Pacientes e funcionários fazem protesto contra retorno do Hospital da Polícia Militar; entenda

A mudança foi anunciada pelo governador Elmano de Freitas em julho de 2024. Pacientes protestaram em frente ao Hospital

Pacientes e funcionários do Hospital José Martiniano de Alencar (HMJMA), localizado no Centro de Fortaleza, protestaram nesta sexta-feira, 26, contra a reabertura da unidade como Hospital da Polícia Militar do Ceará (HPM/CE). Segundo os manifestantes, que se concentraram na frente do Hospital, a decisão do Governo do Ceará prejudicaria os usuários do SUS, pois os pacientes seriam transferidos para a fila de espera de outros hospitais, sobrecarregando a rede hospitalar do Estado.

A informação da mudança foi divulgada pelo governador do Estado, Elmano de Freitas (PT), em evento realizado no dia 28 de junho. Com a retomada das atividades do Hospital da PMCE no prédio, os atendimentos no prédio serão voltados exclusivamente para servidores militares e seus familiares.

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O Hospital da Polícia Militar foi fundado em 1939. Em 2011, a instituição passou a se chamar Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar e passou a integrar a Secretaria de Saúde estadual (Sesa). A unidade conta com atendimentos de obstetrícia, maternidade, além de centro cirúrgico e de exames de imagem. ⁠De 2012 até dezembro de 2023, foram realizadas mais de 27 mil cirurgias no local.

O POVO compareceu à manifestação na manhã desta sexta-feira, 26. Com cartazes, os antigos e atuais pacientes, grande parte oriundos do interior do Estado, reinvidicaram que o Hospital continue com os atendimentos à população geral.

Lúcia Holanda, 65, é moradora de Icapuí, distante 201 km de Fortaleza. Ela conta que em 2020 procurou atendimento médico no HMJMA para tratar hérnia de disco. Contudo, por conta da obesidade, ela recebeu a indicação de emagrecer antes de fazer a cirurgia.

“Na época eu estava com 103 kg. Eles então me perguntaram se eu queria fazer a cirurgia bariátrica e eu aceitei. Aqui tive todo o acompanhamento necessário, com psicólogo, nutricionista. Se eu não tivesse feito a bariátrica, minha hérnia teria estrangulado”, relata ela.

Quatro anos depois, ela teme que o hospital encerre os atendimentos SUS, já que a cada seis meses retorna a unidade para exames e está na fila para conseguir uma cirurgia reparadora. “Estamos sendo tratados pelo SUS, que é universal, e querem tirar isso de nós. Para onde vamos? Temos consultas marcadas, cirurgias necessárias”, reclama Lúcia.

Já Freitas Junior, 29, é pai da pequena Ivy Maitê, de dois meses. Ele e sua companheira, que são de Aquiraz, na Região Metropolitana, fizeram o parto da filha no HMJMA. “Queríamos continuar o atendimento dela aqui até os dois anos. A gente vem pra cá porque sabe que é bom e tirar assim da gente nos deixa inseguros”, conta o pai.

Com mais de 720 funcionários, entre servidores públicos, cooperados e terceirizados, a mudança de administração também intimida os trabalhadores do local. Conforme Daniela Nascimento, 48, enfermeira coordenadora do setor de higienização e transporte, a mudança para rede Sesa foi benéfica para a sociedade.

“Os policiais têm um plano de saúde próprio. Quando acontece algo relacionado a profissão, o IJF prontamente os atende. Eles têm uma certa prioridade onde quer que cheguem. Na gestão passada, a mudança foi motivo de orgulho. Agora recebemos essa notícia. A população perderia muito, assim como os profissionais”, diz a enfermeira.

Em nota, a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) ressaltou que "os pacientes do HMJMA continuarão sendo devidamente acompanhados nas demais unidades da rede".

Ainda de acordo com a Sesa, estão em andamento as tratativas com a Polícia Militar do Estado (PMCE) para cumprimento da diretriz governamental que prevê o retorno da estrutura física da unidade à corporação.

"Atualmente, a Sesa e a PM estão em diálogo para definir a formação da comissão de transição, o cronograma de atividades, entre outros assuntos", completa.

Associações médicas se posicionam contra volta do Hospital da Polícia Militar

Associações de profissionais da medicina do Ceará, como a Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares (RNMP), a Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia (ABMMD), e o Coletivo Rebento, se pronunciaram contra a proposta.

“Essa mudança não só representa uma redução na oferta de atendimentos, como também compromete a referência educacional e assistencial que o hospital representa. Trata-se de um retrocesso inaceitável, que prejudicará irremediavelmente a população e o sistema de saúde”, disseram, em nota pública.

Atualmente, o HMJMA é também é campo de ensino para o internato das faculdades de medicina, assim como campo de estágio para estudantes de graduação de enfermagem, técnico de enfermagem, farmácia, nutrição, odontologia, fisioterapia, psicologia e serviço social.

Atualizada às 14h05min

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