Residencial no José Walter registrou 38 homicídios em quatro anos

Maioria das mortes tem relação com disputa entre facções que agem na região. Expulsão de moradores também registrada. Chefes desses grupos criminosos foram presos neste ano

O residencial Cidade Jardim II, localizado no bairro José Walter, em Fortaleza, registrou 38 homicídios entre 1º de fevereiro de 2020 e 16 de maio de 2024, conforme levantamento da Polícia Civil. De acordo com investigações da 9ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), a atuação de facções criminosas concorreu para a ocorrência de “grande parte” desses homicídios.

O Cidade Jardim II registra a atuação da facção Comando Vermelho (CV), rival de uma outra organização criminosa, a Guardiões do Estado (GDE), que age no condomínio vizinho, o Cidade Jardim I. No último dia 6 de março, criminosos ligados ao CV teriam tentado matar um morador do residencial em uma sessão do chamado “tribunal do crime”.

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Os faccionados acusavam o homem de um suposto furto de latas de tinta, mas a Polícia Civil apurou que, na verdade, foi a suspeita de que a vítima colaborava com as forças de segurança que levou à tentativa de homicídio.

A vítima foi espancada e levada até um rio, para onde foi jogada. Após isso, os criminosos ainda atiraram contra ele, atingindo, porém, somente suas pernas. Carregado pela correnteza por cerca de 150 metros, a vítima foi resgatado por um homem, que colocou uma lona sobre seu corpo até a ambulância chegar, de forma que os faccionados não vissem que ele sobreviveu.

O socorro chegou e o homem foi encaminhado a uma unidade de saúde. De acordo com a investigação do DHPP, um dos responsáveis pela tentativa de homicídio, identificado como Paulo Henrique Pereira de Oliveira, foi morto três dias depois, justamente, por não ter tido êxito na execução.

No último dia 24 de maio, o homem apontado como chefe do CV no residencial foi preso preventivamente. Miguel Cleones Sousa Rodrigues, conhecido como MG, é réu pela tentativa de homicídio registrada no dia 6 de março, e também pelo assassinato de Francisco Tiago dos Santos, crime ocorrido em 9 de outubro de 2022 na Cidade Jardim II.

Uma testemunha afirmou à 9ª DHPP que Miguel foi o mandante de diversos homicídios no residencial, mas, como era monitorado por tornozeleira eletrônica, ele evitava aproximar-se dos locais onde as execuções eram praticadas. Miguel ainda procuraria, afirmou a fonte, ficar em locais com câmeras durante os assassinatos, a fim de que sua imagem fosse registrada e ele tivesse um álibi.

“Conclui-se o presente relatório constatando-se a extensa presença da organização criminosa COMANDO VERMELHO no Condomínio Cidade Jardim II, a qual conforme aponta as investigações, a liderança nessa região seria o indivíduo identificado como MIGUEL, vulgo ‘MG’, os quais têm sido autores na prática de diversos homicídios naquele local bem como tem aterrorizado a população, se instalando um verdadeiro ‘estado paralelo’ e criminoso no local”, afirmou em relatório policial a 9ª DHPP.

Além de Miguel, outros suspeitos de integrar o CV e ter envolvimento nos homicídios foram presos nos últimos meses, a exemplo de Flavio Italo Tome de Sousa e Lucas Moreira Rosa.

Expulsões de moradores também seriam ordenadas por facções no residencial

Além de homicídios, o conflito entre o CV do Cidade Jardim II e a GDE do Cidade Jardim também resultou na expulsão de moradores do residencial. Uma investigação da Delegacia de Combate às Ações Criminosas Organizadas (Draco) apontou que, em agosto de 2023, quando o Cidade Jardim V foi inaugurado, as duas facções fizeram uma espécie de corrida pelo controle da localidade.

À época, O POVO chegou a mostrar que pichações foram feitas nos edifícios recém-entregues determinando a saída de moradores das residências. O conflito prosseguiu pelos meses seguintes; somente entre 2 e 9 de janeiro de 2024, seis ocorrências foram registradas no Cidade Jardim V, conforme a Draco. Foram três casos de ameaça a moradores/violação de domicílio, um de pichação, outro de lesão corporal e mais um de "pessoa/situação suspeita".

Em 6 de fevereiro de 2024, Francisco Levi Evangelista, conhecido como Chinês, foi preso pela Draco suspeito de ocupar cargo de liderança na GDE do Cidade Jardim I. Ele é suspeito de praticar homicídios e determinar a expulsão de moradores na região, afirma a investigação.

"Nessa esteira, urge destacar os depoimentos das Testemunhas Sigilosas 1 e 2 (...) as quais afirmaram que a região dos condomínios Cidade Jardim está em guerra entre as facções GDE e CV; Que no Cidade Jardim I predomina a GDE, no Cidade Jardim II predomina o CV, ao passo que no Cidade Jardim V, as facções estão em guerra entre si; que em decorrência dessa guerra vários homicídios têm ocorrido; Que os integrantes da GDE estão tentando tomar o Cidade Jardim II e V, estão expulsando moradores e cometendo uma série de crimes", consta em denúncia do Ministério Público Estadual (MPCE) ofertada contra Francisco Levi em 21 de fevereiro. Ele aguarda julgamento.

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