"Assim como fez com meu filho pode fazer com outros", diz mãe sobre instrutor de caiaque

Dona Márcia de 44 anos perde o segundo filho adolescente

22:12 | Ago. 06, 2024

Por: Jéssika Sisnando
O adolescente de 15 anos de idade será sepultado no cemitério Bom Jardim, em Fortaleza (foto: arquivo pessoal )

Dona Márcia Lima trabalha como doméstica, tem 44 anos de idade e é mãe de sete filhos. Ela enfrenta a dor de perder o segundo filho de forma precoce. A primeira perda aconteceu no dia 26 de agosto de 2017, quando teve o menino de 16 anos morto no dia do próprio aniversário. Prestes a completar sete anos, ela passa pela dor e o luto novamente, desta vez, com Adersson de Freitas Nascimento Filho, de 15 anos, vítima de afogamento. 

Márcia relata que o garoto passeava com um adulto, sem colete e foi orientado a pular na água e seguir para a praia, mesmo sem saber nadar. A mãe, que estava no local, descreve que Adersson estava na Praia do Naútico no domingo, 28, com amigos de infância, todos moradores do bairro Mondubim, em Fortaleza.

De acordo com a versão da mãe, que testemunhou o caso, os meninos foram convidados pelo instrutor de caiaque, que pediu para os rapazes ajudarem a empurrar o barco. Os garotos embarcaram e, ao chegar em alto mar, o homem teria ordenado que o grupo pulasse na água e fosse até a praia nadando. O filho de dona Márcia não sabia nadar e teria falado isso para o rapaz, no entanto, não teve auxílio do homem.

Adersson cursava o 1º ano do Ensino Médio e possuía uma rotina de ir a escola todos os dias e frequentar a escolinha de futebol. Desde o domingo, 28, dona Márcia ficava na praia a procura de notícias sobre o resgate do garoto, que ficou desaparecido até esta terça-feira, 6. O corpo do rapaz foi encontrado vítima de afogamento e encaminhado à sede da Perícia Forense, onde passou por reconhecimento.

O instrutor foi preso em flagrante no dia do afogamento no 2º Distrito Policial, mas foi colocado em liberdade durante audiência de custódia ocorrida na segunda-feira, 5. O juízo entendeu que o rapaz não possuía antecedentes criminais e comprovou e endereço fixo. Diante disso foi submetido a medidas cautelares.

"Ele levou os meninos para mais de 300 metros água a dentro. Quando estava em alto mar ele mandou pular, mas o meu filho não sabia nadar. Teve um surfista que foi tentar ajudar e com 50 metros de distância meu filho afundo e não subiu mais. Foi uma irresponsabilidade grande", afirma.

Dona Márcia descreve o adolescente como um ótimo filho, com um futuro pela frente. "Ele nunca repetiu de ano e dizia que quando estivesse no terceiro ano iria fazer um curso profissionalizante. Eu tinha feito um pedido de chuteira para ele e sexta-feira ia chegar. É mais uma perda. É o segundo filho que perdi", relata.

Os jovens que participavam da escolinha de futebol e do colégio realizaram homenagens ao Adersson no bairro Monbudim na última segunda-feira, 5. O sepultamento dele ocorre no cemitério Bom Jardim, em Fortaleza, nesta quarta-feira, 7. 

A mãe se entristece ao comentar que não teve forças para realizar o reconhecimento na sede da Perícia Forense e que o filho não poderá ter um velório em razão das condições financeiras da família. Ela diz que gostaria de levar o corpo para ser velado em casa, mas que não há como realizar os procedimentos que seriam necessários. 

"Não subi para reconhecer, foi uma colega minha que está sempre comigo nos momentos difíceis, a tia dele. Eu não tive coragem. Agora não vou mais ver ele, pois o corpo está entrando em decomposição, será feita a necrópsia e não temos condições financeiras de pagar o embalsamento. por mim levaria para casa, mas o perito disse que não tem como devido o odor", lamenta dona Márcia.

No depoimento do homem à Polícia Civil, obtido pelo O POVO, ele informou que é vigilante e instrutor de canoa. E ainda disse que estava com dez clientes na canoa. O homem negou que solicitou ajuda aos garotos ou que os autorizou a subirem na canoa.

O homem afirmou que os adolescentes afirmaram que sabiam nadar e que olhou para os adolescentes duas vezes, mas que depois passou a dar atenção aos clientes. E que durante o passeio com os clientes, um outro instrutor informou que um dos meninos não havia chegado à praia. Ao ser questionado sobre o uso dos coletes, o homem afirmou que os coletes são entregues a clientes antes de chegar na canoa.

Atualizada às 14h12min