Exposição de bicicletas antigas em Fortaleza agita entusiastas

Colecionadores e entusiastas se reuniram para apreciar e relembrar o passado, além de vender e comprar bicicletas; exposição estadual existe desde 2019

Semanalmente, a Cidade da Criança, no Centro de Fortaleza, reúne ciclistas, crianças e famílias para atividades de lazer com pedal. Neste domingo, 28, porém, o clima foi de nostalgia e memória: colecionadores e entusiastas formaram a quinta edição da Exposição Estadual de Bicicletas Antigas.

Além de apreciar e relembrar o passado, as pessoas presentes puderam vender e comprar modais. “Temos bicicletas de todos os tamanhos aqui hoje. Aro 10, 20, 26, 28… Trouxeram bicicletas de família, nunca restauradas”, conta João Júlio Sombra, de 62 anos, um dos três fundadores do evento.

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Segundo ele, a exposição estadual existe desde 2019. Mas, sucede outros encontros regionais, em cidades como Limoeiro do Norte, a 198,88 quilômetros (km) de Fortaleza, e Morada Nova, a 167,62 km da Capital.

Na visão do administrador, a “raiz” do colecionismo “está nos nossos ancestrais, nossos pais, que tinham o costume de guardar as coisas”. Ele narra que, assim que começou a ter recursos, passou a restaurar bicicletas.

O pai de João Júlio levava ele e os irmãos para a escola em uma bicicleta que foi posteriormente reparada e estava na exposição deste domingo. O ciclista restaurou também uma monareta que teve na pré-adolescência e uma Monark que utilizava para se locomover até o local onde estagiava, já adulto.

Do gosto por restaurar e manter, veio a conexão com outros colecionadores. João Júlio explica que começou a formar amizades na busca por peças de bicicletas que restaurava.

“Temos grupos grandes de pessoas que curtem carros antigos, assim como bicicletas antigas. Uma coisa puxa a outra. São os amigos e antigos. É isso que nos move”, conta o integrante do Museu do Automóvel do Ceará.

Por enquanto, a proposta da exposição não envolve o ato de pedalar. “Em Portugal, fazem passeio com bicicletas antigas, roupa de época. Dá um trabalho danado, mas, quem sabe, algum dia a gente faz aqui”, analisa João.

Isso não impossibilitou o passeio pela praça com bikes próprias e mais atuais. O momento foi propício para Régis Lima e Milson Maciel, amigos que integram um grupo de ciclistas. Para o primeiro, estar na exposição “lembra nossa infância, o tempo para trás”. Informado sobre o evento por colegas, ele diz que compareceu para “relembrar e reviver o que era da nossa época”.

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Já Maciel mantém uma rotina mais leve de pedalo porque está recém-operado de um cisto no joelho direito. A situação não o impede de traçar rotas menos longas e complexas e apreciar o ciclismo. “Viajar de bicicleta é adrenalina. Leva chuva, sol. Mas isso que é o maravilhoso. O conforto está no chegar”, diz.

O entusiasmo pelas bicicletas e pelo ato de pedalar é repetido pelo público da exposição e entrelaçado à lembrança de tempos anteriores. É o caso de Fábia Cavalcante, 49.

A motorista de aplicativo narra que a exposição e “principalmente” as monaretas a fizeram “relembrar, porque minha tia sempre ia me pegar na casa dos meus pais com uma monareta”.

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“Aprendi a pedalar com 8 anos. Não tinha bike, era a bicicleta do meu primo. E a gente aprendia em uma descida. Desde então, sempre ando de bike”, conta a moradora do Demócrito Rocha. “Além de você voltar ao passado, a bicicleta quase sempre está associada a coisas boas, na memória. É muito bom”.

Fábia finaliza que “usar coisas antigas não quer dizer que a gente está ultrapassado, quer dizer que a gente está preservando o que foi bom”. O ideal é compartilhado pelo colecionador João Batista Guimarães, 74. Para ele, o ato de colecionar “realmente bate muito de frente” com a modernidade.

Ele lembra que foi tachado de “doido” durante a construção de seu museu particular — João e a esposa custearam um novo andar na residência onde moram, em Morada Nova, para armazenar a coleção dele.

“Interior todo mundo se conhece, né? As pessoas diziam: ‘Tem doido para tudo. O cara se aposenta e vai levantar um prédio para colocar porcaria, coisa velha’. É dessa maneira que somos vistos. Entra em conflito com essa ideia de que tudo que é velho tem que ir para o lixo, para a reciclagem”, explica.

'Apaixonado' por Halley

O primeiro contato com bicicletas, que João Batista lembra, foi na infância. A família dele era de agricultores de Limoeiro do Norte. O pai chefiava 20 a 25 homens que guardavam suas bicicletas na sala da casa da família. João recorda que ele e os irmãos aproveitavam para “mexer” nas bicicletas.

“A gente ligava o dínamo, rodava o pedal… Estávamos começando a estudar, então a gente lia, soletrava as palavras escritas nas bicicletas. Fui me familiarizando a partir daí, comecei a aprender as marcas, os tipos”, diz.

Mais de uma vez, João enfatiza sua “paixão” pela marca Halley. Na adolescência, ele lembra, tinha uma bicicleta da marca e, quando a família se endividou para conseguir matriculá-lo em um internato, ele vendeu o transporte por 120 cruzeiros — a dívida era de 100 cruzeiros.

“Na véspera do fim das férias, fui para a feira, decidido a vender a bicicleta. Onde eu encostava a Halley, o pessoal perguntava se era para vender, porque era muito bem cuidada. Na feira, um homem só perguntou quanto era e tirou na hora o dinheiro da carteira”, conta o limoeirense.

“Voltei para casa quase chorando, com pena da minha Halley. Cheguei em casa, dei o dinheiro para minha mãe. Sobrou 20 cruzeiros e ela disse ‘esse valor você leve na viagem de volta para o colégio’”, acrescenta.

João Batista conclui que, após vender a bicicleta, passou tempo significativo em busca de readquirir uma Halley — e só conseguiu isso 17 anos depois. “Quando encontrei, já tinha várias de outras marcas e só continuei colecionando”.

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