedição por todo o Brasil para coletar o material e vivenciar o dia a dia dos brigadistas. Parte do processo de fabricação das tintas foi registrado no documentário "Cinzas da Floresta", que será exibido para alunos de escola pública.

"A gente entende que a arte é uma ferramenta de comunicação e transformação. Através de pinturas, murais, que também estão sendo realizados em escolas, e oficinas, a gente [consegue] usar as cinzas como uma ferramenta de comunicação”, pontua Bea.

“A transformação começa por aí, com a comunicação. Não só com a temática, mas também com o material. Quando a gente fala das cinzas, a gente fala de árvores queimadas, dos animais, de um monte de vida que foi perdida ali", continua.

De acordo com Dinha Ribeiro, artista responsável pela obra, o mural levou dois dias e meio para ser concluído. “Todos [os desenhos] foram baseados em brigadistas reais que estão realmente fazendo a linha de frente, se dedicando e abdicando de suas vidas para uma coisa que é tão importante para a gente: a natureza."

"Foi a partir desse trabalho que eu entendi o quão importante é a gente também ter outros conhecimentos. [As queimadas] Também nos influenciam. Percebi o quanto é importante levar essa questão ambiental para lugares que não [sofram] diretamente com as situações. É importante a gente estar por dentro de tudo", adiciona.

Além dos murais, o festival também realiza oficinas de arte e educação socioambiental para alunos de escolas públicas. As aulas ocorrem em dois dias: na sexta-feira, 9, e no sábado, 10. Parte das atividades são na EEMTI Matias Beck, localizado no bairro Vicente Pinzón.

"No primeiro dia, a gente exibe e [debate] o filme 'Cinzas da Floresta'. Um momento para a gente se conhecer, conhecer o projeto e já pensar em algumas artes para produzir no sábado", explica Gabriel Pig, artista visual que será responsável pelas atividades. Berim, outro artista, também vai participar da ação.

No primeiro semestre de 2024, o Brasil bateu recorde de queimadas. Foi o maior número de incêndios registrados desde 1988, quando o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) iniciou o monitoramento.

De acordo com dados da última Coleção MapBiomas Fogo, lançada em 18 de junho, um em cada quatro hectares do Brasil pegou fogo nas últimas quatro décadas. Em 2023, a área queimada no País foi equivalente à metade do território da Bélgica. Na caatinga, bioma predominante no Ceará, 3.242 focos de queimadas foram registrados. O número é 147% maior do que nos anos anteriores.